Hoje estive do outro lado dos concursos de fotografia: fui membro do júri do Concurso Ibero de Fotografia, organizado pela Epson, e que recebe mais de 7 mil fotos e tem um prémio de 1o mil euros, o que faz do acontecimento o maior concurso de fotografia a seguir ao Prémio Visão.
Escolher fotos de um lote inicial de oitocentas fotos é fácil. A maioria é bastante redutora. Depois escolher o segundo lote mais reduzido já começa a ser complicado. A escolha final torna-se penosa pois temos de decidir entre três fotos que todos gostamos e sente-se que qualquer delas podia ser a primeira.
Na fase do meio da escolha reparei que algumas fotos podiam ter chegado muito bem à final, mas é fácil ficar de lado pois há que fazer opções e o factor subjectivo de cada membro do júri entra sempre em acção.
O que torna logo uma foto indesejada é o sentimento de já visto, mesmo que seja uma foto bonita e bem executada. A segunda rejeição vem, para mim, do trabalho carregado de photoshop, efeitos, ceús escuros, côres saturadas. Os fotógrafos carregam no photoshop como as pirosas no batôn, sendo que quando a boca é bem desenhada o rouge passe de pires a matador e tem desconto.
A terceira força de chumbo são os temas lamechas: crianças a sorrirem para o futuro, pobres a fazerem horas extraordinárias, mulheres despidas com rosto escondido, campos verdes com árvores sozinhas, cascatas de água, pôr do Sol com silhuetas, casas abandonadas, o catálogo de banalidades fotográficas não tem fim.
A conclusão que tiro deste concurso, e que confirma o meu pó pelos amadores habilidosos, é que não há muitos fotógrafos a terem uma motivação forte para fazerem fotografias. Poucas fotos mostram uma visão pessoal, um prazer em ver e dar a ver. Há uma fobia pelo efeito, pela técnica mal usada ( o uso dos filtros do photoshop é um desastre total) e muito pouca espontaneidade.
A ideia de que as boas fotos são as bonitas, coloridas, ou de preto e branco contrastado é uma falsidade.
A fotografia presta-se como poucas actividades ao mais puro cabotinismo. Só na política se encontram tantos, ou mais, cabotinos por pixel.
Se é verdade que há um fotógrafo bestial em cada um de nós, mesmo que sejamos estafetas ou letrados, também é verdade que todos os fotógrafos se acham os maiores criadores, superando Deus.
Claro que não devemos levar demasiado a sério a fotografia no sentido em que deve ser uma prática correcta, superior, eleita.
A fotografia também vive dos amadores. E é na comunidade de toda esta gente que a fotografia deve circular e viver.
No final ganhou uma fotografia extraordinária, a preto e branco, de enquadramento perfeito e de uma sensibilidade encantadora. Portanto: vale sempre a pena entrar em concursos, e aqui a responsabilidade do júri é enorme: serve para dar pistas, orientar, dar um rumo.
A Epson faz aqui um trabalho cultural de divulgação da fotografia muito meritória.
Venha lá um link para vermos as fotografias vencedoras. E para ver a sua qualidade. Qualidade essa que não abunda nas fotos vencedoras do Concurso Grandes Fotógrafos, Expresso/Olhares.
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ResponderEliminarHá coisas engraçadas.
ResponderEliminarVeja lá as fotos vencedoras do concurso do ano passado. Com este critério, nem metade teriam sido seleccionadas para as 100 finais.
Aprecio o seu critério e até lhe tiro o chapéu, mas acredito que poucos dos que participaram estariam a contar com tal.
Como sabe a grande maioria destes concursos é vencida por imagens de festival. Cores garridas e altos contrastes... bonecos e postais! É adquirido para quem participa. E participam com essas imagens, pois claro!
Daí que o motivo para encontrar muitas máscaras e muita saturação, tem provavelmente mais a ver com os júris e regulamentos, que com os participantes.
Quem participa, mais do que pelo gosto pessoal, vai enviando as imagens que acham que podem ter prémio.
Fico à espera para ver os vencedores e a coerência das imagens com o seu discurso.
Parabéns pela mudança. E quem sabe se para o ano, em vez de umas imagens soltas, não se faz um regulamento que permita avaliar a visão e o trabalho de um fotógrafo através de uma série.
Um prémio deste valor justifica.
Já agora também gostava de ver a foto vencedora para ver se de facto não se enquadra no catálogo de banalidades fotográficas sem fim. Espero que pelo menos seja melhor que a "qualidade" das fotografias do Grandes Fotógrafos/Expresso em que nos vencedores tivemos uma foto em que sinceramente não vejo onde está ali Portugal (a vencedora é um escândalo!), outra que tem uma montagem de um céu que se nota a milhas, e a 3ª que está subexposta (e onde eu também não vejo Portugal)...
ResponderEliminarQuando divulgarem as fotografiazinhas premiadas, poderemos nós também avaliar da coerência do discurso...
ResponderEliminarÉ no conjunto das que foram sucesso reconhecido no ano passados havia de tudo: muito postalzinho, muita máscarazinha de photoshop, muita corzinha garrida... e muito tema lamecha e muita sensibilidade pindérica...
Deve ter sido um problema de júri... como no ano que passou não o convidaram a si, deve ter sido isso que falhou...
Luiz, nem imagina o pó que eu tenho aos profissinais 'mete nojo'... aqueles cujo ego já lhes embotou qualquer réstia de sensibilidade!
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ResponderEliminarEstou surpreendido! então dizes aqui Luíz que a participação portuguêsa foi fraquita em quantidade e qualidade??? mas esta informação vem ao arrepio da informação que a própria EPSON me fez chegar, nessa missiva diziam que a participação portuguêsa havia sido numerosa e de qualidade...!!! será que se perderam algumas na viagem ??? não chegaram lá todas ???
ResponderEliminarDurante o meu longo percurso fotográfico fiz parte de imensos júris, é certo que nenhum dos chamados concursos tinha a dimensão deste da EPSON, mas tenho perfeita noção do que realmente se passa neste tipo de júris, alguns isentos, outros nem por isso, acredito no entanto que este se situe no grupo dos primeiros, mas pásme-se, o júri era composto de sete elementos, sete! e destes, apenas dois eram portuguêses, dois contra cinco, logo em minoria... E embora se depreenda das palavras do Luís que as decisões terão sido mais ou menos consensuais eu sei bem que os nossos hermanos são muito patriotas... será que não deram uma espreitadela nas costas das fotografias antes da atribuíção dos prémios?
Vou ficar à espera de ver as fotos premiadas na esperança de que não se repita o caso do 1º prémio do ano passado, onde era por demais evidente que se tratava de uma montagem, bem grosseira aliás!!! daí a minha "pedra no sapato" no que aos espanhois diz respeito.
Gaspar: eu só sei quehouve uma percentagem de 20 por cento ( mais ou menos) de portugueses. Como júri não sabia se as fotos eram de portugueses ou espanhóis. No final depois de dada a classificação já se podia saber quem eram os autores, eu virei uma foto e estava no verso o nome do Cunha. Portanto: só me pronuncio sobre o que vi. repito: no geral, em 5 mil fotos, o trabalho podia ser todo mais interessante. Repara que mesmo no Prémio Visão o júri tem-se queixado do níve um pouco para baixo dos trabalhos.
ResponderEliminarNós fotógrafos temos todos que trabalhar mais, o que é dificil, pois se gostassemos muito de bulir tinhamos ido para a estiva e não para fotógrafos! eheheh!!!Abração.
O que se passa com a fotografia passa-se em todas as profissões artisticas e talvez, não só!
ResponderEliminarOs Jurís , queixam-se dos jurados serem fracos e têm sempre a mesma conversa. É uma forma egocentrica de se exprimirem. O que os outros fazem é tudo uma merda...
Essa atitude é que é muito portuguesinha, infelizmente!
Eu não me lembro, na area da musica, algum artista que tenha ganho algum concurso da TV, tenha alguma vez tido uma carreira de sucesso!
O que eu sei é que estive no concurso de invenções do programa europeu Eureka, em bruxelas , e não estava nenhuma invenção portuguesa em concurso. E depois os portugueses vêm com essa mania de serem inventores! Mas aqui a culpa é dos nossos representantes politicos que não querem travalhar e andam a tentar inventar umas reformazinhas, esses sim são os nossos grandes inventores! Inventaram o sistema da reforma multipla sem trabalho .
Pois é Luíz, tenho que reconhecer que desde que me tornei profissional da fotografia desapareceram os calos que decoravam as minhas mãos por via do ramo mobiliário onde trabalhei durante bastantes anos...hehehehehe, e também confesso que a partir daí nem sempre tive boa vida nos jornais diários por onde passei, mas como adorava a profissão de nada me queixava, só adequiri o estatuto de "malandro" quando entrei para as revistas semanais...hehehehe belas passeatas pelo país, uma ou outra vez no estrangeiro, conheci e fotografei pessoas importantes, mas também algumas das mais charmosas mulheres deste país, por isso me sinto um "malandro com sorte..." daí que tenha resistido com todas as minhas forças quando aos 61 anos me catalogaram de "velho" e me "convidaram" a sair... e assim deixei de fazer algo de que tanto gostava e pelo qual ainda me pagavam...hehehehe.
ResponderEliminarQuanto ao concurso EPSON ao qual também me candidatei, afinal concorreram 5.000 fotos, eu tinha lido no teu post que o lote inicial era de 800, agora percebo que essas oitocentas terão sido o resultado da primeira selecção, mas vocês viram mesmo as 5.000? é de ficar louco... e em quanto tempo? quanto aos nossos 20%,1000 fotos portugas, olha que não considero assim tão mau, e se o tal Cunha que te lembras de ter visto fôr um tal de Alfredo...porreiro pá, é portuga e dos bons. Quanto ao júri, aceito que fossem pessoas competentes e crediveis, mas vocês dois também o são só que em inferioridade númerica.
Fico à espera de ver os trabalhos.
Boa semana.
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ResponderEliminarCaro anónimo das 11:01AM, eu não tenho tanta certeza de que este concurso seja uma fraude como diz, mas também reconheço que o senhor pode ter alguma razão, porque desde que certas entidades resolveram "atirar com dinheiro" aos premiados entramos num periodo menos transparente... isso é verdade, mas desculpe-me a franqueza, não entendo porque utiliza o anonimato para expôr os seus pensamentos, embora saiba que isso é um assunto que só lhe diz respeito a si.
ResponderEliminarNeste caso em concreto, e pese embora o facto de termos estado bem representados no que ao júri respeita, não deixa de ser sintomático o facto de a EPSON ter 30.000 euros para prémios, mas não ter dinheiro para portes de correio a fim de cumprir um dos seus deveres mais elementares, ou seja, informar os concorrentes do resultado obtido pelas suas fotografias... nem sequer nos é dito se as melhores vão ser alvo de uma exposição, o que desde logo nos remete para outras questões..., será que de portugal seguiram todas as fotos...? em principio sim, mas com este procedimento não temos como saber...,outra questão, o que fica deste certame??? os premiados guardam o dinheiro, mas, e os outros? se a EPSON não tem verba para fazer o respectivo e indispensável catálogo...!!! (gastou o dinheiro todo nos prémios)então não fica absolutamente nada!!! depois admiram-se que os fotógrafos não adiram..., com esta falta de consideração por quem concorre, por quem realmente justifica este tipo de iniciativas, não se lembram que sem concorrentes não há concurso!!!, é, sobra-lhes em dinheiro o que lhes falta noutras capacidades.
Enfim, é tudo MUITO OPACO, resta-nos o testemunho dos dois jurados portugas, para nos darem alguma informação.
Mas continuo curioso por saber se aos jurados portuguêses foram dadas a ver as 5.000 fotografias, ou se apenas lhes foram dadas a ver as tais 800?.Justifico a minha apreenção: por duas vezes fui confrontado com problemas destes en júris de concursos que não vou identificar para não lhes dar protagonismo, mas é verdade que nas duas vezes que refiro alguém do júri tinha feito de vépera uma pré-selecção... e quando reunimos foi-me dito... aquele monte ali é lixo, nem vale a pena ver... as melhores estão aqui...!!! claro que foi pura perda de tempo, voltamos a ver as fotos todas, e no fim de muita discussão, foram repescadas várias fotos do tal "lixo"...inclusive uma delas foi premiada, e só não foram mais porque eu estava em minoria, logo votava vencido.
Um abração para todos os que aqui dão a sua opinião.
Preferia ficar calado mas não posso. Há gente na EPSON que merece o meu respeito.
ResponderEliminarGaspar:
LEU O REGULAMENTO OU SÓ LHE APETECE DIZER MAL?
A data anunciada para informar os prémios aos premiados é dia 30.
Ao público e aos não premiados é para Dezembro.
Ninguém tinha que saber quando foi o juízo. Trata-se de uma inconfidência do Luíz.
Adiante...
Posso garantir que no concurso passado, a EPSON tratou do anúncio aos premiados convenientemente e com distinção.
Eu tive um prémio no ano passado sem júris portugueses.
Não há nada de opaco.
Quanto a catálogos...se quiser posso enviar-lhe alguns! Em papel do bom para variar!
Não fique arreliado... quem sabe se não tem para lá uma foto premiada!
Havia de ser engraçado!
criticar o concurso da Epson aqui neste blog dá direito a 3 comentários apagados pelo LC tal deve ser a panelinha ....miséria de pequenas corrupções e cumplicidades de quem afinal tb tem telhados de vidro...este tb será apagado. Criticar o concurso da Epson aqui é mais gravoso que criticar Maomé na Arábia Saudita e Chavez na Venezuela. Afinal a verdadeira face do LC de vez em quando aparece. Um tirenete de papier machê
ResponderEliminarSó gostaria de saber o que destingue um fotógrafo profissional de um amador em termos de qualidade fotográfica, para além do profissional ganhar a vida a fazer bonecos para jornais (bons) ou casamentos (fraquinhos), a maior parte das vezes os chichés a pedido do chefe. Ainda bem que os amadores espanhóis sabem fotograr neste II concurso Epson, médicos e afins deram banho nos teles 2.8 mochilinhas...
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