Esta semana assisti a uma conferência de António Barreto, feita para quadros do grupo Impresa, em Paço de Arcos.
Foram mais de duas horas de grande qualidade onde António Barreto fez uma revisão do que mudou em Portugal nas últimas décadas. Ele, que é um pessimista assumido, deu do país um retrato surpreendente em avanços de civilização.
Básicamente disse: Portugal estava fora da zona dos países desenvolvidos antes dos anos setenta, hoje está no clube dos grandes com um pormenor: é o mais pobre dos mais ricos o que lhe acarreta sérios problemas.
Barreto reconhece que houve progressos significativos na nossa sociedade. O mais relevante foi o de termos conseguido uma taxa de mortalidade infantil notável, numa percentagem abaixo da qual já é muito difícil melhorar.
Razão para este sucesso: o de alguém ter formado em tempos um grupo de estudo e acção para o assunto e este grupo nunca ter sido alterado, embora tenham passado por ele algumas dezenas de governos. Talvez distraídos pela existência da comissão ela acabou por fazer um trabalho excelente. Havia um grupo coeso, responsável, competente. Curiosamente este aspecto de continuidade nunca aconteceu nos grandes projectos a prazo.
Portugal é hoje um país europeu, democrático, com níveis de consumo semelhantes aos mais desenvolvidos. Cedo tivémos um número de televisores por cem habitantes quase pleno, somos quase imbatíveis no uso do telemóvel, na utilização de carro próprio, na compra de casa própria, na utilização das vantagens e desvantagens do crédito.
Todos os que estavam naquela conferência convictos que afinal Portugal não é assim tão mau e que, sendo assim, já não precisaríamos de emigrar como o fizeram 2,5 milhões de portugueses nos últimos 10 anos. Outra revelação impressionante: voltámos a ser um país de emigrantes.
Outro número curioso: na última década absorvemos 1 milhão de imigrantes, muitos deles ucranianos que entretanto desistiram de cá viver, e tornámo-nos uma sociedade mestiçada, com a tolerância social capaz de convívio entre credos, raças, culturas.
Antes, em 75, tínhamos conseguido o milagre da integração de 750 mil retornados, sem conflitos nem clivagens sociais.
Quando o ambiente já estava de ego pátrio em cima, Barreto ainda acrescentou que o pior tinha sido a educação:30 ministros em 35 anos de democracia. Henrique Monteiro que falou de seguida começou por dizer, com o seu humor habitual, que Barreto tinha acabado precisamente na altura em que ia começar a falar do que estava mal em Portugal.
E tinha toda a razão. O pior estava para vir mas ficará para outra sessão.
Nesse dia pudémos almoçar mais felizes.
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