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terça-feira, novembro 02, 2010

Se o fotógrafo não estava lá, não era importante.

O fotógrafo é sempre tido como uma das personagens mais importantes de uma qualquer cerimónia solene. Sempre o foi desde o início da fotografia há mais de 150 anos.

Ter um fotógrafo presente durante um acto especial da vida é como ter uma testemunha privilegiada, alguém em quem se pode confiar como prova irrefutável,  digna do acontecimento.

Não é por acaso que os fotógrafos oficiais têm sempre prioridade na escolha do sítio mais adequado à tomada de vistas. Quer se trate da visita de um Rei, quer se trate do fotógrafo encarregue de reportar um casamento, um baptizado, ou qualquer outra festa de carácter restrito.

Sendo a profissão de fotógrafo muitas vezes desprezada, e até ignorada em situações mais banalizadas da sociedade, e sendo o fotógrafo por vezes uma "persona non grata" porque pode mostrar e denunciar aspectos menos felizes da vida alheia, a verdade é que o prestígio da profissão sobe ao rublo quando se trata de retratar cenas felizes, irrepetiveis, históricas. A fotografia remete para a História qualquer acontecimento registado.

Cena grandiosa é cena com fotógrafo. E quanto mais chique e importante é essa cena melhor terá de ser o fotógrafo, sendo que os honorários do artista sobem na proporção directa da importância do que vai ser fotografado.

Ora, o recente acordo entre o PS e o PSD para a viabilização do orçamento de Estado para 2011, através de um voto de abstenção do partido da oposição, não teve direito a fotógrafo.

Na hora tardia de se assinar o documento o PSD rejeitou a presença dos fotógrafos e nem o famigerado brasileiro, que passa a vida atrás de Sócrates e a barrar o trabalho dos jornalistas ,pôde entrar na sala para ter o exclusivo mundial desse instante! Foi apenas consentida uma foto tirada com um daqueles telemóveis que nasceram para receber e-mails a quem tiver lupas integradas nos olhos.

Portanto: já tínhamos visto um pouco de tudo quanto à marginalização dos fotógrafos. Nunca tínhamos visto a proibição de a imprensa testemunhar um acto oficial entre partidos. Percebe-se: a fotografia compromete, testemunhando e dando um significado a um acto público. Uma foto feita com um artefacto amador, diz que sim, que aconteceu, mas permanece sempre como o registo de um acto privado, escondido, que por acaso foi registado por um curioso que estava por ali. Nada de muito sério, se não teria havido fotógrafo e até oficial!

Afinal, o fotojornalismo ainda mexe! E quando lhe põem a venda nos olhos é para ninguém poder dizer que o que aconteceu não foi muito importante, nada grave, que nem sequer mereceu ser fotografado por um profissional. Uma foto de circunstância num encontro furtuito, pela calada da noite. Um acto que não ficará para a História.

* nova versão.

1 comentário:

  1. Como se engana, ai fica para a História, sim sr!!!Olaré....
    Até fica, para mais tarde se fazerem certos estudos, de sociologia politica.Registado com os novos meios de "comunicação visual"...
    Desfocados por "falta de PIXELS"!!!Como a bovinidade intelectual/comentadoira, tanto desejou e apreciou. L.R.

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