Mário Soares, fixe aos 83 na minha objectiva

foto de Jean Gaumy/ Magnum. 1974
Estar com Mário Soares é sempre para recordar.
Hoje fotografei o antigo Presidente durante quase três horas.

À conversa com ele duas das mulheres mais brilhantes do jornalismo português, a minha directora Cândida Pinto e a minha amiga Clara Ferreira Alves. Os três conseguem uma conversa brilhante, cheia de sentido de humor, divertida e ao mesmo tempo de uma dimensão política e humana extraordinárias. Eu ali fotografando com muita calma e um gozo raro.

Soares é a personalidade mais fotogénica que conheço.
Num segundo muda e expressão, de gesto, de posição. Esquece-se da máquina, por vezes olha para mim cúmplice, no fim acha sempre que há fotos que cheguem mas ainda convida para um passeio no jardim.
Mário Soares é único. É um grande privilégio poder estar ao pé de um homem desta dimensão e poder fotografá-lo para a eternidade.

As minhas primeiras fotos em casa dele, foi em Nafarros, em 1978, estava a colaborar na Nova Gente. Maria Barroso ofereceu limonada, o que passados anos voltou a fazer no Vau. Antes tinha-o seguido em manifestações contra os comunistas em 74 e 75.

Quando o meu filho André, 31 anos, tinha 6-7 anos fui com ele fotografar Soares ao Algarve, na praia. Andámos a pé ao longo da praia ele com a mão no ombro do meu filho a perguntar-lhe o que ele queria ser quando fosse grande e o André: desenhador. Soares emendou. "Deves querer ser designer." O André é hoje designer. Quando ele ganhou a primeira vez, desci com o André a avenida a gritarmos "Soares é fixe, o freitas que se lixe !" O pagode ficava desconfiado por nos ver num MGB-GT ( um carro de sport inglês, burguês ::). Grandes tempos !

Soares atravessa o nosso tempo, o nosso modo de sermos portugueses. Devemos-lhe a modernidade. Só isso vale tudo.

PS: Não ponho fotos da sessão por sigilo profissional.