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sexta-feira, agosto 13, 2010

A Boa TV noite dentro, lá para as 3 da manhã!

Para não dizerem que estou sempre a dizer mal, hoje vou dizer bem de algumas coisas que vi nas últimas madrugadas na TV.

Começo pelo programa de Joaquim Furtado sobre a invasão da Guiné-Conakry nos anos 70.

Aí está um trabalho de jornalismo de investigação,um testemunho ímpar sobre a História recente portuguesa. E uma das poucas ocasiões em que eu como contribuinte sinto que o meu dinheiro ainda é por vezes muito bem empregue nos gastos da RTP.

Os depoimentos dos vários testemunhos muito bem recolhidos e editados, as imagens de arquivo excelentes, o texto sóbrio, económico, sintético, como convém em televisão (e não só!). Os parabéns também ao meu ex-colega e amigo do Expresso, José Manuel Saraiva que colaborou.

Outra grande reportagem passou ontem feita pela TV da Catalunha sobre a comunidade islâmica e os movimentos terroristas em Barcelona.

Uma reportagem com um trabalho de câmera rigoroso, em 16x9, com uma fotografia cuidada, servindo planos de uma espontaneidade, verdade e impacto raros. Televisão feita com gramática televisiva, sem as muletas dos textos em off, sem os planos de tripé à Pai Adão, sem aquela montagem do corta plano aqui, cola plano de corte ali, mete um tipo sentado a falar, vai música, vem texto para pintar, entra imagem de arquivo, remata com umas imagens em slow-motion.

Jornalismo televisivo de investigação, vivo, ágil, moderno, eficaz. Nada do que se faz na TV portuguesa. Até numa reportagem com camionistas, feita e reposta hoje por uma das nossas televisões, as imagens são fabricadas, as situações encenadas, lembrando o pior do cinema de amadores.

Na reportagem da TV da Catalunha punha-se em discussão, sem que isso fosse redundante na estrutura da reportagem, a coexistência de uma comunidade islâmica de dimensão apreciável, a viver e a ocupar um espaço urbano tão próprio como o de Barcelona, pondo problemas sérios de segurança, sem que a polícia ou os juízes pudessem ter o controle mais eficaz sobre muitas das acções encobertas. Fiquei a saber, embora já desconfiasse, que a Europa tolera os intolerantes e que está a deixar-se minar, por causa dos complexos democráticos de um largo sector político cobarde e incompetente.

Um programa  que não tomava partido, mas que ouvia várias partes e que deixava a própria comunidade em causa defender-se. Aliás a reportagem foi possível porque numa reunião desses islâmicos radicais foi autorizada aquela equipa a seguir durante dias a vida daquela gente.

Outra reportagem que me deixou colado à TV, embora também  madrugada dentro, foi um Toda a Verdade sobre o estado da assistência social nos Estados Unidos. Um programa onde se ficou a saber claro, que nos States mesmo quem tem um seguro de saúde de topo poderá sempre acabar por pagar uma fortuna em caso de doença grave, à excepção de uma minoria de segurados por empresas que cobrem as despesas totais, como a Microsoft.

Fiquei a saber que o meu filho David, que nasceu prematuro e precisou de cuidados intensivos, e que foram dados gratuitamente numa maternidade pública, teria tido muita dificuldade em ter sido salvo nos Estados Unidos, porque eu não teria tido nunca 1 milhão de dólares para pagar por uma assistência desse tipo, referida na reportagem. Um programa bom para oferecer aos Passos Coelhos desta vida!

Afinal, ainda há uma querida televisão. Há só que esperar pela madrugada ou por gravar no irritante gravador da Zon!

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