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segunda-feira, abril 19, 2010

A queixa que acabo de enviar à ERC sobre a publicação pelo DN de uma foto de Sócrates na Madeira feita pelo fotógrafo oficial

Ex-mos Senhores,


O Diário de Notícias de hoje (19 de Abril de 2010) publicava na 1ª página uma fotografia de José Sócrates ao lado de Alberto João Jardim, na Madeira, feita pelo fotógrafo oficial do Gabinete do Primeiro-Ministro.

Como não se tratava de nenhuma situação vedada ao resto da imprensa, que justificasse o uso de uma pool por razões de Estado, protocolares ou de segurança, é estranho que um fotógrafo oficial ( que não pode em caso algum exercer a actividade dupla de jornalista)

possa publicar num jornal uma fotografia oficial.


Estamos perante um caso bizarro: o gabinete do Primeiro-Ministro cede a um jornal um conteúdo jornalístico e este publica-o como se fosse fornecido por uma entidade com credenciais editoriais, embora tenha identificado a fonte. Mas isso não chega.

Não nos admiremos que a seguir o DN, ou qualquer outro jornal, passe a publicar notícias escritas por assessores do Governo, só que em forma de escrita em vez de imagem.

Como um fotojornalista não pode trabalhar para o Governo ( e muito bem) não se pode aceitar que um assessor de imagem possa publicar na imprensa, por razões banais ou de evidente borla de fotógrafo.

A acompanhar a visita do Primeiro-Ministro à Madeira estavam vários profissionais de diferentes órgãos de comunicação-social, além da Agência Lusa, logo não havia falta de fornecedores de imagens.

A fotografia publicada não era de evidente utilidade pública, nem foi feita numa situação única. Nem nunca um fotógrafo oficial se pode substituir a um fotojornalista credenciado, usando o facto de ter o acesso facilitado, para poder depois concorrer com as suas imagens com os profissionais da informação.

Isso seria a total perversão do exercício do jornalismo e levaria a passar a ter-se em consideração que o Gabinete do Primeiro-Ministro era também uma agência produtora de informação.

Este procedimento não é uma excepção e a ERC deveria, na minha opinião como fotojornalista que defende a boa prática de ética e da seriedade profissional, pronunciar-se sobre esta promiscuidade entre o governo e um jornal, e dizer se um assessor, ou equiparado, pode substituir um jornalista numa determinada

missão de reportagem.



Melhores cumprimentos,


Luiz Carvalho

carteira profissional nº 1033

11 comentários:

  1. "Não nos admiremos que a seguir o DN, ou qualquer outro jornal, passe a publicar notícias escritas por assessores do Governo, só que em forma de escrita em vez de imagem."
    Ó Luís, porque queres fazer passar-te por ingénuo?
    Todos sabemos que isto já aconteceu, acontece, e também com origem nas "agências de comunicação".

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  2. E quantos fotografias do fótógrafo oficial de Cavaco Silva foram publicadas na imprensa dita de referência? Quase todos os dias...Claro que a questão é pertinente. Só peca por vir tarde.

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  3. Cavaco não tinha oficialmente fotógrafo-oficial.

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  4. Luiz. A questão é pertinente no debate que tem de fazer-se quanto à promiscuidade que grassa para aí. É isso que vai (está a) determinar se o jornalismo é, ou não, necessário; se tem, ou não, futuro, devido à (des)confiança que merece e à credibilidade que apresenta. Neste caso concreto, o Fotojornalismo, que deveria ficar para a História como o testemunho fiel dos acontecimentos. Por isso deveremos bater-nos por um Fotojornalismo altamente profissionalizado, com tudo o que este termo implica.
    Não sejamos ingénuos. Os "info fretes", em todos os domínios, fazem parte do quotidiano da imprensa. Até as polícias "fornecem" fotografias aos jornais, que as publicam depudorada e airosamente. Há editores que, em caso de acontecimentos dramáticos, preocupam-se mais em saber se alguém fotografou (ou filmou) o assunto, mesmo que com um telemóvel, do que com o trabalho do repórter no local. O fotojornalista é, muitas vezes, apenas o "fiel" depositário das imagens colhidas pelo vizinho, pelo sujeito que ia a passar ou pelos bombeiros e outros agentes de socorro, em detrimento do seu próprio trabalho que nem chega a ser utilizado. Sabes que isto é verdade!
    O que relatas é apenas uma pontinha do iceberg - uma vergonhoso e sintomático exemplo. Fazes bem em denunciá-lo!
    O jornalismo barato que anda para aí é feito muito assim: foto daqui e dali; texto dali e daqui e aí está um jornal feito nem se sabe bem por quem. Os jornalistas profissionais - que cada vez mais vão escasseando - são colocados à margem, substituídos por "escraviários", agências de comunicação, fotógrafos oficiais e assessores de comunicação, polícias, bombeiros, "cidadãos-repórteres".
    Que credibilidade terá um jornalismo destes? Os leitores (entenda-se por leitores aquelas pessoas que lêem regularmente jornais e não por impulsos alternos) estão atentos. As empresas jornalísticas têm administradores (e directores!) que não percebem nada de jornais. Só dão "tiros nos pés". Impera o mimetismo. Se um é mau o outro tem de ser pior. Por este caminho receio que os jornalistas venham a ser "desnecessários". É preciso lutar contra este estado de coisas, a bem de uma sociedade sustentadamente desenvolvida. Caso contrário não chegaremos à "quarta revolução" do Fotojornalismo nos tempos mais próximos. Apesar disto tudo, acredito seriamente no futuro do Fotojornalismo! Mas temos de fazer por isso e lutar, coisa que não é nova para os fotojornalistas.
    MC

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  5. Olá.
    Concordo em pleno com a esposição.

    Pois aqui no território dito "local" ou mesmo "regional" é tudo ao contrário.
    São os jornais que pedem às Câmaras Municipas fotos sobre determinado acontecimentos ou manifestações.
    Para já não há um único jornal regional que tenha nos seus quadros um fotojornalista. Nenhum.
    São os jornalista que fazem a reportagem completa, com foto banais, da treta e sem qualquer significado para o assunto.

    Também neste caso não é ético uma Câmara Municipal ceder as suas imagens para a comunicação Social. Mas é o comum dos acontecimentos aqui.
    E claro é este o único processo que temos para conseguir colocar alguma fotografia um pouco mais elaborada do ponto de vista fotojornalistico.

    Enfim, é a democracia...

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  6. Lá em cima deve ler-se "exposição". Obrigado.
    Paulo Sousa

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  7. Pois eu ainda tenho uma revista de fotografia dos anos 80,em que uma imagem mostra uma enorme escadaria onde um numero bastante grande de FOTÓGRAFOS com as máquinas no chão e braços cruzados!!!Isto perante o olhar aparvalhado do Presidente da Republica Francesa e seus apaniguados!!!Ainda há um mês, a TV5 esteve em greve,etc. Chama-se a isto. consciência de classe! Algo que os imberbes jornaleiros, seja da imagem ou da escrita,em Portugal,não têm, nem nunca terão...LR

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  8. Como se fosse comparável uma fotografia com um texto... sobretudo na situação que foi. Como se aquela fotografia pudesse ser um exemplo de o Governo influenciar um jornal. Enfim... que disparate Luiz Carvalho.

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