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sábado, julho 14, 2007

A pimbalhada rural

A ideia romântica e de esquerda que o campo é o último refúgio da civilização industrial, o cantinho ecologicamente equilibrado, onde o silêncio ordena, a paz reina, onde não há gatunos e se podem deixar as portas escancaradas, onde se pode confidenciar tudo aos vizinhos e ao padre, o campo esse mito que Salazar tão bem soube explorar, e preservar, está pior que as cidades.

A verdade é que as aldeias mudaram.

A minha aldeia de origem, Sarzeda na Beira-Alta, onde eu ia de férias sem água canalizada, luz, esgotos, nem estradas alcatroadas também mudou. Começou nos anos setenta quando a electricidade chegou e havia uma televisão, na casa da D. Mariazinha a professora primária, onde eu ia ver o ZIP-ZIP e namorar uma prima que acabou por me enganar com um chefe de família de Vizeu para onde foi estudar. Adiante...

Os emigrantes lixaram o ambiente com os carros rebaixados e kitados, com os alarves hábitos de novos-ricos. Os padres instalaram relógios eléctricos a cantarem de quarto em quarto de hora. Ir à aldeia passou a ser um stress.

Aqui no Alentejo onde estou é a mesma cegada.
As festas anuais são um churrilho de barulho com artistas da treta a cantarem versões de pimbalhada e o povo a enfrascar-se de tintol enquanto os jovens passeiam os carrecos comprados em ald, faróis tunning e umas namoradas manhosas armadas em boas.

A geração nova que conseguiu emprego é agora uma versão pobre dos emigrantes: ganham mal mas o que ganham dá para o estrilho. Metem as aparelhagens aos berros, despem-se e cantam karaoke feitos tontos. Mesmo tendo passado pelo comunismo, esta zona era uma das mais renhidas defensoras da reforma agrária, onde o PCP ditava, agora é uma mistura estranha de referências culturais. Pimbas com metálica, pintas e oxigenadas.

Quem vale a pena são os velhotes que conseguiram preservar uma cultura aristocrática popular ( o meu amigo Manuel Alegre fala em aristocratas do povo, e muito bem), o resto é do pior que há: a mentalidade pequeno-burguesa.

É nestas análises que eu me sinto um tipo de esquerda, no sentido em que o diagnóstico social é imprescindível para compreendermos, e modificarmos, o que nos rodeia. Sem essa consciência não há avanço nas sociedades, apesar de aqui o avanço não ir nunca nem à porrada.
O Alentejo dá sinais de uma mudança irreversível: há mais dinheiro, a paisagem urbana está a modificar-se, a tornar-se um subúrbio.

Enquanto os candidatos a Lisboa querem uma cidade rural, o campo quer imitar o pior das cidades... que fazer ?

5 comentários:

  1. "modificar-mos"
    o alfredo cunha disse-me um dia que escrevia com os pés. gosto de vir a este blog mas o luiz dá cada pancada gramatical... como jornalista acaba por ser um exemplo complicado.
    enfim, nada de grave mas foi o que me apeteceu dizer.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Caro Armindo: Não tenho nada a ver se o Alfredo Cunha escreve com os pés ou não. Eu não escrevo com os pés.

    Estes postes são feitos ao correr do pensamento, muito à pressa, no final são lidos uma vez, passam pelo corretor que é mau e..post.

    Assim acabam por vezes por saírem erros que são fruto da pressa, de distração, da falta de copy-desk.

    Posso sempre ter mais cuidado com o que escrevo mas isso vai demorar-me ainda mais tempo com o blogue, e acaba por criar uma certa retração em escrever logo.

    Os textos da maioria dos redatores que chegam a desks são muito piores, apesar de não servirem de desculpa para os meus erros.

    Irei tentar melhorar os erros de português, é o mínimo de educação que devo ter. Concordo.

    Mas erros ortográficos nada tem a ver com escrever ou não com os pés. Escrever bem é ter uma estrutura narrativa.

    Você deve detestar o Saramago, e como eu o percebo !

    Cumprimentos e volte sempre.

    LC

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  4. «Vão à praia, respirem fundo e sintam como é bom ignorar estes idiotas que nos desgovernam.»
    Se eu votasse em Lisboa confesso que teria a maior das dificuldades em escolher o “idiota” mais idiota de todos os candidatos.
    Mas escolhia... em branco e não ia à praia. Porque, convenhamos, existe uma diferença entre votar em branco e não votar.

    E «Você deve detestar o Saramago, e como eu o percebo!»
    Sendo um admirador tardio do Saramago, concordando que escreve mal e que ultimamente anda a dizer disparates, alguns nos últimos dias, também é verdade que é Saramago quem melhor escreve sobre a “A força do silêncio”, conforme seu post abaixo, no seu livro Ensaio Sobre a Lucidez.
    Não sei se leu, e se não leu, garanto que é chato de ler como ó caraças, como, aliás, praticamente todos os seus livros.
    E, tal como você também escreve mal e não me parece que a desculpa seja sempre da pressa, afinal a sua formação académica é arquitectura e não filologia e alguns dos seus erros ortográficos são recorrentes, mas acaba, quase sempre, por se explicar bem, assim é com Saramago.

    E Saramago, apesar de não ter nenhuma licenciatura “independente” e de escrever mal, é um Nobel.

    Mas, também, de que importam os erros, se estes são sempre menos importantes do que as ideias.

    Abraço
    JS

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  5. Já não sei que dizer disto tudo...doq ue aqui se pespega em forma de escrita, ideias, pensamentos etc.
    O Saramago foi um pulha, politicamente falando e politicamente escrevendo falando escreve e diz disparates. Mas escreve mal português o Saramago?
    Ah é por não pôr vírgulas? as tolices dele são de ordem, não dessa p.favor !!!
    E as calinadas estéticas dos gramáticos e e filólogos nacionais mais faxos que os faxos e que forçando pretensa "normalização" da língua, a têm tornado uma seca, sem música, sem beleza fonética ? Viva o português livre do Brasil

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