Estão a desaparecer os meu mestres. Eu gostava muito do Fernando lopes.
Com ele aprendi vendo Belarmino ( uma quase co-autoria com Mestre
Cabrita) que o cinema pode ser emotivo, simples, fotográfico, romântico,
malandro, experimental e ter jornalismo dentro. Com Uma Abelha na
Chuva, onde está o mais belo plano sequência da História do cinema ( uma
estrada nublada onde se ouve primeiro o som de uma charrete e depois a
vemos aproximar até nos passar em cima), percebi que o melhor
cinema não é só uma história mas a poesia que a imagem E O SOM
estabelecem como narrativa. Aprendi que a montagem é a arte da surpresa
no tempo de cada plano e no movimento dentro dele, aprendi como o som
fora de campo é a continuação da "vida" para lá do écran.
O
Fernando Lopes tem uma história de vida que também dava um filme. Veio
novo para Lisboa ( a sua saga é contada em Nós Por Cá Todos Bem) começou
como dactilógrafo na RTP até João Soares Louro ( outro grande homem da
RTP) o ter ido buscar para a montagem de reportagens. Era um
auto-didacta que aprendeu com mestres, que falava em Henri
Cartier-Bresson, que admirava Cabrita e que era amigo de Gerard
Castello-Lopes.
Foi director do Canal 2 da RTP quando se fez o
canal mais ousado e experimentalista de sempre com gente de grande
gabarito como Hernâni santos, Letria, Júdice, Mega Ferreira e outros
lunáticos do jornalismo. o canal que Proença de Carvalho mandou abater
quando foi para administrador da RTP nomeado pela AD.
Era um
apaixonado e a sua vida com a Maria João Seixas daria outro filme.
Casaram, separaram-se e parece que queriam voltar ( ou voltaram) a
casar-se.
Estive com ele 2 ou 3 vezes. A última a fotografá-lo
ao balcão do Gambrinus, o lugar onde ele queria pôr uma placa: aqui
esteve um homem que vivia acima das suas posses.
Gostava mesmo
dele e era uma pessoa em que pensava muitas vezes. Pensei várias vezes
em lhe telefomar para o filmar em estilo documentário e para ele me
repetir o que me disse há 25 anos para um documentário que fiz sobre o
meu querido mestre fotógrafo.
Imagino a sua décopage quando
chegar ao Céu. Plano do azul do céu, panorâmica vertical até apanhar o
horizonte muito em baixo à Deserto Vermelho. Plano 2: Parede branca,
panoràmica para a direita e ao longe uma mulher saída de uma estrada sem
fim. Obrigado Fernando.
Soube agora, por esse post, da morte do Lopes. Senti uma saudade estranha e arrepiei com sua chegada ao céu.
ResponderEliminarUma notícia triste, mesmo.