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domingo, setembro 17, 2006

Sol final

O meu comentário de manhã foi a quente.
Mantenho o que escrevi mas limei algumas frases.

Ficaram ainda mais àcidas.

Eu nunca iria para o Sol porque não acredito em projectos nascidos para matar.
E não acredito em jornalismo feito à anos setenta.

Os jornais mudaram muito na América e na Europa porque tiveram de acompanhar os novos públicos. Não é possível fazer jornais feios, com intrigalhada política, faits-divers para papalvos, sem estilo, sem qualidade.

Um jornal de referência tem de ter qualidade.
Começa no grafismo, passa para as fotografias, infografias, acaba nos textos ( também eles mais apelativos, sintéticos, informativos e curtos).

Ora, o Sol não tem nada disto. É um produto já visto em melhor. Como escrevi de manhã:
É como os carros de Leste nos anos 70: começavam a fabricar modelos que o ocidente tinha posto de lado.

O Sol até pode vingar, e oxalá isso aconteça, desejo-o do fundo do coração.
Não vivo feliz com o insucesso dos outros e acho que a concorrência sã é mais que desejável.

Agora acho que nasceu mal: não é um projecto novo, inovador. Não terá nunca o papel que o Público teve na imprensa portuguesa de noventa.

o Sol chega a parecer um caso psicótico( dá pena) com secções copiadas de outras existentes no Expresso, e que desapareceram, com soluções gráficas que foram usadas até à exaustão, com uma política editorial entre o sensacionalismo e o light medíocre, e que foram em certa medida responsáveis por o Expresso ter perdido 30 mil leitores em 3 anos.
Esta é a verdade.

Faz-me lembrar aqueles quarentões que foram enganados pela mulher e acabaram por arranjar uma semelhante mas mais feia e mais velha ( e mais pobre!).

Nem quero com isto dizer que o Expresso é agora um jornal virtuoso, sem defeitos. Nada disso.
Temos de ter todos a humildade de olharmos para o que fazemos e melhorarmos sempre mais. E teremos muito a melhorar.
Só que o Expresso não se renovou contra ninguém. Só se renovou para ser um jornal melhor, cada vez melhor.

E isso eu sei que vai conseguir. E não precisará de desejar o mal de ninguém.

E daqui redobro os meus votos sinceros de sucesso ao Sol.
Até porque o Sol quando nasce é para todos e já dizia o camarada que "um dia" brilhará para todos nós. O que vale é que eu não sou comunista logo não tenho de subscrever.

2 comentários:

  1. A última noite sem Sol

    Hoje é uma longa noite de vigília. Amanhã, quando voltarmos a despertar, já haverá dois sóis no horizonte. Um traz a Vida, o outro, a Farsa.

    Nós atravessamos um tempo de trevas, e, por detrás do seu alegórico oxímoro, este "Sol" nada mais trará do que mais noite.

    Nada, nele, ou em tudo o que o envolve, é novidade ou surpresa. No final do passado 2005, num mesmo dia de dor, espanto e sobressalto, também compreendemos, que, subitamente, num momento crítico de viragem, Portugal tinha decidido enrolar-se, como um feto, em redor do seu próprio umbigo: aquela miraculosa geração intermédia, dos 30, 40 e 50 anos, que deveria ter-se então manifestado, na criação da figura de um Presidente da República para um Novo Milénio, pura e simplesmente, não existia, ou tinha sido estrangulada. Em troca da renovação, apresentavam-nos um prato reputado intragável, Cavaco Silva, e o resto da história já vocês conhecem: o ancião Soares que se presta a fazer-lhe frente, o ressentido Alegre que aparece, para fazer frente à frente da frente, e dois candidatos laterais, que ali foram, medir forças, e acertar décimas, nas contagens de eleitorado.

    Nunca o disse, e vou dizê-lo aqui: Cavaco, Soares e Alegre não passavam de três cangalhos, obsoletos, e representantes de um Passado que a minha geração, entre outras, tinha tacitamente considerado como fazendo parte da História, não de qualquer futuro.
    Nós, jovens de Portugal, fomos escandalosamente burlados, por uma fatia geracional, responsável por muito do atraso e dos abusos que diariamente presenciamos, e que, afrontosamente, mostrava, preto no branco, que não estava disposta a abandonar os postos de vigia e conservação do Estado de Coisas: o Sistema "renovava-se", voltando, descaradamente, a chamar ao palco os velhos actores empalhados.

    A Intoxicação Social, que, grave, e quotidianamente, detectamos estar ao serviço desse mesmo miserável Poder Político, também necessitava agora da sua "renovação". E também a vai ter: chama-se "Sol" e é a Sombra Enorme da miríade de coisas mórbidas que, durante décadas, enformaram esta coisa a que nos confinámos: a estrangulada Cauda da Europa.

    O "Sol" nada traz de inovador. Se quiserem uma simples imagem, que possam transmitir aos vossos amigos, ele é uma farta operação de cosmética, que, através do colorido de lápis de cor virtuais, tenta apresentar, como uma banda desenhada renovada, a intragável história parda a que nos reduziram o nosso dia-a-dia nacional.

    Há outra coisa que é fundamental que aqui se diga: o Arquitecto Saraiva é um medíocre; mais, ele é o medíocre típico português, o manga-de-alpaca das meias ideias, das palavras fracotas e das iniciativas de curto alcance. É capaz de tudo, e está, novamente, numa posição para ser regiamente pago para poder ser, em plena luz do dia, capaz de tudo.

    O Sonho Português sempre passou por castrar os seus melhores talentos, e entregar os lugares de topo a indivíduo dos quais a História não reterá... nada. Como corolário, a pirâmide do medíocre é um lugar volumétrico, cujo vértice é o Medíocre, por antonomásia, e que se vai alargando, na direcção da base, mediante o acrescentar de medíocres ainda mais medíocres, ou de indivíduos cuja desfaçatez e falta de verticalidade permitem servir sob as ordens de alguém que sabem ser profunda, e irremediavelmente... medíocre.

    Nós, cidadãos que vivemos outros mundos e outros horizontes, contamos com mais um inimigo no nosso campo. Já desligávamos os noticiários, pelos insuportáveis e manipulados vinte minutos de vómito futebolístico, que, simultaneamente, tentavam apresentar, como empolgante, uma vertente pretensamente desportiva, que toda a gente sabe ser um dos rostos da Actividade Criminosa, em Portugal. Comam-na durante meia hora, mastrubem-se com os "ídolos" por ela criados, esqueçam-se de que, lá para o fim, ou em bandas rotativas de rodapé, estão a desfilar, vertiginosamente, as notícias que vos vão amolgar profundamente o Quotidiano, o Futuro, e, mesmo, a visão de sonhos passados. Esqueçam os jornais: há quem tenha poderes -- sempre os mesmos -- para comprar capas e cadernos inteiros de revistas, reportagens forjadas, branqueamento de personagens e processos, douramento de pílulas inexistentes, venenosas e omnipresentes.

    No seu arrancar, a Blogosfera Portuguesa deverá, um dia, ter sonhado com tornar-se o nosso pequeno contributo para a maré informativa do cidadão comum da Aldeia Global: troca imediata de informações, comentários lúcidos, trabalho gratuito, para oferecer a amigos e leitores desconhecidos, um pouco do nosso melhor talento. O que seria o "Braganza Mothers", se pudesse ter, por detrás, todos os dinheiros turvos da Opus Dei...

    Felizmente não os temos, e, felizmente, ainda estamos a conseguir escapar a outra maré ainda mais preocupante, a desta roda livre de palavras e murmúrios se estar toda a alinhar, e a importar, para o seu lugar de "graffiti" virtual, a massa inteira dos vícios de forma e relação da nossa Realidade Enferma.

    Como conclusão, hoje, curiosamente, Benedito XVI, pessoa sobre a qual todos sabem o que penso, terá citado -- contaram-me -- a figura de alguém que faz parte dos meus heróis, Constantino XI, Paleólogo, o derradeiro lutador pela independência das muralhas de Constantinopla contra os avanços do Infiel Turco. Deverá ter sido a única vez em que Ratzinger e eu teremos abordado o mesmo tema da mesma forma, o que não deixou de me surpreender. Com a morte de João VIII, Paleólogo, o último Constantino ter-se-á ajoelhado, numa célebre pedra de Mistras, e recebido, no Despotado da Acaia, a herança imperial, com a qual se apresentou, duas semanas depois, em 13 de Novembro de 1448, às portas de Constantinopla. O seu reinado foi curto, e durou, como se sabe, até à célebre noite de 30 de Maio de 1453. Com a Queda da Cidade, quase deserta e empobrecida, celebravam-se as exéquias de mais de dois milénios de Luz e Civilização Romanas.

    Esta noite, a última noite sem "Sol", é como essa Noite de Mistras. Em conjunto, mais uma vez, vamos ter de partir, para a defesa das últimas muralhas da Luz, e é para essa terrível viagem, como para tantas outras, eventualmente menores, e passadas, que, mais uma vez, vos convido.

    Apenas vos menti numa coisa: esta é a última noite, mas já é uma noite com "Sol". Ele está aqui (www.sol.pt). Pedir-vos que resistissem a visitá-lo era um pedido equivalente ao de Eva, feito pelo Criador. Eu sei que são humanos, e transgredirão, porque eu também sou, e também já lá fui.

    Coragem.

    (Nota, o Basileus citado por Ratzinger é Manuel II, Paleólogo. A incorrecção em nada subverte o sentido do texto)

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  2. Aqui nos reencontramos.
    Amanhã, já inserirei o seu blogue nas nossas hiperligações".
    Força :-)

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