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quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Um regime moribundo

Um amigo meu ficou boquiaberto ao saber que o fisco lhe congelou a conta porque não pagou num mês 10 euros à segurança social da empregada que entretanto já tinha sido despedida.

Eu acordei hoje com mil euros a menos na conta porque um tribunal ( que a esta hora ainda não sei qual é) ordenou ao meu banco uma transferência a seu favor de um processo de há mais de dez anos ( já nem me lembrava) de uma apólice que a Bonança achava que eu devia pagar depois de eu ter comunicado que desejava anular o seguro. Fui portanto julgado sem saber, sem me poder defender.
Tive apenas o privilégio de me sacarem da conta o montante que um juiz achou por bem decidir. Se tivesse o dinheiro por baixo do colchão estava portanto muito mais seguro. O nosso dinheiro já não é nosso e está incerto num banco.

Um advogado de um escritório famoso desabafva hoje comigo que os seus clientes ricos ainda se podem defender, e lamenta não poder por vezes trabalhar em processos de pequenas empresas porque aí está o país real. Pagam o que o fisco lhes pede e não têm possibilidades financeiras de poderem recorrer. Ele acha que vivemos um regime de totalitarismo total do fisco.

Uma actriz famosa, respeitável, que em Inglaterra seria agraciada pela Raínha, confessa-me a sua desilusão. Foi despedida do Teatro Nacional ao fim de vinte e tal anos, sessenta de descontos. Uma direcção negociou com ela, e outros actores, a saída com indemnizações e até agora...nada. Passaram já 6, 7 anos. O caso é conhecido até na Presidência da República que tem mostrado interesse em ajudar, sempre com um "..mas está difícil, está difícil!!".

A angústia, revolta contida, desânimo, que os portugueses acalentam sente-se na rua. Quando falamos com pessoas, quando nos cruzamos com realidades diferentes. No meio de um teatro, de um escritório de advogados, na redacção de um jornal, na fala com uma empregada de um café às moscas num centro comercial no coração de Lisboa, atrás de uma comissão de controle de direitos socias, o sintoma nacional é o mesmo: pessimismo.
O nosso primeiro-ministro que deu uma entrevista de autista, ao ponto de nem ter deixado que os jornalistas acabassem de fazer as perguntas, devia descer mais à rua. Fazia-lhe bem, embora a assobiadela fosse já ensurdecedora nesta altura do campeonato.

Claro que os problemas ultrapassam já a mera questão folclórica de Sócrates ser isto ou aquilo. Com Barroso era pior, com Santana... Vivemos um sério problema de regime. Não é já a crise do governo, é a crise do Estado e da sua credibilidade, da confiança que perdeu perante os cidadãos. É a crise de uma democracia desacreditada pelos políticos e por um sistema que se afastou dos cidadãos. Hoje os cidadãos têm menos liberdade do que antes do 25 de Abril. Tirando o folclore da liberdade de expressão e de adaptações à evoluçaõ dos tempos.
Só a economia privada ainda vai conseguindo segurar com arames o descontentamento. Até quando ?

Luiz Carvalho

8 comentários:

  1. Amigo Luís, quero deixar aqui expressa a minha solidariedade para contigo e para com todos aqueles que já foram ou estão a ser espoliados por estes palhaços em quem votei para infelicidade minha.
    Tenho para mim que "isto" já não tem remédio, quem puder safar-se daqui para fora que o faça, pois os palhaços que se perfilam no horizonte para abocanhar o pouco que ainda resta são iguaisinhos a estes, se não forem pior.

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  2. Estou consigo.
    Porque a falta do dever cívico quanto aos que não pagam impostos e os devem pagar não justifica os "abusos" da máquina fiscal.
    E o facto do seu amigo "Sócrates" vir com o argumento de que os cidadãos se podem defender em tribunal é uma verdade formal, mas não é bem assim no plano prático.
    Porque para cobrar começam a ser eficientes, ainda bem, o mesmo não acontecendo para reembolsar, o que é muito mau, bem sabendo que o Estado é o maior caloteiro, a começar pelas câmaras municipais.

    Do "imbecil" JS

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  3. ...
    E desta vez gostei do estilo que utilizou.
    O que prova que não precisa de utilizar "demagogia rasca" para dizer aquilo com que eu também concordo.
    Se eu fosse o "professor Martelo", entre zero a vinte, desta vez, levava um 18.

    JS

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  4. se bem que tenha vivido poucos anos durante a célebre ditadura, ficou-me a sensação que havia mais liberdade mesmo se algo vigiada excepto um gajo fosse mesmo do PC ou das Brigadas ou da Luar, e que sem o senão da estúpida guerra colonial estaríamos melhor que hoje, porque os tempos não perdoam mas sem cultura de bandalheira das elites, e relaxo das outras classes umas cunhazitas a coisa corria melhor.
    E depois se tivessemos a Molin a Fábrica dos Martelos Jaguar, dos Parafusos, e o verdadeiro queijo da serra com uma melhoria da qualidade dos vinhos éramos um Paradis. Mas eu filho do tempo sempre desejei a Democarcia a balda dos partidos e nunca me tenha filiado em nenhum.

    .

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  5. Pelas calinadas que dei no post acima nem o vinho melhorou...Dasse js vela a estibordo sff dcireitos aoMar da palha

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  6. Já percebi!

    Isto estava bem é a malta não pagar nada e sermos caloteiros.Isso é que é bom!

    Pois em toda a europa os portugueses tem fama de caloteiros e por alguma coisa é!

    O que é bom é não pagar SS , irs, irc,imi, selo do carro,licença pesca e caça etc

    O que é bom é fazer umas obras em casa e não pagar ao pedreiro nem ao carpinteiro.

    Mandar arranjar o carro e não pagar ao mecânico.

    Ir de férias e arranjar uma confusão no hotel e fingir uma intoxocação alimentar no ultimo dia e não pagar o hotel!

    Meus amigos, será que ainda não viram que já ninguém neste mundo vive assim!

    toca a trabalhar e pagar as continhas, deixem-se chicosespertismos!

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  7. Desânimo é um dos adjectivos adequados à situação. Descrença no sistema. Sensação de impotência perante uma máquina poderosa capaz de nos esmagar de um golpe (se a incomodarmos) ou capaz de nos deixar sobreviver para os servir, produzindo. Isto é a escravatura dos tempos modernos.
    Tanta esperança que houve com o 25 de Abril... O futuro pouca esperança trará aos nossos jovens, pois esta política de educastração só serve para os manter ignorantes eternamente. As reformas do ensino têm sido um absurdo, parecem elaboradas por mentes ignorantes, perversas e alienadas, completamente fora de contexto, completamente fora da realidade.
    O pior é que, para além da política de educação, todas as outras afinam pelo mesmo diapasão.

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  8. Mão é só nas contas que esta MAFIA engravatada nos vai aos bolsos.recebi hj este mail

    PERGUNTA PERTINENTE
    Já toda a gente reparou na factura da EDP ?
    Contribuição Audiovisual pelo valor de 20,52 Euros por ano?????
    E porque temos nós portuguesinhos de pagar isto??
    Eu não pedi nada de Audiovisual...
    estou a pagar porquê e para quem?
    E para onde vai esse dinheiro?
    1 milhão de facturas dá mais de 3 milhões de Euros...
    Onde anda esse dinheiro???
    Eu quero saber...
    ... e se me disserem que é para a RTP eu exijo a devolução do dinheiro.
    Afinal pago TVCabo para ter TV.
    Vamos a reencaminhar,
    andamos a ser comidos por parvos e ninguém faz nada...

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