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domingo, dezembro 14, 2008

A perversa cura da crise

Há semanas o Estado não tinha cheta para nada. Nós contribuintes pagávamos por tudo, nada e mais alguma coisa. De repente o Estado dá avales de milhões à banca, marimba-se no deficit e proclama que afinal o emprego é o único bem verdadeiramente sagrado para cada um de nós. O que desprezou em nome do mercado, abençoa hoje para bem dos falidos capitalistas e aflição daqueles que vivem do trabalho e só sabem fazer isso.
Em semanas, muda a conjuntura e muda a política. Agora Sócrates carrega no acelerador da betoneira, jorra toneladas de cimento para solidificar o país, ergue uma muralha, não de aço, mas de betão.
O crédito que vira a torneira fechada está agora a pingar para empresas que prometam exportar e para bancos cujos presidentes, sócios e amigos, andaram a brincar aos casinos Royal.

Há uma evidência: quem menos dividas tiver melhor sobreviverá. Quem menos jogou na roleta russa da economia virtual melhor sobreviverá. O mesmo se aplica aos particulares: quem tiver trabalho poderá sobreviver à crise e pode aproveitar os juros mais baixos, a inflação mais baixa, criar oportunidades de negócio antes reservadas para as manobras dos oportunistas, ou poupar. Quem se empenhou em créditos e engenharias financeiras não irá ter grande futuro.
Ora, um pais como Portugal só tem de investir agora, mais que nunca, naquilo que lhe traga retorno em exportações para mercados menos afectados pela crise global (África por exemplo) e que saiba aproveitar algum avanço tecnológico, o que até temos conseguido em matéria de serviços e informática, para crescer ou evitar demasiados danos.
Gastar mais dinheiro em betão, estradas portagadas pelos contribuintes, só não criará aquele emprego especial de que precisamos desenvolver, como apenas resolverá o problema do desemprego na construção civil que é maioritariamente de imigrantes. E lá irão ganhar mais uns milhões as Somagues desta vida.
O perigo agora é a cura vir a tornar-se mais gastadora que a crise. Sócrates vê tudo no imediato e o imediato são as eleições para o ano.

1 comentário:

  1. Nem mais. Concordo totalmente. Especialmente nas obras públicas [para estrangeiro ver] que chamam - ainda mais- a mão de obra de fora fazendo com que, a longo prazo, haja mais desemprego [e já se sabe que desemprego -> desespero - > violência/sobrevivência.]

    É o país que temos.


    [€ vai ser reeleito... aposta?]

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