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segunda-feira, outubro 13, 2008

Nos bastidores da crise islandesa

O primeiro-ministro bufando no final da conferência de imprensa. Foto LC/Expresso
Chegar a um país falido, entrar no táxi para fazer o trajecto aeroporto-hotel, ouvir em directo na rádio o discurso do primeiro-ministro a acalmar os ânimos, enquanto à volta se vislumbra uma paisagem tranquila como se os duendes da Islândia estivessem a fazer a sesta, não é muito habitual. Acontece por vezes a repórteres imprevisíveis. Já aterrei em países endividados-crónicos, em ex-colónias na maior das misérias económicas e humanas, mas nunca tinha aterrado num país arrumado como se uma orgulhosa dona de casa tivesse cada coisa no seu lugar e cada lugar na sua coisa, um país aparentemente próspero, com cidadãos montados em belas máquinas rolantes (daquelas com duzentos cavalos para cima e no mínimo com 6 cilindros), com mulheres lindas que souberam polir o diamante que nasceu com elas, uma terra com evidentes sinais exteriores de riqueza e...pura e simplesmente falida. Falo da Islândia (reportagem esta semana no Expresso) que depois da crise financeira em que caiu mais parece uma aristocrata que já teve melhores dias, mas que ainda não interiorizou que tudo a abastança levou, entre créditos mal parados numa economia que deve doze vezes o produto interno bruto.
Para um fotógrafo a aproximação a um primeiro-ministro nem sempre é evidente. Mas, tal como contava no início, depois do táxi me ter deixado no hotel, encontro-me com o meu colega Daniel do Rosário e avançámos para a tal conferência de imprensa do primeiro-ministro. Chegámos e veio a primeira desilusão: a conferência tinha acabado. Os jornalistas, muitos e estrangeiros, já guardavam o material. Mas a experiência e persuasão do Daniel fez com que a assessora do primeiro-ministro nos tivesse pedido para esperarmos um pouco. Passados cinco minutos estávamos a entrevistar o já cansado primeiro. Éramos os últimos jornalistas a falar com ele e este mostrou-se de uma total disponibilidade. Bom, uma situação destas era impossível nos dias de hoje em Portugal, ou noutro país com líderes demasiado ocupados para responderem a entrevistas a solo. Não percebi se era sintoma de país falido ou pura e simplesmente de um país onde a comunicação é importante.
No final a foto do primeiro-ministro a bufar mostrava bem o enfado de quem tinha de explicar uma crise aguda e um futuro incerto.

(também em: www.expressso.pt)

1 comentário:

  1. "No final a foto do primeiro-ministro a bocejar mostrava bem o enfado de quem tinha de explicar uma crise aguda e um futuro incerto."
    Carlo Luiz: acho que a expressão é mais "bufar" que "bocejar".

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