Escreveu aqui Rodrigo Cabrita:
Quero falar-vos de uma história que se passou comigo a propósito deste senhor. Um dia tinha na agenda ir fotografar o então homem-forte do CCB, Delfim Sardo. Recordo-me agora depois de ler todos estes teus posts que o mesmo, em declarações à redactora do DN, disse convictamente que iria acabar com o WPP no CCB. Disse-o com um desprezo e uma crueldade tão fria como a careca dele. E estranhei. Afinal, e pela boca dele, aquela era somente a exposição que mais visitantes dava ao CCB. Mas então o porquê de acabar? Confesso que na altura fiquei desapontadíssimo, iria deixar de ter o meu ritual anual para ver tão mediática exposição embora da mesma forma que fiquei desapontado, também pensei que o tipo não era bom da cabeça e dei-lhe o devido desconto. O facto é que a exposição por lá ficou...para bem de todos nós e provavelmente para mal dele. Nunca esqueci a forma dura como se referiu ao evento. Deparei-me hoje com estes textos e passado todo este tempo, percebo que aquilo não era inocente. Fico triste, mas enfim...são opiniões. Recordo-me posteriormente à sua entrevista, a forma como me tratou quando foi preciso fotografar uns meses depois uma artista no CCB. Disse-me: "Epa, a não sei quantas está acima de nós por isso não a incomodes, é uma grande artista". Fiquei parvo. Disse-lhe que acima de mim só Deus e que no resto somos todos seres humanos iguais, além de que se a sra é uma grande artista, então que se comporte como tal! Por várias razões: 1) Para ficar bem na foto fazendo o que lhe peço ; 2) Para quando colocarem meu nome no jornal ser associado a qualidade e não ser apenas mais uma foto e 3) Se ela e você, não estiverem de acordo, digam-me já e vou embora! Mandem CD pela minha colega e ficamos amigos! Minha colega não sabia onde se meter e ele percebeu, pelo menos naquele momento, que não estava ali para brincar. Fiz o trabalho e felizmente ficou bem, mas podia ter ficado melhor se não "falasse" com a artista de modo a ela não aceitar mais fotos. Do melhor...Estes posts apenas me reavivaram a memória para algo que até já tinha esquecido. O respeito que eu tenho pelo trabalho do Sr. Delfim é proporcional ao que ele tem pelo meu ( fotojornalismo ) ou seja 0!!! É a minha opinião, assim como ele tem a dele. Luiz, um grande abraço e continua a fazer deste blog, um GRANDE blog!
Escreveu aqui Mário:
Não há problema nenhum em misturar linguagens, como não há problema nenhum em manter essas linguagens separadas. A questão aqui tem a ver com a incapacidade de muita gente de ver valor em abordagens diferentes. Não precisamos de conhecer a história da fotografia ou das artes plásticas para fotografar, embora ajude bastante, agora para comissariar exposições isso já me parece necessário, assim como uma boa dose de humildade, o que não me parece que aconteca com a pessoa em causa.O que eu vejo aqui é mais uma variante da exclusão social, neste caso aplicada à fotografia. Num plano "superior" (segundo o que se depreende) estarão os "artistas" e depois lá para baixo vêm os fotojornalistas e ainda pior os "amadores". Tudo o que se move abaixo do seu plano iluminado não existe e é apenas pó que acabará por ser soprado pelo vento.Ora assim como é possível tirar gozo estético de uma música de Perotin ou de um rock and roll dos Ramones, também é possível apreciar fotografias produzidas para objectivos muito diferentes, tal como o pepper #30 de Weston, as fotos do Ruanda de Natchway, ou os retratos de Karch.As artes não podem ser um campo de exclusão, baseado em considerações económicas ou de "classe", é o que eu defendo.Há valor em todos os campos artísticos, porque em todos há pessoas talentosas e preseverantes, mas também há muitas fraudes e vaidade humana, e é dessas que nos devemos afastar.
Escreveu aqui Bimooth:
Concordo inteiramente com o comentário de Mário. As modernas formas de expressão artística deixam-me muitas vezes com esta dúvida: sou eu que não percebo ou alguém está tentar enganar-me, sem sucesso? Penso que a melhor forma é deixarmos que a nossa intuição fale. Assim, entendo a arte como aquilo que me estimula os sentidos e a imaginação. Deixar os limites da arte no campo do subjectivo: o que é arte para mim, não será necessariamente para outros. Admito que isto se complica quando há prémios e subsídios envolvidos. E é preciso haver cuidado nos critérios a usar. Parece que hoje, em certos meios, reinam os intelectualóides, que, numa obscuridade que os esconde do cidadão comum, põem e dispõem de recursos que, melhor distribuídos, poderiam estar a fertilizar uma população que já deu grandes provas de ser criativa. E não estou a falar só de dinheiro. O mais importante seriam as oportunidades de pelo menos ser-se visto (fiquei curioso quanto ao trabalho referido da Susan Meiselas, onde poderá ser visto?). Em tempos idos, tivemos alguns grupos de pessoas, que inovaram no campo artístico. O Almada Negreiros fez umas coisas bizarras na sua juventude (aquela conferência, onde aparecia grotescamente vestido, o Manifesto, A Invenção e por aí fora. mas tinha o objectivo de interpelar a sociedade. E a coragem para o fazer. Hoje, certas correntes da «arte» parecem-se mais com pequenos parasitas discretos, que vão sugando aqui e ali...
Escreveu aqui Nuno Amaro:
Fiquei com a sensação que o próprio Delfim Sardo se arrependeu imediatamente do que disse. Mas o que não falta por aí é gente que fala sem pensar. Tenho ideia que o mundo é feito de equilíbrios e que, para existir o belo, tem de existir o feio. Se não fossem os paparazis, nunca veríamos uma Britney careca a partir um carro com um guarda-chuva. E imagens destas também têm o seu valor. Pouco, mas têm.Cumps.
212 à hora rematou:( cuidado porque este tipo é polícia!)
O meu conhecimento de fotografia vai pouco mais além de distinguir um sardo de um robalo (ou de uma tainha), como confesso abaixo.Gosto deste blogue, sobretudo, pelas "provocações com afecto" e de algumas sem afecto, diga-se em boa verdade.Por isso, parto-me a rir com alguns dos posts (por acaso, também vi o programa e o discurso cheirou a "intelectualóide"... mas, aqueles olhos da Paula Moura Pinheiro até põe um homem... cego).E porque gosto do blogue pelas provocações com, ou sem, afecto, não posso de deixar de apreciar a "bestiola" do Luís de Carvalho, já que diz o que tem a dizer, embora ás vezes passe as marcas, mas sempre de cara aberta, com frontalidade. Tomara eu poder fazer o mesmo..., sem correr o risco de me acontecer como ao Hélder Fráguas, do Aqui e Agora.
Paulo Sousa também comentou:
Isto dá pano para mangas!
É claro que existem pessoas que utilizam a fotografia como "um fim" e pessoas que utilizam a fotografia como "um meio".
E cada vez que leio mais, mais baralhado fico.
Por exemplo, como o Jorge Calado referiu numa das ultimas aparições da secção BesArte da revista do expresso, em relação a uma fotografia de Benoliel, escrevia ele que "Esta fotografia vale um tesouro. É, portanto, arte."
Recentemente tivemos a atribuição do "maior prémio de fotografia do país, o besphoto. Mas maior em que sentido? Do valor monetário, claro. E isso é Arte. Se vale tanto, é arte.
Mas este prémio também pode ser visto de outra forma: não se está a premiar arte fotográfica mas está-se a atribuir um valor a umas coisas que dizem ser "fotografia". E se aquelas "obras" valem assim tanto, então são arte, concerteza. O valor que o bes atribui é que lhe concedeu o estatuto de "arte".
Estou desgraçado. Nunca vou conseguir fazer arte. Não consigo que alguém atribua um valor monetário ao meu trabalho. Ninguém daria um chavo pelas minhas fotos...
E como escreve Alexandre Melo num dos seus livros, "Porque é que há obras de arte que custam uma fortuna? Porque há quem esteja disposto a pagar uma fortuna por elas. Pode até acontecer que um pequeno grupo de pessoas esteja disposto a pagar qualquer preço por obras que a esmagadora maioria não quereria nem dadas."
E Fernando acrescentou:
Luiz, veja então isto...o homem que pregou tanto sobre o sistema de zonas do Ansel Adams...vai-se a ver e é uma farsa...as fotos não têm preto nem branco, são apenas cinzentos vários...logo cai por terra todo aquele discurso...só dá vontade de rir (ou chorar)
Veja então aqui
E meu caros para animar a festa hoje à Blaufuks na 2 com a Ana Sousa Dias ( por acaso irmã do fotógrafo Pedro Sousa Dias e tia do Tiago, filho do Pedro).
Haja Besphoto. Amen
Luis de Carvalho, obrigado por destacar aqui o meu comentário sobre "sardos", sendo eu um ignorante em fotografia..., apesar de, ainda assim, distinguir bem um sardo de um robalo ou de uma taínha (ver o seu post abaixo).
ResponderEliminarMas, bolas, não me denuncie com essa de "atenção que este tipo é polícia".
Então, você não sabe que alguns dos seus visitantes sofrem de "bófiafobia"?!
Depois, não se surpreenda que digam por aí que o seu blogue é de "baixo nível".
ehehehehe!!!! Abraço
ResponderEliminar"à, à...". E eu vi e gostei, embora de fotografia ele tivesse falado muito pouco.
ResponderEliminarDe resto, daqui de muito longe desses meios elitistas, artístico-fotojornalísticos-vice-e-versa-ou-nem-por-isso (e ainda bem, ai de mim...!), como resposta à sua tentativa em atirar mais lenha para a fogueira através da Ana Sousa Dias, permita-me aproveitar a deixa: terá o André de Carvalho assim tanta qualidade como fotógrafo que lhe permita apresentar um enorme (e vulgar, digo eu) portfólio numa revista como a "Única"? Ou será porque - por acaso - o papá é quem é?
Quem tem telhado de vidros...
Foi uma surpresa agradável encontrar o meu comentário em post. Uma das virtudes que o seu blog tem é o de trazer para a discussão temas que, na maior parte dos casos, estão fechados nos feudos das elites, passando ao lado do cidadão comum, como eu, mesmo que interessado.
ResponderEliminarDeixo apenas uma pequena observação: o meu «nome de blogger» é Beemoth.
Obrigado e um abraço.