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quinta-feira, abril 30, 2009

O futuro do fotojornalismo

Desde que vi um porco andar de bicicleta, uma redactora a tropeçar num tripé de amador com uma câmara ridícula aparafusada, querendo ela armar-se em Dziga Vertov, desde que assisti a um cabouqueiro começar a tirar umas coisas que ele considera fotografias (podia achar que eram tijolos) e desde que um Primeiro-Ministro que é no limite engenheiro, ter como portfolio uma obra invejável de arquitectura que ofusca o período mais criativo de Siza Vieira....tudo se tornou possível no mundo das artes e afins.

Como fotógrafo tenho assistido nos últimos tempos a cenas lamentáveis. A confusão que se gerou à volta da ideia de jornalista mochileiro, multimédia, convergente, trolha, estafeta, o jornalista fixe da nova geração, é uma confusão total. Nunca pensei que fosse tão tortuoso e que a confusão se viesse a instalar.
Hoje, respondendo a uma entrevista de uma estudante que está a fazer uma pós-graduação em Ciências da Comunicação, sobre o fim ou não do fotojornalismo, respondia-lhe que isso só depende de os jornais quererem ou não, continuar a apostar na imagem. O mesmo se aplica aos textos, à ilustração e à infografia. É como questionar se a televisão continua a apostar na imagem em movimento.

O que está em causa é saber se os jornais querem ser produtos de excelência, ou simplesmente querem enganar os leitores com produtos desinteressantes e pagarem isso em perdas de audiência.

10 comentários:

  1. Ainda ontem encomendei na Amazon, o Inferno do James Nachtwey e os Trabalhadores do Sebastião Salgado. Adoro fotojornalismo de autor, aquele que consegue mostrar imagens com um conteúdo horrendo, mas com uma estética, enquadramento, composição, etc, tais que as transforma em autênticas obras de arte. Espero que esse nunca morra!

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  2. Luíz
    A Selva está instalada!
    Tudo se sacrifica, (até a vida das pessoas) em função do (LUCRO ALARVE E DESPUDURADO). Porque esta "casta" de xicos-espertos, ditos gestores, não têm um pingo que seja de cultura. Por isso impingem aos leitores LIXO POR CÁVIAR!
    E o que mais me entristece é que isto aconteça precisamente numa altura em que abundam em Portugal EXCELENTES FOTOJORNALISTAS!!!
    Já de gestores...(!?) Estamos conversados.
    1 abraço
    Gaspar de Jesus

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  3. enquanto se quiser coisas de qualidade e bem feitas o fotojornalismo não morre.

    estará tudo o que é de qualidade condenado por coisas descartaveis e de mediocre qualidade?

    enfimmmm

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  4. Pois é Garpar de Jesus, a selva existe desde muitos anos atrás... ou não te lembras. Como conseguiram alguns ser fotojornalistas e outros não. Pelo menos alguns continuaram de coluna direita. Leal. Só para recordar. Isto de ter sido fotógrafo do "O Diário" tem que se lhe diga. Alguns passaram de comerciantes a fotojornalistas. Não é que sejam mais fotógrafos mas por vezes o fotojornalismo está para lá do que se faz por cá. Um abraço

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  5. "Não é que sejam mais" queria dizer maus em vez de mais. E já agora acrescento que os problemas do nosso fotojornalismo estão directamente ligados ao que se considera jornalismo, neste jardim à beira-mar plantado

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  6. E o que querem efectivamente os media?

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  7. Numa conversa com o Adriano Miranda do publico, dizia eu que ainda tinha esperança que um dia isto venha a dar a volta.
    Há-de chegar o dia em os jornais voltarão a ter que apostar na fotografia e na reportagem de qualidade, como única forma de continuarmos a ter jornais.
    Ele concordou.
    Fiquei feliz em ainda haver esperança.

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  8. Esperança?? Só com luta, verticalidade,coerência, capacidade e afirmação de um Jornalismo sério e honesto isso seria possível. E o que querem os media??? Quem? O poder económico traça o perfil do jornal para que se venda, cative os anunciantes, em suma, quem manda como em quase tudo, é quem detem o poder. É quem detem o dinheirinho. Penso que o maior problema é que quem faz jornais já nem sabe o que é JORNALISMO.

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  9. Concordo quase na totalidade com tudo o que antes esta escrito em relacao ao fotojornalismo. Sou fotojornalista já lá vao varios anos e continuo a pensar que o verdadeiro fotojornalismo deve ser feito pelos reporter fotograficos e nao por aqueles que para terem uma ocupacao nos varios orgaos de comunicacao social onde acamparam fazem de tudo para agarrarem um lugar. Mas nao estará o Luis Carvalho a fomentar esses pseudo fotojornalistas com esses cursos/formacao para gente que nao esta minimanente habilitada e que nem sequer vao seguir isso no futuro das suas carreiras? o caseirismo é complcado.

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  10. Sou jornalista há 24 anos e também faço fotografia. Já passei, nos anos 90, pela rádio, e agora estou a dar os primeiros passos com a Internet e o multimédia. Recordo que num dos primeiros cursos do Cenjor, tive como mestre Carlos Gil, na época um dos poucos que se atreviam a fotografar e a escrever... Ele ria-se dessas fronteiras cómodas e desses interditos corporativos e snobs. Mais recentemente, noutro curso sobre jornalismo multimedia, com outro dos meus mestres Luiz Carvalho, aprendi com o seu trabalho de excelente reportagem em vídeo.
    Seja qual for o meio, estamos a falar sempre do mesmo - jornalismo. Depois podemos distinguir entre bom e mau jornalismo. Ou para citar outro mestre que tive na rádio, Fernando Alves, "jornalistas são poucos, o que por aí há mais são simpatizantes do jornalismo..."

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