Estando hoje em Guimarães dei um salto ao Porto para ver Pep Bonet, o fotógrafo espanhol da NOOR, mostrando e comentando vários portfolios seus, no Instituto de Fotografia.
Quando cheguei agora ao quarto descobri o seu site que é óptimo e me tinha evitado uma ida ao Porto ( embora sempre agradável).
A apresentação feita pelo Instituto não foi das mais felizes. Quem apresentou o fotógrafo esqueceu-se de referir do mais importante no seu curriculum, que pertence à NOOR, para lá de ter interrompido a apresentação de fotos dramáticas de África para pedir " ao proprietário do Fiat Uno com a matrícula...".
As fotografias de Pep impressionaram-me e acabaram por me despertar um sentimento de rejeição. Explico: são boas fotografias, algumas mesmo excepcionais, mas este fenómeno de só mostrar o lado mais miserável da História começa a ser demasiado cansativo. E de tanto se querer denunciar o Mal acaba por se fazer dele uma banalidade.
Por outro lado, era bom fazermos a discussão em torno do respeito pelas pessoas fotografadas. Será que as pessoas ali retratadas na maior das misérias gostaria de se ver nessas fotos ? Onde começa a denúncia da indignidade e acaba a falta de consideração, de ética ? Não será um atentado à privacidade certo tipo de imagens chocantes ? Gostaríamos que um nosso familiar fosse assim mostrado na praça pública ? Será correcto criar fama com a desgraça alheia ?
Não vou agora desenvolver o tema. Há um limbo entre o mostrar por mostrar e a grandeza da forma que transforma a tragédia em hino. Smith, McCulin, Nachtwey, Salgado, fazem-no com um respeito admirável pelo ser humano e pelos protagonistas que povoam as suas obras. Já tenho mais dúvidas em relação a Pep.
O uso e abuso da grande-angular, do preto e branco, do pormenor, da densidade dos ceús, dos enquadramentos entornados, acaba num maneirismo como qualquer outra habilidade artística. Onde acaba a forma e começa o conteúdo, ou se a forma já é conteúdo ( eu acho que sim), há por aqui muito presunto para serrar.
Algumas ideias que Pep explicou e de que eu partilho: só no terreno é que sabemos o que vamos mostrar. O fotojornalismo das histórias está acabado, arranjar alternativas aos jornais para se poder mostrar o Mundo, não há olhares neutros, a cada fotógrafo a sua realidade.
No filme sobre Pep, em que se vê o fotógrafo a rebolar no chão com crianças e a usar essa brincadeira para fotografar desgostou-me. O fotógrafo não tem de ser actor para fotografar. O fotógrafo é testemunha, alguém que está de fora e que descreve o que vê com a sua câmara.
Olá Luiz!
ResponderEliminarTal como tu tive a oportunidade de assistir ao Pep e em larga medida concordo com o que escreves-te, principalmente sobre a o aspecto de exploração de realidades. Estéticamente as fotos são pungentes mas perdem a carga ao reciclar em cada frame o mesmo aspecto temático. Achei também de um amadorismo atroz, ao nivel da organização, a interrupção, mas são destes coisas que tornam um evento menos igual a tantos outros... Despeço-me deixando-te o meu blog http://fragmentosparticulados.blogspot.com/ com a certeza que me "poupaste" trabalho ao comentar esta minha incursão ao IPF. Cumprimentos
É lamentável que haja pessoas que dêem erros ortográficos...Não é,
ResponderEliminarSergio Teixeira?
Ana
Inteligentes "Blogueiros":
ResponderEliminarRespeito opiniões alheias, logicamente, na medida em que estas possam mostrar ambos os lados de uma dada situação. Em 3 comentários que estão no blog, vi o que pode ser descrito como o lado "ruim" de suas opiniões ... o que torna a avaliação um pouco fora da realidade já que, repito, pressupõe-se que esta tenha um outro lado, algo de bom. Houve ali uma conjugação de esforços bem sucedidos, na minha forma de ver (literalmente)! A pobreza (que pareceu ser algo legitimamente africano) está ao lado dos portugueses carenciados que sofrem ao aqui ao nosso lado. A única diferença está em que os fotógrafos tapam suas lentes com peneiras dando a impressão de estarem no primeiro mundo e vivem como se a miséria fosse algo intercontinental ... e quem as retrata???!!!
Foram aqui, até esta altura, 3 comentários paupérrimos tal e qual a realidade que o colega fotógrafo Pep Bonet fez questão de escancarar para a multidão naquele dia ...
Fui visitar um link de um dos 3 que compactuam com a forma de pensar do LC e lá encontrei um lindo texto, de escrita esmerada e ortografia impecável ... mas com uma única foto com enquadramento personalizado pouco emocionante e que não me faz muscular os neurônios fotográficos ... e que fez mesmo jus ao nome do próprio blog.
Parece-me, isso sim, que mais importante do que aquecer discussões saudáveis o nobre colega LC necessita lançar chamas em technicolor sobre a monocromia ...
Como formador do IPF, sei que lá há coisas a serem melhoradas ... mas não desta forma que ricocheteia na superfície e coloca em risco a análise da fotografia mundial.
Parabéns Feitosa, Alexandre Souto, IPF e, principalmente, Pep Bonet pelo esforço em mostrar que a fotografia pode ser socialmente responsável ao servir como um verdadeiro arranca-peneiras dos nossos (?) olhares fotográficos.
Deixo uma questão ...
"Quantos negros assistiam à explanação do Pep Bonet naquela noite?! Poucos?, nenhum?,..., ou nem repararam nisso?
Pelo menos, ele tirou o bumbum da cadeira e mostrou a realidade da negritude africana bem ali diante dos nossos olhos desatentos aos pormenores ..."
E acho mesmo que ele tem o direito de fazer tudo o que quiser em preto e branco, aprofundar os contrastes do céu, ..., e deitar ao chão com os miúdos mutilados e fazê-los rir nem que seja por pequenos momentos enquanto ficamos aqui imaginando coisas ... o que foi um grande exemplo de coerência intelectual/fotográfica foi mostrar-nos as duas realidades: a estética e real ... uma veio pelas fotos e a outra veio pelo filme.
Felizmente, na minha opinião, ele não entende muito bem a língua portuguesa pois faria uma imagem geral pouco agradável daquele momento de pura magia! ... e de alerta!
Em tempo ... há algum site, blog, whatever, onde possamos ver seus olhares fotográficos, LC?!
Abraço, LC ... e viva a democracia!
CORRIGINDO ...
ResponderEliminarOnde está:
"Parabéns Feitosa, Alexandre Souto, IPF e, principalmente, Pep Bonet pelo esforço em mostrar que a fotografia pode ser socialmente responsável ao servir como um verdadeiro arranca-peneiras dos nossos (?) olhares fotográficos."
Leia-se:
"Parabéns Pedrosa, Alexandre Souto, IPF e, principalmente, Pep Bonet pelo esforço em mostrar que a fotografia pode ser socialmente responsável ao servir como um verdadeiro arranca-peneiras dos nossos (?) olhares fotográficos."
Gostaria de agradecer à Ana pelo reparo... É bom saber que há pessoas que estão alerta em relação à integridade da língua portuguesa, mesmo quando o foco é comentar sobre algo completamente diferente.
ResponderEliminarObrigado!
Bom dia,
ResponderEliminarTambém estive presente nesse evento do IPF e não concordo nada com o seu comentário.
Na apresentação eu vi um fotógrafo muito intrusado com a comunidade e com respeito com as pessoas fotografadas.
Achei curiosa a sua comparação (pelo antagonismo) com alguns fotógrafos de renome, entre eles o James Nachtwey. É muito conhecido um vídeo dele onde durante mais de uma hora se observa a sua forma de trabalhar. Choca ver a forma com que dispara (também com uma grande angular) em frente a uma viúva que chora inconsolavel o seu marido falecido ou acompanha lado-a-lado um tipo na rua que vai morrendo à paulada de um bando em fúria.
Eu aprecio imenso o trabalho do Pep Bonet, mas é tudo uma questão de opinião.
Cumprimentos,
Rui
Não percebi a indignação referida no último parágrafo do seu comentário, acerca do fotógrafo rebolar no chão com crianças cegas.
ResponderEliminarCertamente o fotógrafo não é uma actor, mas como se consegue interagir e criar empatia com crianças cegas?
O fotógrafo conseguiu entrar no mundo dessas crianças, rebolar com elas, perceber como vivem, como sentem e somo se expressam essas crianças, e captar fotos lindas, reais.
Eu aprecio isso, quem entra na esfera do mundo fotografado, não quem olha de fora. Isto é mostrar respeito.
Como o Pep Bonet repetiu várias vezes na sua apresentacao, para fotografar sentimentos, é preciso senti-los.
Cumprimentos,
Rui
Também tive o privilégio de estar na apresentação do Pep Bonnet. Gostei do vi, e principalmente do que senti.....Senti imagens que o mesmo partilhou, para que não se repitam. Sim a frontalidade com o mesmo nos descreveu a sua obtenção (a das quais não fez segredo no video), merece reconhecimento, e retratam com verdade a realidade. Não é essa a função do fotografo ?
ResponderEliminarPep Bonnet disse-me / escreveu, com imagens situações que ocorrem neste mundo cruel, como, por exemplo, se cegaram crianças com plástico derretido nos olhos, e que eu desconhecia......Obrigado ao mesmo, por essa história, escrita com mil palavras, numa fotografia.....
Se ele tivesse decidido não partilhar o video, em que interage com a criança, isso tirava valor ás fotografias que ele captou ? E se tivesse sido hipócrita, no sua forma de trabalhar e chegar aos locais ? Porquê esconder a verdade do foto-jornalismo nos dias de hoje ?
Luiz, aprecio a tua frontalidade, principalmente no artigo publicado na Foto Digital, sobre o tema, mas permite discordar da tua opinião. Essa é a grande vantagem / liberdade da discussão de opinões. Porque uma coisa são factos (fotografias) e aquilo que transmitem a quem as vê, e outras as técnicas que se utilizem para as obter (sem que as mesmas ultrapassem as "falsidades" da pós produção)........
Recordo-me do Ansel Adams, quando o confrontaram com o facto de ele nunca fotografar pessoas, ao qual ele respondeu que todas as suas fotografias tinham sempre duas pessoas; a que fotografou, e a que via a fotografia......
caro luiz
ResponderEliminarsei que este episódio já lá vai, mas deixe-me dizer-lhe que a sua visão sobre a conferência foi um tanto ou quanto limitada.
tinha uma ideia completamente diferente do luiz e sempre acreditei que uma pessoa que já ocupou e ocupa grandes cargos enquanto fotojornalita tivesse uma visão mais aberta, mas se calhar é por culpa de pessoas como o luiz que o fotojornalismo nunca teve o devido reconhecimento.
já agora eu estava no local e assisti a toda a conferência e só tive pena que o carro mal estacionado não fosse o seu pois se fosse certamente que o aviso não o ia incomodar, bem pelo contrário.
um grande abraço
caro luiz
ResponderEliminarsei que este episódio já lá vai, mas deixe-me dizer-lhe que a sua visão sobre a conferência foi um tanto ou quanto limitada.
tinha uma ideia completamente diferente do luiz e sempre acreditei que uma pessoa que já ocupou e ocupa grandes cargos enquanto fotojornalita tivesse uma visão mais aberta, mas se calhar é por culpa de pessoas como o luiz que o fotojornalismo nunca teve o devido reconhecimento.
já agora eu estava no local e assisti a toda a conferência e só tive pena que o carro mal estacionado não fosse o seu pois se fosse certamente que o aviso não o ia incomodar, bem pelo contrário.
um grande abraço