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sexta-feira, setembro 26, 2008

Mais de 3 mil mamaram casinhas em Lisboa

Casario de Lisboa, fotografia de Luiz Carvalho
Hoje parado à conversa com Rui Zink na Rua do Conde Redondo, depois de uma série de retratos, o Rui dizia-me: "repara só aqui nesta minha rua: ali à esquina há um banco, depois um cabeleireiro brasileiro, depois uma casa de strip-tease, depois uma leitaria típica de bairro, depois outro banco, do outro lado da rua há lojas por alugar há anos...". Lisboa é isto: abandono, tristeza, negócios fracos e bancos à espera dos últimos otários.

Quando a noite cai as ruas ficam entregues ao putedo, aos malandros, e a alguns resistentes da memória alfacinha, caso do Rui.

Mas meus caros amigos a cidade capital da Pátria está a ser oferecida.

Não a quem lá trabalha, não a quem gostaria mesmo muito de a habitar, mas a um punhado de burocratas, carreiristas, agentes partidários, engraxadores do sistema, esquerdalhos rendidos às mordomias do Poder, intelectuais sabujos ou a simples oportunistas.

A semana foi um fartar de notícias sobre casas oferecidas a todo o tipo de parasitas de todos os quadrantes partidários. Parece que a tramóia contra Santana querendo fazer crer que tinha sido ele o único a dar casotas aos cães acabou por se virar contra os socialistas que montaram uma cabala para denegrir e impossibilitar a candidatura de Santana a Lisboa. Tiro pela culatra.

Afinal o PS deu muitas casas aos amigos e acólitos. Batista-Bastos e a fotógrafa Adriana Freire figuram na lista dos contemplados. (Eu também sou fotógrafo, também quero!!!).

Mas há mais três mil sortudos que vivem à grande- nem sequer são casas sociais, são altas casas!) à custa do contribuinte. Por isso percebemos a sanha contra os contribuintes e as retenções de milhares de devoluções de IRS à classe média dos escalões mais altos.
Estamos todos a pagar para os barões camarários.
Mas como o povo é sábio nas próximas vai voltar nos Costas e Santanas deste Mundo para que Lisboa morra de vez ao camartelo como o fizeram com os azulejos da Maria Keil.
A barbárie chegou ao Poder e a democracia legitima-a. Uma tragédia.

2 comentários:

  1. n consigo abrir as fotos do andré...ke pasa?

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  2. Vamos lá aumentar a audiência, que o Luís merece, apesar de as suas calinadas ortográficas me fazerem lembrar os projectos das casas do sócrates ::))

    «Parou o carro no Rossio


    Ao ler a "A casa da gente" acho que o Luis Rainha não abordou o assunto com profundidade, mas, ainda assim, diz mais do que o suficiente para percebermos a cultura do favor e da cunha típicos do nosso país, e seguramente também dos outros, sim, porque não seremos caso único, bem sabendo que o que se passa com os favores das casas arren(dadas) quando comparado com países corruptos nas “democracias” africanas e sul-americanas, então, por cá, somos gente séria. E, também eu, não quero falar deste assunto com a profundidade que ele deve merecer, preferindo, antes, escrever num contexto intimista.

    Durante a minha vida profissional, logo desde que era ainda um jovem oficial, sofri pressões e pedidos que me confundiam e se me perguntarem se nunca fiz asneira, favorecendo este ou aquele, não seria sincero. Só que os favores que prestei tive sempre a preocupação de usar da maior transparência possível e com a seriedade de nunca fazer desaparecer a papelada, como era típico em algumas secretárias que ocupei, e antes ocupadas por outros, naturalmente.

    Conjugar atitudes de seriedade e transparência com um ou outro favorecimento, convenhamos, pode ser uma forma de nos justificarmos por algo que possa estar errado e a que queremos dar a imagem de o não estar. Ainda assim, nada que me envergonhe, numa profissão em que a lealdade é sinónimo de subserviência e a competência não se dá bem com a irreverência, quase sempre pouco simpática para os chefes que não querem subordinados que pensem mas apenas que obedeçam.

    Não sendo eu subserviente acabo por ter conseguido, talvez tido a sorte, de ascender a um patamar que me permite ter uma vida confortável sem ter beneficiado, para além do razoável, seja lá o que isso for, de favores que me comprometam ou que me envergonhem. Prova disso, os poucos, muitos poucos amigos que tenho no meu meio profissional. Em compensação, tenho alguns bons amigos nas áreas da psiquiatria e da psicologia, quem diria que viesse a ser assim, embora eu ache, hoje, que tal acabasse por ser inevitável quando não se é cinzento toda uma vida e o músculo do conflito acaba por ficar hirto.


    Lembro o tempo em que acabei com a prática dos talões de estacionamento arquivados quando o colega ia almoçar à messe e perante a sua concordância o talão que tinha sido posto no pára-brisas ia para o caixote do lixo junto à máquina registadora. Tive, e tenho, conhecidos, um ou outro, mesmo amigos, magistrados e alguns políticos, a quem mandei rebocar os carros e que a sua arrogância entendia deixar onde lhes apetecia. Coisa que me dava um gozo enorme, sobretudo porque os chateava e lhes fazia ver certas coisas, apesar de respeitosamente, como convinha.

    E o gozo ainda era maior porque nos gabinetes de alguns deles entrava como na minha própria casa, tendo sobre isto vivido um episódio quase insólito quando um conhecido advogado, também com carreira de deputado, e cuja dinastia passou para o filho, ambos bem conhecidos da nossa praça, parou a sua viatura em pleno Rossio, encostando o carro, em transgressão, claro, e dele saiu para me cumprimentar, que, passados alguns anos, ainda me lembro desta cena com ironia. E com prazer, porque tal advogado e deputado, conhecido por lhe darem intervalos nos julgamentos para fumar o seu eterno charuto, era, esperando que ainda seja porque esteve bastante doente e não tenho sabido dele, um tipo bem simpático e um homem de liberdades.

    Já numa fase mais actual da minha carreira, levantei papeis de muitas secretárias, de norte a sul e também no meio do Atlântico, e vi coisas que não lembrariam ao Diabo, e onde conheci pessoas pelo simples facto de no processo estar escrito “arquivado a pedido de fulano”. Claro que, manda a prudência, e sobretudo o bom senso, que não seja por aqui mais claro, porque nos sítios próprios fui sempre muito claro, apesar de alguns que deveriam ter levado com processos disciplinares, no mínimo, acabassem nomeados em lugar de relevo, na lógica de que “não há almoços grátis. “Digo eu”... Ou, antes, diria o Saloio, distinto comentador do 5dias.net.


    O nosso país, e os outros, seguramente, é isto mesmo, uma teia de cumplicidades e de interesses, um país de gente cinzenta, e em que nem sempre se pode dizer que as casas arren(dadas) são práticas ilegais, mas antes de decisões que tanto podem dar para um lado ou para o outro, suportadas em regulamentos mitigados, confusos, para não falar mesmo na falta deles, e que dão para justificar e (in)justificar tudo e mais alguma coisa, dando um enorme jeito ás empresas de assessoria e de consultoria, consumindo energias e dinheiro dos contribuintes, que seriam inúteis se esta gente fosse culta, não por ler muitos livros e falar e escrever línguas estrangeiras, bastando apenas que ser culto fosse sinónimo de seriedade.

    Talvez, por isso, que os que têm a cultura da seriedade acabem, cada vez mais, nos consultórios e nos hospitais psiquiátricos, valendo os amigos que não cobram consulta, mas antes pagam com a amizade, o que pode ser perigoso, por outros motivos, ainda mais íntimos, pela envolvência que a amizade pode trazer, e quando se torna um vício o delicioso jogo da sedução, vendo Lisboa por uma nesga de uma janela do Chiado.


    (Este texto foi transcrito do que escrevi hoje, à mão, prazer que o computador não me dá, à mesa de uma esplanada cheia de “luz”, na minha linda cidade, entre as 12:10 e as 13:15, enquanto um outro grande amigo estava no cabeleireiro, vaidoso o Nody, sendo caso para dizer que, enquanto eu escrevia, a senhora da tosquia “dava banho ao cão”).»

    JJ

    Nota:
    Não sei fazer links nos comentários, mas sobre o que escrevi vão ao 5dias.net, se vos apetecer.

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