Páginas

terça-feira, dezembro 09, 2008

Os sôtores e as avaliações

Apesar de me considerar um cidadão razoavelmente informado, profissão "oblige", ainda não vi em nenhuma televisão, jornal, ou site de informação, uma explicação prática no que consiste os famigerados testes aos professores. Chegados a este extremo da luta não percebo se, afinal a avaliação que o governo quer impor aos pobres professores é uma monstruosidade funcional, um esquema kafkiano, ou uma avaliação tão falível e injusta como aquela que é aplicada a milhares de alunos, que por vezes perdem a oportunidade de uma vida para não entrarem por uma décima num curso de medicina, por exemplo.

A verdade é que durante anos e anos os nossos sôtores tiveram uma vida airada com 3 meses de férias grandes, mais quinze dias no Natal, outros na Páscoa, mais meia dúzia no Carnaval.
Outra verdade: durante uma vida profissional muitos professores faltaram a seu belo prazer refugiados em atestados fantasmas e artigos quartos, viram as suas carreiras automaticamente actualizadas e desprezaram a nobre arte de ensinar. Os professores comportavam-se como ainda hoje a classe dos juízes: achavam que eram donos dos alunos, dos pais, e que nada nem ninguém podia interferir nas suas aulas, consideradas coutadas invioláveis dos professores.

Não acredito que o sistema de avaliação deste ministério, ou de outro, seja justo e competente,pela simples razão que muito pouca coisa que o Estado faz o é. Sei que no ensino privado os professores trabalham e não há este folclore das avaliações. Há outro tipo de avaliações.
Nesta guerra falta explicar muita coisa ao cidadão comum, como eu, que paga impostos e na hora de pôr os filhos na escola tem de optar pelo ensino particular, pois o oficial está dedicado para aqueles que nada têm ou que escolheram Portugal para pátria de abrigo.

(Quero com isto dizer: só aqueles que infelizmente não podem por os filhos no particular se sujeitam à escola oficial. E que uma grande maioria das escolas oficiais é frequentada por alunos que maioritariamente não falam português. Isto quer dizer também que o Estado tem ignorado, ao contrário da França por exemplo, as escolas para filhos de imigrantes permitindo o ensino da língua de origem, sem que isso signifique marginalização).

Até percebermos quem tem razão, governo ou sôtores, vem o Natal, as férias, e os alunos que se lixem. Aliás se não aprenderem agora podem sempre tirar mais tarde uma licenciatura ao domingo !!!

Esta minha opinião não inclui aqueles professores que deram uma vida ao ensino, que sofrem pelas injustiças a que têm sido votados e por verificarem que, ao fim de muitos anos de dedicação a compensação e o reconhecimento pelo seu trabalho, não contam nem para a memória nem para uma bondade de gratidão.

Os professores queixam-se mas no geral é uma classe mais bem paga do que a maioria dos funcionários públicos, com menos horas de trabalho anuais e que, verdade seja dita, muito pouco fizeram para se organizarem nas suas escolas de forma a torná-las mais eficazes, modernas e amigas dos alunos.Claro que há extraordinárias excepções, que só provam que a forma de as escolas estarem organizadas é muito culpa dos professores e daquelas comissões directivas que há muito deviam ter sido substituídas por directores à séria, escolhidos pelo ministério.

(este post foi acrescentado depois de publicado em primeira mão)

4 comentários:

  1. Este é um exemplo de como a propaganda faz o seu caminho!
    Sou Prof há muitos anos. Tenho anos e anos sem uma falta. Os prof não estão de férias quando os alunos estão em casa.Essa é uma falsa ideia! Quem prepara e faz reuniões? e todo um imenso trabalho burocrático!Sabe... quem faz as matrículas?Quem faz as turmas? Quem faz os exames?quem vigia...quem corrige?Quem elabora muitas das provas?etc...
    Tenho os mesmos dias de férias q qualquer outro trabalhador...sempre na época mais cara, em Agosto, já que não as posso pedir noutra altura...como mts outros trabalhadores... Na verdade,também existem maus profissionais...tal como há maus politicos, maus médicos, maus jornalistas.... Dói-me, sabe, dói-me profundamente ter entregue a minha vida a esta profissão...para agora ouvir dizer que somos uns malandros.....E não comento mais....não vale a pena!!

    ResponderEliminar
  2. Reconhece que não está bem informado, mas tal não o impede de debitar asneiras de alto poiso. Haja bom senso e inteligência! Afinal parece ser mais um em quem a propaganda está a produzir efeitos. Que São Sócrates o proteja. Quando o altar cair não se queixe.

    ResponderEliminar
  3. É curioso como, de um pedaço do último parágrafo desta entrada, se pode deduzir imenso sobre quem a escreveu. Citando: “…na hora de pôr os filhos na escola tem de optar pelo ensino particular, pois o oficial está dedicado para aqueles que nada têm ou que escolheram Portugal para pátria de abrigo.”
    Pergunto eu se estas pessoas assim referidas não têm direito a ter ou dar ao seus filhos o mesmo nível de educação académica que os outros, aqueles que têm muito e/ou nasceram em Portugal.
    Pergunto eu porque motivo os que nasceram em Portugal e são filhos de quem tem muito terão direito pelo nascimento àquilo que o autor desta entrada assim nega aos restantes cidadãos.
    Pergunto eu se o direito à igualdade de oportunidades não está consagrado na Constituição da República Portuguesa, na Carta dos Direitos do Homem e na Carta dos Direitos da Criança.


    Quanto ao resto do texto desta entrada, bem, sugiro que conviva de perto com quem vive de ensinar nas escolas, que indague junto deles e dos seus familiares sobre as tais “grandes férias e/ou tempos livres”. E que depois disso tenha a coragem de, no mesmo espaço e com a mesma frontalidade com que os insultou, lhes pedir desculpa pela sua ignorância!

    Sobre quem faz este comentário sempre digo que durante dez anos dei aulas, melhor, ajudei a aprender. E que se mais tempo não o fiz, com grande pena minha, foi em exclusivo devido à falta de estabilidade material que me era facultada onde o fazia. Apesar disso, ainda hoje lamento ter deixado de o fazer!

    ResponderEliminar
  4. Um post de grande injustiça para com os professores. Rancor, ressabiamento, inveja. Tudo o que um bom jornalista deve limpar da sua consciência para ter uma visão o mais "limpa" possível dos acontecimentos.
    Mas o LC não é um bom jornalista.Nem um bom arquitecto, talvez seja só um razoável fotógrafo amador.Às vezes.

    ResponderEliminar