Páginas

segunda-feira, setembro 18, 2006

Fungá-gá da bicharada

Há muito tempo que não ia ao Jardim Zoológico de Lisboa.

Depois das insistências do meu David, 5 anos, lá fui com a ilusão de ali reencontrar algum ambiente daquelas distantes tardes dos anos sessenta quando o meu padrinho, um engenheiro do topo da excelência do ministério de Duarte Pacheco, me levava ali como missão de pelo menos uma vez por ano cumprir o seu papel de padrinho.

Fiquei deprimido. O Jardim Zoológico é hoje o espelho do país. Os animais mal se vêem, estão tristes e fechados em recintos decadentes, patrocinados por mecenas de subúrbio. O custo das entradas é uma afronta ( 35 euros 2 adultos e uma criança) e a qualidade do serviço prestado ao utente está ao nível da Feira Popular que Santana matou num dos seus golpes de incompetência.

Para uma criança ver os animais tem de andar quilómetros. A sinalética não funciona. Tudo aquilo tem um ambiente pobre e triste, um cenário povoado por gente da província e muitos imigrantes que sacrificaram um razoável pedaço do seu salário para verem uma galeria de animais aprisionados. Nada daquilo tem alegria, pedagogia, amizade pelos bichos.

Claro que sou um exagerado e faço de pormenores muitas vezes dramas. Mas foi o que senti.
Até o teleférico que passa sobre o jardim raramente deixa ver os bichos, excepto os leões e as girafas. A maior parte do percurso vêem-se àrvores e mesmo um depósito de entulho que há a norte do recinto.

Esta visita que o meu filho adorou, principalemente pelo comboio e pelos carrinhos de feira, deixou-me a pensar noutras realidades nacionais. e uma delas, porventura a mais dissimulada no quotidiano, tem a ver com esta nossa tacanhez de não admitirmos que devemos ser melhores, com padrões europeus. Falta-nos ambição nos nossos projectos. Ficamos contentes com o adquirido, com aquilo que nos protege: a mediania e a rotina.

Quer se trate de feiras de diversões, jornais, televisão, fotografia, investimento, por aí fora, ficamos contentinhos com o esperado e trememos com o inesperado.

Portugal está a viver um dos momentos mais cinzentos da sua História. Por isso não crescemos. Quando avançamos fazêmo-lo sem ambição, sem ousadia, sem alegria, sem rasgo.
Eu próprio sinto-me muitas vezes a gerir estas rotinas e estes medos de ousar, talvez porque quando ouso demasiado apanho depois o ricochete.

Não é por acaso que este Presidente que uma maioria tangencial elegeu é o arquétipo do que eu acabo de escrever. Temos um Presidente que quer o consenso a todo o preço, como se as alianças e a unicidade de pensamento e de acção fossem vitais para a democracia e não o contrário.
Os países precisam de debate, divergências, luta política, ideias em confronto, discussão.
Um país não precisa de " àmens", precisa de vigor e debate de ideias.
É isso a política, é isso a democracia.
Os portugueses podem estar a apreciar esta modorra mas vão mais uma vez pagar caro este cinzentismo, esta falta de rumo, esta rendição.

Neste contexto percebe-se como os projectos medíocres podem triunfar, tal como têm ganho os patos bravos que fizeram de Portugal um território de entulho betonado.

Amanhã é outro dia. É o que nos vale. E o melhor é não fazermos mesmo vida de ursos.

6 comentários:

  1. Encontrou por lá a "Missa Fardas"?... :-)

    ResponderEliminar
  2. Caro Luiz

    No passado mês de Agosto estive no Jardim Zoológico, paguei 35€ ( 2 adultos e 1 criança), vi alguns animais e MUITAS obras.Obras de beneficiação, dizem eles. Não consigo compreender como ainda continuam a enterrar dinheiro naquele Jardim já sem condições de expanção, onde alguns animais estão confinados a espaços exíguos porcos e feios. Porque não tirar o Jardim de dentro de Lisboa e construir um novo e com todas as condições necessárias para os animais? Sobre aqueles quiosques de venda de gelados nem quero falar. Almoçar por lá...aconselho a escolherem bem o restaurante, ou levar a carteira bem recheada. O estacionamento é outro problema...nem vale a pena falar. Enfim, uma ida ao Jardim Zoológico sai caro, muito caro para aquilo que vemos.

    ResponderEliminar
  3. quanto ao Jardim Zoológico não concordo com o que disse do próprio jardim. Acho que está bastante melhor, com melhores instalações os animais com melhor tratamento do que há 20 ou 30 anos ou mesmo há 12 anos quando recomecei a ir lá desta vez como Pai já quanto aos preços 100% de acordo.já quanto à parte politica do post 100% de acordo também o importante é não comprometer os interesses dos patos bravos ou barões da caliça como o meu Pai lhes chamava.

    ResponderEliminar
  4. Caro Luiz

    Um assunto que nada tem a ver com Jardim Zoológico.
    Já viu a nova M8 Digital da Leica? Seria porreiro ter um comentário seu sobre esta nova Leica.

    ResponderEliminar
  5. Podengos portugueses fulvos

    ResponderEliminar
  6. Concordo Plenamente com o comentário original e acrescento: Educação e Sensibilização das novas gerações para uma cultura de protecção do ambiente, protecção da natureza, preservação das espécies, preservação dos ecossistemas e habitat naturais, bla, bla, bla... Que desastre!!! Que País!!! Será que já sabem tudo ou não conseguem aprender com o que de melhor se faz por este mundo fora?

    Desde a "simpatia" de quem cobra os bilhetes, ao cargo de "pica" (igualmente simpatico/a) que julgava extinto à uns anos, até à celebre: -se não vai tirar fotografia ($$$$$) não pode ver de perto tucano (expliquem isto a uma criança de 3 anos...). Mas há mais. Eu é que já não tenho pachorra nem disponibilidade, nem predisposição para estar a pregar aos peixinhos, muito menos de oferecer pérolas a porcos...

    A única coisa que se safa mesmo são os animais, porque as bestas, essas não passaram disso mesmo.

    ---------
    Este Blog é *****

    ResponderEliminar