Passou pela calada da noite, na SIC N, um documentário sobre Murdock. Não era uma excelência de reportagem, mas mesmo assim dava para se perceber de forma clara, como o império do australiano, que de guardar gado a controlar grande parte dos media mundiais, se tornou no pastor multimédia da estupidificação global.
Uma informação feita para o gosto do público, uma informação que sublinha o acessório ao essencial, uma informação inócua, cínica, sem ambições culturais, nem políticas. Um império que cresceu numa relação directa do endividamento, suportada por cento e vinte bancos a nível mundial ( verdade!), um mundo de media onde o Sol nunca se põe, mas onde os valores da futilidade, da informação espectáculo e da cínica participação do jornalismo do cidadão, mais não é do que a publicação de umas bonecadas domésticas, estúpidas, fúteis e tristes. É a vida da pequena burguesia urbana, refém do consumismo, reflexo condicionado dessa mesma televisão.
Se a tentação da murdockização, eu diria da merdoquização, passou ou está a passar por alguma imprensa portuguesa, tirem daí o cavalo: não parece que o público vá comprar jornais por iludirem a realidade com história tolas, ou não julguem que o leitor de jornais é o mesmo glutão da televisão. Essa tendência que começou nos anos oitenta em Inglaterra, precisamente com a compra do Sunday Times por Murdock, e nos Estados Unidos com a reformulação do USA Today, feita à imagem do público primata da TV, está fora de moda e revela-se um sucesso sem sustentabilidade.
O que pode salvar os jornais é o nicho da verdade, da distinção, da qualidade. Para lixo já bastam algumas televisões que fizeram dos pivots (que deveriam ser a marca da credibilidade) manequins da Rua dos Fanqueiros e das reportagens peças no pior estilo das novelas mexicanas.
a despropósito,mas tendo a ver com os jornais, nichos de verdade e etcs, Luiz, concordando em absoluto consigo, e como está mais "à mão", pedia-lhe o favor de transmitir aí pelas editorias ou revisão do Expresso que, só na edição da semana passada, e apenas no caderno principal, descortinei 3 erros ortográficos, sem ter lido a secção de desporto.
ResponderEliminartambém fica mal a um jornal que se quer (eu pelo menos gostaria de continuar a considerá-lo) de referência.