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sábado, junho 06, 2009

65 anos depois, as fotos D do melhor dia de Capa



Têm quase todos os defeitos para serem das piores fotografias de uma reportagem. Estão tremidas, desfocadas, com uma luz difusa, e para uma reportagem completa não se pode dizer que sejam uma grande possibilidade de escolha, pois são apenas doze fotografias. Mesmo assim são consideradas, apesar de todos estes defeitos técnicos e editoriais, das melhores imagens da história do fotojornalismo. Tratam-se das fotografias míticas do mítico Robert Capa, o mesmo que imortalizara a morte em combate do republicano espanhol na Guerra Civil, o mesmo que dois anos depois do desembarque dos americanos na Normandia, fundou a agência fotográfica Magnum.

A história dessa dúzia de fotografias, também elas sobreviventes da guerra, é contada pelo então director de fotografia da delegação da LIFE em Londres, 24 Upper Street Wimpole, John G. Morris no seu livro “Des Hommes d`Images”. Morris descreve com dramatismo e humor os dias difíceis em Londres, entre bombardeamentos persistentes e a necessidade de furar o controle da censura, o arranjar formas de fazer chegar a Nova York fotografias da luta contra o domínio nazi. A LIFE tinha a trabalhar para a delegação em Londres os fotojornalistas mais cotados então no mercado. Destacavam-se Bob Landry, George Rodger, Frank Scherschel e o já famoso Robert Capa.

A preparação da reportagem do desembarque na Normandia foi meticulosamente preparada pela LIFE, que fazia questão em concorrer taco-a-taco com as agências noticiosas, o que deixava algum mal estar junto destas. A LIFE considerava que as suas fotografias deveriam ser as melhores e as mais exclusivas. Por isso destacou seis fotógrafos, contra outros seis das outras 3 agências presentes.

Com a influência política que LIFE tinha e graças ao prestígio de fotógrafos seus junto das entidades militares (caso de David Seymour que chegou a trabalhar como sargento-fotógrafo para a Força Aérea americana!) John G. Morris conseguiu que Robert Capa pudesse entrar a bordo com o 16º Regimento da 1ª divisão, designada de “Easy Red” numa operação com o código “Omaha”.

Foi um desembarque dramático, segundo relatou Capa, e esses minutos onde havia mortos e feridos por todo o lado, foram testemunhados pela câmara fotográfica Leica de Capa em 4 filmes de 36 fotos cada um.

Em Londres, John G. Morris, ansiava pelas fotografias, mas naquele dia não se soube nada. Nem se havia fotografias, nem no que teria acontecido a Robert Capa. Só ao fim da tarde do dia seguinte, chegou um motociclista com um pacote à sede da LIFE. Havia um nervosismo enorme. Havia que revelar rápido os filmes, imprimir as fotos e ir a correr com elas à censura para depois poderem seguir para a sede de LIFE em Nova York. Os filmes começam a ser revelados por um assistente (diz-se que seria o estagiário David Burnett, hoje um decano do fotojornalismo) que decide fechar a porta do laboratório enquanto a estufa secava os filmes. Passados minutos, o estagiário corre para Morris e diz-lhe apavorado que os filmes derreteram com o excessivo calor da estufa. Morris constata que três dos filmes estão esturricados mas que no quarto se conseguem salvar doze fotografias, aquelas que hoje conhecemos.
A cena é tão desagradável que Robert Capa nunca quis comentar com John G. Morris este acidente. Estas fotos ficaram para a História como testemunhos de um momento extraordinário. Há outras fotografias de outros fotógrafos de agência e mesmo de LIFE, fotografias tecnicamente perfeitas e que até mostram bem todo o aparato militar mas que não têm a emoção nem o sentido da história das de Capa.

3 comentários:

  1. Só um capricho. Havia também rolos 120 :)

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  2. Luiz, era totalmente impossível haver alguma relação do David Burnett com o caso das fotografias de Capa...

    David Burnett nasceu no ano seguinte ao dia D

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  3. Fui pesquisar e Dennnis Banks, com 15 anos na altura, era o ajudante de laboratório responsável pelo "acidente" com os negativos de Capa...

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