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quarta-feira, agosto 26, 2009

O exemplo de Genéve



Não vinha a Genéve desde 1993. Encontrei hoje a mesma cidade. Calma, diversa em gentes e culturas, activa, movimentada e organizada. Mas não encontrei estaleiros, obras faraónicas, ruas com polícias em segways, brigadas de caça à multa, arrogância municipal.

Em Genéve os passeios são em placas de cimento, as esplanadas assentam no alcatrão das ruas, os jardins estão tratados com crianças a brincarem na relva, adultos a namorarem, mães com muitos filhos, carroceis...há vida nesta cidade. Há janelas iluminadas no bairro antigo, movimento. Esta cidade palpita, embora haja carros em todas as ruas a circular, ao lado de tipos em patins, muitas bicicletas, muitas scooters, motas potentes, eléctricos rápidos sempre a circularem cheios de gente.

Há pequeno comércio, lojas pequenas e decadentes ao lado de lojas de marca, livrarias, retalho de roupas, lojas de conveniência. Tudo na mesma rua.

Genéve não precisa de gastar 5o milhões em ciclovias para palermas andarem armados em saudáveis ao domingo. Em Genéve um senhor de fato e gravata passou por mim a pedalar, mas é possível encontrá-lo mais tarde a guiar um Mercedes. É uma cidade de liberdade, aberta, tolerante. Há centenas de motas espalhados pelos passeios sem incomodarem os peões, e não são multadas, nem a edilidade precisou de gastar milhões a fazer parqueamentos para motas, embora os haja também.

Não consta que aqui estejam a discutir se o repuxo devia ser a cores ou se os barcos deviam transportar contentores ou se deveria haver uma portagem à entrada do túnel que vem de França.

Os portugueses autarcas, essa peste da democracia que vive a gastar o dinheiro dos nossos brutais impostos, devia aprender com humildade, competência e bom senso, como se gere uma cidade e como os cidadãos devem estar na primeira e única prioridade na governação.

Uma cidade amiga dos utilizadores, e não uma cidade para entreter palermas que plantam malmequeres e que querem apanhar berbigão nas margens do Tejo! Uma cidade para viver e não para servir de stand de carros e de pista de fórmula 1! Autarcas para pensarem a cidade e não fazerem dela trampolim para a grande cena governamental.

Se os portugueses viajassem não admitiriam nunca mais esta classe parasitária que esbanja em rotundas e em mármore, o que na Europa rica e civilizada se resolve com soluções simples, baratas, funcionais e que não agridem quem quer circular na urbe.

Somos demasiado bacocos e novos-ricos para percebermos que o Estado não pode gastar o nosso dinheiro em obras que mais não são propaganda para papalvos apoiarem em nome da competência.

9 comentários:

  1. Não podia estar mais de acordo consigo! Por favor, faça umas fotos (e publique-as aqui)das obras "bárbaras" que a CML (A.Costa+S.Fernandes) estão a fazer na Av. Colégio Militar, Rua do Seminário e Rua Fernando Namora. É inacreditável chamar requalificação à construção de uma ciclovia, sacrificando faixas de rodagem - tendo em certos locais largos passeios - e pintando lugares de estacionamento "em espinha" sobre as ditas sacrificadas faixas de rodagem. Se possível, faça as fotos durante o próximo mês de Setembro, durante a realização da Feira da Luz (em Lisboa). Será o início do perfeito caos em que os habitantes desta zonas passarão a viver. E não se pode fazer nada ?

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  2. E fotos das motas nos passeios. Para verem como deve ser feito...
    Obrigado

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  3. Visitei brevemente Genève em 92, 96 e 2008 e permanece uma cidade muito aprazível (também o aeroporto em Cointrin é plácido e funcional).

    Porém, penso que é imprudente fazer comparações com as nossas cidades, a começar por Lisboa, sem conhecer o orçamento municipal, que deve ser confortado pelas contribuições das múltiplas agências internacionais aí instaladas.

    Além disso, há dois traços visíveis em Genève que contrastam com Lisboa:
    1 - a tradição federal helvética privilegia muitas cidades médias contra a macrocefalia do império que torna a Lisboa uma cidade desmesurada. A 60km de Genève está Lausanne que é totalmente autónoma e igualmente aprazível, plácida, com excelentes universidades e óptimos transportes públicos (mas eu era o passageiro solitário no novo metro "robótico" que desce até ao lago).
    2 - a cultura da modéstia e discrição da Reforma (cf. doutrinas de Calvino e Zwingli) são avessas a grandes monumentos públicos de afirmação de poder (o oposto da sequência Notre Dame - Louvre - Étoile)

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  4. O mais espantoso de tudo o que lá vi ...Entrada gratis nos Museus e assim se implementa a cultura e educação de um povo.
    Os Hoteis fornecem um cartão de livre transito para os transportes públicos, enquanto dura a estadia,isto sim são medidas que reduzem a poluição,o tráfego urbano, aumentando a qualidade de vida.

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  5. ZÉ PAGANTE10:25 da tarde

    SOMOS E FOMOS UM POVO DE EMIGRANTES ,MAS NADA APRENDEMOS A NÃO SER AMEALHAR UNS TOSTÕES, PARA MOSTRAR AOS QUE POR CÁ FICARAM ,QUE TAMBÉM PODEM MANDAR CONSTRUIR " MAISONS COM FENETRES".DE CULTURA APRENDIDA NADA.....

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  6. Tens toda a razão Luíz
    Na Bélgica onde tenha a minha filha emigrada acontece o mesmo!
    As coisas são resolvidas com simplicidade e bom gosto.
    Sempre que lá vou, descontando a parte da alimentação, volto como novo!
    No que toca a Portugal, lá teremos de aguentar esta parasitagem... infelizmente.
    Aqui na Região do Grande Porto, temos um autarca que faz obra, e da boa, em Gaia, e outro que está a matar a cidade no Porto.
    Enquanto cidadão que embora a viver em Gaia amo o Porto, tenho vindo a denunciar os CRIMES DE LESA-CIDADE cometidos por Rui Rio no meu blogue Arte Fotográfica: http://www.gaspardejesus.blogspot.com
    Parabéns pela coragem de continuares a lutar contra esta "camarilha".
    Abraço
    Gaspar de Jesus

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  7. Vivi 28 anos em Neuchatel, conheço muito bem Geneve e outras cidades helveticas, por isso aqui digo mesmo que muito me custe. O povo portugues tem liberdade a mais. Para termos um país como a Suissa teremos que cumprir várias regras mas a primeira é saber-mos respeitar os outros para poder ser-mos respeitados.
    Abraços
    Jose Remelgado

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