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quarta-feira, novembro 01, 2006

Castelo em Lisboa cercado aos visitantes

Bons tempos quando o Costa do Castelo podia levar o carro até à porta de casa.

Sou das poucas pessoas que admite públicamente que detesto aquela treta dos carros fora das cidades. As cidades querem-se cheias de néons, confusão, outdoors, frenesim, carros a buzinarem. Mas também se querem com bons transportes públicos, zonas verdes, esplanadas, segurança.
Nova Yorque consegue este pleno. As crianças brincam em Central Park, o Zoo é em Central Park, os namorados fazem amor em Central Park. A segurança voltou à cidade. Há avenidas cheias de táxis a buzinarem que se cruzam com bicicletas, velhinhos em cadeiras de rodas. Tudo convive e vive bem.
Pode subir-se aos céus, jantar nas nuvens, frequentar livrarias ou restaurantes nauseabundos. É uma cidade universal e diversa no que dá e recebe.
Uma cidade para todos e para todos os gostos. Uma cidade de liberdade.

Lisboa é o contrário disto.
É uma cidade insegura, caótica, cara, com pretensões políticamente correctas.
Hoje voltei a Lisboa. O bairro em volta do castelo foi cortado ao trânsito. Tive de andar por ruas esburacadas com a calçada escalavrada, ruas escuras. Alguém me disse depois: devias ter escondido a máquina. Há dias esfaquearam um turista para lhe tirarem a câmera.
Mas estando a cidade a caír, a câmara não hesitou em cortar ruas, dificultar acessos.
Gostava de saber quem lucra com este esquema, ainda por cima caro. Quem quer ir ao bairro passa a evitar ir, quem tem mesmo de ir é penalisado, quem lá mora pragueja porque nem dois carros pode estacionar.
Uma vergonha mascarada com polítiquice correcta.
A esquerda festiva e ecologistas conseguiram o que andaram anos a apregoar por causa dos carros. A direita viu nesta bandeira um causa boa para apadrinhar: satisfaz a esquerdalhada e como não tem uma ideia adopta esta. Ainda por cima dá dinheiro e mostra serviço, mesmo que as ruas estejam imundas, a calçada parecida com um bombardeamento de Bagdad, os prédios a tombarem para o eixo da rua.

A minha crónica poética de ontem dá hoje lugar a este desabafo. Sei que ninguém me dará razão. Paciência.

Passadas umas horas tive de ir ao novo Prior Velho.
Ali a obra é da câmara de Loures. Construiu a nova zona do Prior Velho como se fosse uma antiga cidade de Leste. Ruas à esquadria, prédios de gavetas em gavetos.
Os nomes das ruas estão escondidos. Aquilo é só para quem sabe.
Descobertos os nomes, parecem uma romagem ao comunismo.
Todas as ruas têm nomes de famosos esquerdalhos, de Severiano Falcão- o tetrassauro comuna- até Salvador Allende. Uma câmara dá-se ao luxo de pôr as toponímias conforme a côr partidária. Uma vergonha.
É este o poder local que temos, que pagamos e que temos de aguentar.

10 comentários:

  1. Realmente a palavra correcta é mesmo "aguentar" se bem que um segundo 25 de Abril...
    :-)

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  2. A propósito de "Benjamim said: ... se bem que um segundo 25 de Abril...".
    Apre! Já não chega no que deu este.
    Antes havia o "Salazar" e meia dúzia de "Lateiros".
    Agora existem milhares de "Salazares Lateiros" que mamam os nossos impostos sem vergonha mas em democracia.

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  3. Nova Iorque é uma cidade nova, quando comparada com Lisboa... Não acho que seja possível comparar as ruas à volta do Castelo com as grandes avenidas de Nova Iorque... Abrir lá o trânsito, em ruas já de si pequenas - o que não é defeito, é feitio -, com o número de carros que existe, significa não haver espaço para os peõs nem para os carros. O resultado é muitas vezes um caos total. Que não é benéfico, porque neste caso equivale a paralesia completa...
    Mas isto é só a minha opinião.

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  4. será impressão minha ou ha aqui um certo saudosismo fascizóide??

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  5. Lol
    Pressinto um anti-esquerdismo bastante enraizado, não sei se objectivo ou não, mas também não me diz respeito.

    Prior Velho não conheço mas conheci, lá para 70 ou 72, e dificilmente acredito que esteja pior do que era: sem estradas, sem passeios, prédios de 3 andares plantados no meio do nada, tascas a crescer entre baldios ou a florescer na berma do único pedaço de alcatrão do sítio.

    Lisboa, seja Castelo, Alfama, Bica, Madragoa ou outro qualquer bairro antigo, tem as suas características. Foram construídos para cavalos e algumas, poucas, carroças. Quem lá vive deve ter consciência disso e ponderar se quer habitar num local castiço, com história e todos os outros re-beu-beus, ou usufruir da comodidade (relativa, na cidade de Lisboa) de ter um carro à porta ou na garagem. As duas coisas, dificilmente são compatíveis.

    O que acho realmente lamentável é que as ruas continuem esventradas e a rede de transportes, para as áreas, similares ao que eram há dezena de anos, ou que os RECRIA’s aparentem tanta lentidão.
    Mas garanto-te que: buracos, prédios a tombar, ruas emporcalhadas e… carros… a coisa resultava muito pior, até para o gajo que quisesse simplesmente passar no seu utilitariozinho, tendo de fazer uma série de manobras para virar a esquina de 70º.

    Pessoalmente, já lá não ia antes do fecho das ruas ao trânsito (que não sei em que fase está) simplesmente porque já considerava aquilo intransitável. Quando não posso deixar de ir: autocarro 37, eléctrico 11 ou 28 (há estacionamento ou metro na Praça da Figueira e Martim Moniz). Depois, há o táxi.
    Também podemos sempre arrasar a área, o que já me parece difícil é inserir, numa das colinas da cidade, um central park, mesmo que à nossa dimensão.

    Mas concordo que o planeamento, mesmo das zonas recentes da cidade, se é que existente, se mantém algo duvidoso e a rede de transportes desajustada da realidade habitacional.

    Nova Iorque não sei… ser turista nunca é o mesmo de ser autóctone.

    (Essa foto é falaciosa ;) Sejamos realistas, quantos carros existiriam em Lisboa por essa altura?)

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  6. A propósito de "Sweetnovember", sobre "ou é impressão minha ou há aqui um certo saudosismo fascizóide".
    Impressão sua...
    Quanto a mim, não tenho impressão nenhuma... e muito menos "anti-esquerdismos".
    O problema é que a nossa democracia, em muitos sectores da nossa sociedade, se tornou salazarenta.
    E a "classe" política é, de facto, "lateira", servindo, sobretudo, para "mamar" os nossos impostos e dar emprego a muita gente que nunca fez nada na vida de produtivo.

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  7. Pá, o bófia a 200 é o orson teles?
    (isto é mera curiosidade)

    à esquerda ou à direita, é fatal, os extremos tocam-se e as diferenças, na prática (o destino final dos nossos impostos), são poucas.

    Gajos de mangas arregaçadas, miolo na pinha e os ditos negros, à esquerda ou à direita, tanto me faz, é pelo que clamo. Também podem ser gajas, têm é de ter ovários rijos!

    Agora... toda a real carreta entrar no Castelo, que era o primeiro assunto do post... amiguinho!

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  8. O "bófia a 200 à hora" não é o "orsen teles"... É mesmo um bófia, a sério. Só não tem "ovários rijos!"... Talvez antes, testículos, e rijos, por enquanto.
    Também não é de esquerda nem de direita.
    Mas, sobretudo, é suficientemente esclarecido para perceber que a democracia que temos é uma treta.

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  9. Hmmm... o respeito que nutro por bófias é muito semelhante ao que tenho por políticos.
    Embora no parecer sobre os bófias ainda me falte a tal excepção que dizem confirmar a regra.

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  10. Muito bem "leonoreta"!
    Estou encantando com os seus "respeitos".
    Já agora o meu caro amigo, ou amiga, tem "ovários" ou "testículos", tem "miolo na pinha", é "branco" ou é "preto"...?
    Espero é que não tenha os "testículos na pinha".
    É que à excepção dos "testículos", o restante léxico muito edificante é da autoria da minha queridinha "leonoreta".
    Estava a ser uma conversa muito edificante... mas vai ficar por aqui... Sobretudo, por respeito ao autor do blogue.

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