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quarta-feira, maio 02, 2012

Fernando Lopes, adeus Belarmino!

Estão a desaparecer os meu mestres. Eu gostava muito do Fernando lopes. Com ele aprendi vendo Belarmino ( uma quase co-autoria com Mestre Cabrita) que o cinema pode ser emotivo, simples, fotográfico, romântico, malandro, experimental e ter jornalismo dentro. Com Uma Abelha na Chuva, onde está o mais belo plano sequência da História do cinema ( uma estrada nublada onde se ouve primeiro o som de uma charrete e depois a vemos aproximar até nos passar em cima), percebi que o melhor cinema não é só uma história mas a poesia que a imagem E O SOM estabelecem como narrativa. Aprendi que a montagem é a arte da surpresa no tempo de cada plano e no movimento dentro dele, aprendi como o som fora de campo é a continuação da "vida" para lá do écran.

O Fernando Lopes tem uma história de vida que também dava um filme. Veio novo para Lisboa ( a sua saga é contada em Nós Por Cá Todos Bem) começou como dactilógrafo na RTP até João Soares Louro ( outro grande homem da RTP) o ter ido buscar para a montagem de reportagens. Era um auto-didacta que aprendeu com mestres, que falava em Henri Cartier-Bresson, que admirava Cabrita e que era amigo de Gerard Castello-Lopes.

Foi director do Canal 2 da RTP quando se fez o canal mais ousado e experimentalista de sempre com gente de grande gabarito como Hernâni santos, Letria, Júdice, Mega Ferreira e outros lunáticos do jornalismo. o canal que Proença de Carvalho mandou abater quando foi para administrador da RTP nomeado pela AD.

Era um apaixonado e a sua vida com a Maria João Seixas daria outro filme. Casaram, separaram-se e parece que queriam voltar ( ou voltaram) a casar-se.

Estive com ele 2 ou 3 vezes. A última a fotografá-lo ao balcão do Gambrinus, o lugar onde ele queria pôr uma placa: aqui esteve um homem que vivia acima das suas posses.

Gostava mesmo dele e era uma pessoa em que pensava muitas vezes. Pensei várias vezes em lhe telefomar para o filmar em estilo documentário e para ele me repetir o que me disse há 25 anos para um documentário que fiz sobre o meu querido mestre fotógrafo.

Imagino a sua décopage quando chegar ao Céu. Plano do azul do céu, panorâmica vertical até apanhar o horizonte muito em baixo à Deserto Vermelho. Plano 2: Parede branca, panoràmica para a direita e ao longe uma mulher saída de uma estrada sem fim. Obrigado Fernando.