Páginas

segunda-feira, abril 27, 2009

Os arautos do miserabilismo

A inquietação mundial não pára. Saltamos da pandemia das aves para a febre dos porcos, da peste financeira para a recessão económica, mal tínhamos saído do aumento brutal dos combustíveis... a globalização não nos traz paz e sossego e percebemos que não estamos só em rede para o bem, passamos a estar agarrados em rede para a tragédia.

A crise internacional que se sobrepôs à crise nacional- que cresce e se aloja como um vírus desde os tempos da decadência do cavaquismo- parece servir para servir de álibi ao pior que alguma vez se fez no país.

E, agora num remake do que foi o famigerado PREC, aparecem umas carolas iluminadas, ditando teorias que já não são as neo-liberais de génios da gestão. como João Rendeiro, mas de um teor justiceiro, pretendendo castigar os ricos mais fracos, os gestores que durante uma década foram a base de sustentação de um regime injusto, feito para criar novos-ricos e ganhar à fartazana em engenharias financeiras, estudadas e aconselhadas em universidades tão prestigiadas como a Católica. Verdade.

A moda económica passou a ser, não já a dinâmica e a lei do mercado, mas a abstinência salarial, uma receita prescrita por uns endireitas armados em génios, ou por agentes do capitalismo ferido, que mantêm essa máxima: lucro máximo, para investimento e risco minimos.

Há pouco na SIC-N um desses mágicos, um tal Vítor Bento especialista em cartões multibanco, defendia através de um gráfico em papel A4 (voltámos ao antigo!) que os nossos ordenados tinham de descer. Não explicava se o dele também, e de um exército de gestores deste país que ganham dezenas de milhares de euros por mês, mais carros topo de gama, cartões de crédito, dividendos e outras mordomias mais ou menos secretas. Não explica porque há empresas onde a diferença do salário mais baixo para o mais alto chega a rondar as vinte vezes, e onde ao lado dos carros de seis cilindros da administração há funcionários que têm de trazer a comida de casa numa marmita porque nem podem comer na cantina da empresa.

Portanto: esta nova casta de iminências que têm um inexplicável tempo de antena nas televisões e nos jornais, pagos pela publicidade que nós consumimos, têm já um objectivo claro: espalharem a desgraça, assustarem, para depois iniciarem o processo usado pelos conservadores das cavernas: salários baixos, falta de qualificação, produção medíocre. Querem uma sociedade capitalista de consumidores fracos, no fundo defendem o contrário do que deviam: um capitalismo forte, com vigor e pujança consumista.

O que vale é que a febre dos porcos ainda os vai entretendo.

2 comentários:

  1. O Luiz tem arma?Chiça é cada tiro mais certeiro!
    Bem postado,sim sr.

    L.R.

    ResponderEliminar
  2. Boa descrição do tecido "industrial" do norte de Portugal. E que se está a alastrar para todo o país e também para a classe política portuguesa.

    ResponderEliminar