Não resisto a escrever sobre este tema, embora saiba que vou ser desagradável.
O tema é o dos falsos artistas da fotografia.
Confesso-me chocado quando vejo uma fotografia de Paulo Catrica ( que não conheço e que suponho ser uma excelente pessoa) fazendo parte do espólio do Banco Espírito Santo como sendo uma obra de arte definitiva.
Ora a fotografia em questão é de uma banalidade confrangedora com a agravante de conter erros técnicos básicos como seja a má calibração dos brancos. A fotografia está verde.
A imagem foi tirada no interior do belo edifício da Impresa, onde eu trabalho, onde eu vivo 12 horas dos meus dias ( num horário optimista) e pergunto-me como é possível ter a lata de fazer uma imagem tão banal ainda por cima num cenário lindo de luz, reflexos em vidros, elevadores transparentes, gente em movimento, repuxos de àgua e até, acreditem, mulheres bonitas a passarem a um ritmo de várias por minuto ou por metro quadrado.
Catrica deve ter montado o tripé, esperado que aquilo ficasse às moscas, escolheu uma hora onde o contraluz era incontornável e disparou. O resultado é de uma frieza arrepiante, de uma total falta de sensibilidade para interpretar um cenário com aquela grandiosidade.
Esta postura de despojamento, distância e ignorância técnica, embalada em tiragens de grande formato, feitas por competentes laboratórios fotográficos, dão a muitos destes artistas um estatuto de eleitos: são votados por júris de incompetentes ( caso do júri do Besfoto) que sem saberem ver nem fotografar tornam-se nos fotógrafos mais representativos da nação.
Digo isto sem despeito. Sou fotojornalista e não pretendo entrar no reino dos céus.
A verdade é que estes tiques pegam: basta que cada um deles acerte no seu próprio estereótipo para isso se tornar em estilo.
Depois do sucesso basta repetir a fórmula.
L`artiste ! Nunca falha.
As imagens mais banais fotografadas em 6x6, impressas em grande e se possível montadas numa vistosa moldura negra ( que aliás eu bem gosto) ficam a matar.
Penduradas numa galeria são arte, com o lobbie dos amigos à volta um acontecimento .
A fotografia não interessa. O acto de fotografar não conta.
A técnica é para técnicos não para artistas.
Desfocado é estilo, tremido é in, mal enquadrado é demolidor.
Os ignorantes não percebem, logo: gostam porque é diferente e se é diferente é arte.
Os bancos pelos vistos pagam bem estes devaneios e o comendador Berardo, qual Midas, já pensa em transformar nitrato de prata em ouro.
Com jeito Sócrates compra para espólio estatal.
Nós fotógrafos devemos pôr-nos sempre em causa.
Temos de ultrapassar as resistências à mudança de nós próprios porque achamos que se fizermos sempre como nos aceitaram, e bem até agora, temos a vidinha a salvo.
Temos de saír dessa àrea de conforto e arriscar, mudar todos os dias. Pôrmo-nos em causa antes que alguém nos ponha.
Isso é bom e permite-nos andar para a frente.
Não é insegurança é irreverência.
O acto de fotografar é para olhares amestrados e não para diletantes.
Morte aos Dantas. Ponto.
Tenho de digitalizar a tal foto depois pô-la-ei aqui. Entretanto poupo-vos o martírio de olharem para ela ::)))
Compreendo o que escreve, caro Luís, mas tenho a impressão que há muitos Dantas no dito fotojornalisma. Não quero referir nomes, mas às vezes saem cada borrada... mas algumas vezes a culpa não é do fotógrafo. Por exemplo, o Alexandre Almeida, julgo que é assim que se chama, publicou no sábado fotos em duas revistas: Notícias Sábado e Tabú, estas últimas estavam horrorosamente impressas, enquanto que as primeiras tinham boa qualidade. A Sábado, por exemplo, há dias publicou uma foto de Manoel de Oliveira "borrada" de azul. Há muitos Dantas no fotojornalismo. O seu colega Rui O. também tem mais fama do que jeito. Afinal, o que faz a diferença: é ter amigos no sítio certo ou é tudo resto? Há fotos ditas de arte que eu com a minha modesta digital também fazia, e com tanto grão como aquelas...
ResponderEliminarEsta deve ter doído a quem tem feridas. Isto é, pôs o dedo na ferida. Aguardam-se reacções das diversas "capelas" em que está repartido o mundo da Fotografia em português. Mal de que o fotojornalismo não se escapa.
ResponderEliminarMuito bem escrito.
Clap Clap clap. Já andava a pensar colocá-lo nos meus links para vir cá mais vezes. Com este post e os da WPP é de vez. Porque não se discute em público estes e muitos outros aspectos ligados à fotografia em Portugal? Há um buraco tão grande a nível de discussões saudáveis e de confronto de ideias...
ResponderEliminaranonynous:
ResponderEliminarPenso que o que fala tem apenas a ver com o facto de não se utilizarem perfis de calibração de monitores. O fotógrafo teria um perfil para cada orgão com que trabalha e a certeza de que tudo sairia perfeito. Os orgãos teriam a certeza de que o que é impresso não seria uma roleta russa. Quando editores, meios de comunicação, fotógrafos e gráficas os utilizarem será um grande passo para a fotorafia. A qualidade do papel utilizada também influencia.
Agora fiquei curiosa com a dita fotografia...
ResponderEliminar"A fotografia está verde"?!
ResponderEliminar"Erros técnicos básicos"?!
Caramba, este post é um conjunto de banalidades constrangedoras.
Leitura aconselhada a este respeito: http://theonlinephotographer.blogspot.com/2006/06/great-photographers-on-internet.html
R.F.
Acho que o Luiz Carvalho está tb a ser um bocadinho Dantas, porquanto
ResponderEliminarestá a afirmar que é o detentor de toda a verdade sobre Fotografia.
Que todos os outros não percebem nada da coisa, mas que os topa à distância...
Se soubesse um bocadinho mais de História da Arte, em geral, saberia
que esta sua atitude sempre apareceu, cíclicamente, ao longo dos tempos, na Música, na Escultura, na Pintura, e, claro, nesta actividade bastante mas recente que
todas as outras, que é a Fotografia. Stravinsky foi apupado em Paris (que na altura
era um cadinho de forças criativas e uma cidade esclarecida e culta) violentamente
por altura da estreia da 'Sagração da Primavera'. Só para dar um exemplo. Mas todos sabemos que essas reticências contra 'a coisa nova' sempre aconteceu, inclusive dentro do próprio meio artístico! Veja-se também o caso d' "A Fonte" de Marcel Duchamp (o urinol virado ao contrário) que foi se calhar a obra que mais influenciou a Arte no séc. XX! Se não tivessem surgido novas maneiras de ver as coisas, ainda andaríamos, por exemplo, a ver pinturas com santinhos e virgens marias...
Que há Dantas na Fotografia Artística? Claro que sim. Mas tal como a pessoa que
lhe responde logo em primeiro lugar, também os há no Fotojornalismo. Pim!
Eu penso que não deveria haver qualquer 'inimizade' ou incompreensão entre os dois
mundos (que muitas das vezes se tocam) porquanto têm objectivos bem diferentes.
O Fotojornalismo, se bem que esteja hoje bastante diferente dos tempos em que Capa
fotografou o soldado na Guerra Civil Espanhola, não se poderá nunca distanciar do seu objectivo: informar. Já o nosso Molder diz que uma fotografia não tem de lhe dizer nada! O fotógrafo que assim explora a Fotografia, pode experimentar e fazer o que lhe der na real gana, como forma de explorar novos caminhos, de abrir novos horizontes. O que será que o Luiz de Carvalho vê, por exemplo, na exposição que o José Luis Neto teve na Gulbenkian, 'Continuum'? (Imagens a p/b, qual código de barras, ao longo das paredes). Se estiver à espera de ver pessoas, e movimento, e informação, decerto sairá bem decepcionado. Eu sugeria-lhe, que abrisse um pouco mais a mente, que estivesse mais receptivo a novas ideias, o que decerto o tornaria um ainda melhor fotojornalista.
Se muitos dos trabalhos de hoje ficarão decerto pelo caminho (talvez os do Catrica fiquem, talvez não), muitos deles abrirão novos rumos à Fotografia, e onde, estou certo, até o Fotojornalismo poderá ir beber.
E o Dantas-mor, o Molder?...
ResponderEliminarBem, partir de Catrica e chegar a Stravinsky ou a Duchamp, não é necessario perceber de história de arte , é preciso ser louco mesmo.
ResponderEliminarAcho que aqui o que está em causa é de longe questões técnicas, até porque muitos dos grandes fotógrafos que existiram até hoje não percebiam nada de técnica (começando por bresson, que para ele câmara escura era mentira) e por vezes até mesmo de estética.
O problema aqui é a versão básica e banal que o Catrica faz da impresa ou de qualquer espaço, tornando-a/o numa imagem mentirosa e sem ponta por onde se lhe pegue. Pois dúvido que o rapaz saiba o que quer que seja daquele edificio ou da vivência no próprio para além que é grande e que é capaz de ficar bem num rectangulo.
Quanto au urinol, meu caro, não se fie tanto no que lhe é vendido pela história de arte, o urinol ou a fonte como lhe queira chamar foi feito (ou colocado) precisamente para ser falado como critica e não para ser apreciado, pois suponho que até duchamp se fartaria de rir se entrasse numa casa de banho e o visse a apreciar a bela fonte.
Se bem se recorda dos seus livros de história de arte, picasso conta que a arte é uma mentira que ser para falar de uma verdade. Ora na pseudo foto de catrica nem se vê a mentira nem se encontra a verdade.
os melhores cumprimentos
Anacleto Dominador
Não parti de Catrica para chegar onde cheguei. Parti de uma atitude,
ResponderEliminara de criticar a arte contemporânea pela ausência daquilo que o Luiz Carvalho
acha que toda a boa fotografia deve ter, para referir que esse é um erro
recorrente em toda a história da arte, e que acontece aos mais bem intencionados.
E em que acho que o Luiz Carvalho está a cair. Mais acrescento, que as fotos de Catrica até nem trazem a novidade e a ousadia que fizeram a arte dar pulos para a frente,
mas garanto-lhe que estão na linha de uma corrente estética contemporânea
que se afirma neste momento um pouco por todo o Mundo. Goste-se, concorde-se, ou não.
Discordo ainda de si, em absoluto, quando afirma que aqui se trata de uma questão
técnica. Penso que as fotografias de Catrica foram tiradas com câmaras de grande
formato, o que logo aqui indicia alguma técnica. Mas em fotografia artística, (seja lá
o que isso for - é apenas para que nos entendamos), garanto-lhe que a técnica é
um dos factores, mas absolutamente secundário. A ideia é o mais importante! Se a arte fosse apenas uma questão de técnica, o Mundo estava cheio de artistas! Garanto-lhe que consigo fotografar um girassol, num dia de verão, com umas cores lindas e saturadas como nunca viu. Técnicamente irrepreensível! Acha que isto garante acesso imediato aos Museus ou Galerias? Ainda bem que não!
Quanto ao nosso amigo Marcel, é também óbvio para mim que foi um provocador.
A começar pelo facto de nunca ter explicado de que tratavam as suas obras...
Mas é também um facto que fez o mundo da arte dar uma reviravolta, apesar de ter
sido olhado de lado por muitos.
(Já agora decida-se, a imagem de Catrica é uma imagem mentirosa, ou não se vê nela mentira nenhuma?).
Um abraço!
gostava de ver a foto Luiz :) para me pronunciar :)
ResponderEliminareu da instituição bes e da sua mecenice"" em área de fotografia, digo que a função de cobrar juros apesar de tudo fica melhor a essa instituição...
quanto ao resto é sempre verdade...horizontes são para quem os vê num vale...essa é a verdadeira fotografia e arte :)
abraço
Fernando Gabriel
uii q o catrica dá pano para mangas....
ResponderEliminarque o luiz carvalho não saiba de historia de arte.. é um pouco estranho, pois pelo que li é arquitecto, e como arquitecto que é... penso que deve ter estudado historia de arte.
aquela foto não é uma obra de arte, e não é incompreendida.. é simplesmente banal, e como retratista que o sr catrica aparenta ser.. o minimo que se pedia é que fosse perfeito tecnicamente, pois criativamente está longe de ser artista;)
Estava decidido desde o inicio e explicito, é visualmente de uma verdade tão banal que comunica uma mentira...quando na verdade o mais interessante seria sempre uma grande mentira que comunica-se uma ainda maior verdade...
ResponderEliminarabraço
anacleto
Não sou iletrado e sei distinguir os meus gostos pessoais daquilo que mesmo não gostando tem qualidade. Fotografia não tem de ser fotojornalismo, apesar de fotojornalismo ter de ser sempre fotografia ( mais uma La Palissada de arquitecto::)).
ResponderEliminarPlease não me digam que a foto de Catriga é arte. Se quiserem que seja sejam felizes. Mas então o Alberto João Jardim é o Churchil da Madeira.
Onde é que aprendeu a avaliar fotografia? Confesse lá que sentiu uma pontada de inveja quando viu que o BES tinha comprado uma fotografia de um autor de quem obviamente não gosta, quando você até faz umas fotos jeitosas com a sua máquina digital...
ResponderEliminarOnde aprendi a avaliar fotografia ? Voçê além de anónimo é idiota, Eu incomodado com os apoios do BES ? Tenho mais quefazer. Achoa foto simplesmente..um merda.
ResponderEliminarpois, é fotojornalista, logo um especialista em fotografia! Um historiador da fotografia! Eu também jogo futebol. Será que isso faz de mim um especialista em futebol? Os seus comentários são de um mau gosto incrível! aconselho-o a ler alguns livros de história de fotografia e a educar-se pois a sua opinião nem sequer é fundamentada. Pelo que vi no seu blog, para si uma boa fotografia é um retrato a preto e branco de uma menina com alguma parte do corpo desnudada. Respeito isso mas aconselho-o a aprender a respeitar e a informar-se do trabalho de outras pessoas antes de as atacar com comentários tão mesquinhos. Ou será que um jornalista que escreve um artigo que você não gosta, passa a ser automaticamente um jornaslista de merda? Eduque-se!
ResponderEliminarNão esqueçamos que sempre existirá a boa fotografia independetemente da precisão tecnica. A fotografia em que esta faz parte da beleza da imagem, por sorte ou por projeto tanto faz.
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