Ninguém deve dar demasiada importância pelo facto do jovem governo ter ou não ter um elenco de notáveis ou de ter um Primeiro mais ou menos experiente. Isto porque os chefinhos fazem parte da nossa infeliz cultura de excelência e porque, tirando os totós que acreditam no Pai Natal, um governo europeu trabalha em função das regras de Bruxelas. Portanto: termos um chefe de governo extraordinário nesta conjuntura até podia atrapalhar. Por vezes os endireitas resolvem problemas que os médicos não conseguem. Temos um endireita, embora em início de actividade, que está a dar os primeiros passos ainda amparado pela família, amigos e uns opositores em fase de reorganização de tropas.
Pelo que vi a dois metros de distância, e durante largos minutos, na Festa dos Tabuleiros em Tomar, o eleito primeiro-ministro mantém um ar simpático, vê-se nele um esforço para agradar a todos que o cumprimentam, desfaz-se em beijinhos, autógrafos, posa com uma moçoila e pergunta para que máquina fotográfica deve olhar, beija a mulher sem que os fotógrafos tenham tempo de disparar, não larga as mãos dela....enfim: temos ali um misto de Cavaco em família com um Guterres afável. Até os seguranças se mantêm à distância, e quando é preciso enxotar os chatos dos fotógrafos, são dois tomarenses fardados com trajes da festa que empurram os jornalistas e dizem que têm de se afastar. Coelho sorri para o lado e volta a fazer mais um comentário para o seu "compagnon" de Juventude, o Relvas claro.
Mas há sempre o outro lado das figuras públicas. E quando horas depois chega ao Conselho Nacional do seu partido, e desabafa dizendo que afinal as contas públicas estão um descalabro, mesmo depois do relatório semestral do Banco de Portugal, atirando para a praça pública mais uma suspeição sobre a sustentabilidade financeira do país, parece coisa de endireita mal preparado. Quer dizer: sorri para o doente e de seguida torce-lhe o braço, antes de lhe partir o pescoço.
Este tique de atirar nos próprios pés, tão usado por Cavaco (e outros endireitas desastrosos), só servem para afundar mais o país, dando uma imagem nefasta para o exterior.
Depois da ira cxolectiva contra as agências de rating ( parecia Portugal a apoiar Timor!) sabendo todos nós (os que não acreditamos no Pai Natal) que o que está em jogo, ou seja: a recuperação económica e financeira do país, não vai ser possível com o montante negociado com a troika, nem com aqueles juros, nem com a recessão consequente, nem com a impossibilidade de reduzir o deficit público, já que o 95% do orçamento do Estado corresponde a encargos fixos( foi o que disse a economista Teodora) e que reduzidos, lançarão ainda mais o país numa maior recessão, ou seja: mais desemprego, depressão, destruição da já enfezada economia.
Portanto: a Moodies sabe do que fala. Embora, e aqui é que entra o cinismo político de Cavaco, tenham sido os ataques das agências que levaram muito os países periféricos à perda de confiança pelos mercados, e que agora esse cancro já esteja alastrado a outros países, que pareciam a salvo, América incluída.
Antes de ontem os juros da Espanha chegaram quase aos 7% e a França nunca pagou tanto de juros como o teve fazer ontem. Sarkozy começa a escorregar pelo plano inclinado.
Governar com tiques de oposição é péssimo. E assim a estabilidade, mesmo podre e forçada, não vai durar muito. Passos não pode dar passos maior do que a perna. Não está já na oposição. Está no governo. Que assuma isso. Meta-se no avião em executiva, largue os seguranças contra os jornalistas, deixe-se de ares de marido romântico em público, puxe da voz grossa e trabalhe. Deixe-se de entretantos e vá aos finalmentes. Irra, nunca aprendem!