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quarta-feira, dezembro 19, 2007

Manhã negra na Urgência de Faro

Hoje tive a minha penitência, embora não estejamos na Páscoa.
Seis horas na urgência de Faro para fotografar os imigrantes clandestinos, que os inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras conseguiram evacuar pelas traseiras, à última hora, longe dos três jornalistas que ali estavam. Isto mostra bem como as autoridades não têm a mais pequena consideração pela missão de informar e só se preocupam com manobras de lana caprina. Para os cabos de esquadra, os jornalistas são sempre inimigos.

Lixaram-se pois apanhei-os mais à frente e foi disparar até esgotar o buffer da máquina.
Mas não é disto que quero falar.
Quero falar da triste e deprimente vida na sala de espera de um hospital português cheio de esterco, contentores ferrugentos, chaminé a queimar lixo, funcionários com ar de mais doentes do que os próprios doentes. Parece a Roménia ou outro país de Leste no tempo do comunismo. Sim porque agora começam a passar-nos a perneta.

Ali, entra-se doente e pode sair-se morto, ou pior: entra-se cheio de saúde e fica-se apanhado pelo clima. Os doentes estão ali horas e horas sentados a entreterem-se com outro deprimente albergue televisivo, A Praça da Alegria da RTP, sem saberem quando e como vão ser atendidos.
Aquilo não é saudável, é sórdido.
Em Portugal é tudo reformado, ou está de baixa, ou o chefe facilita, portanto: espera camelo que a coisa está difícil ! A vida está má para todos...Depois vem o ministro falar na falta de produtividade dos médicos. É preciso ter lata e demagogia populista que baste.

O Hospital de Faro é um must de broncas. A semana passada um doente crónico que lá morreu foi descoberto pela família com um catrapázio em cima do cadáver a dizer:" cuidado tem vírus perigoso!". O que sobra em comunicação alarmista, falha em comunicação social. O assessor destacado para falar com a imprensa preocupa-se mais com fotos tiradas no interior do hospital sem autorização ( os burocratas são uma espécie em vias de desenvolvimento!) do que em informar os jornalistas e de lhes facilitar o trabalho.
Quando saí do hospital e tropecei dando com os queixos no chão, rasteirado pelas minhas botas CAT de homem das obras, e que não foram feitas para correr atrás de polícias, o que me assustou ainda no chão a tentar proteger a Canon da queda, era se tinha de voltar para as urgências de Faro ! Só essa ideia me fez levantar do chão como uma mola e sentir-me apto para todo o serviço. Safa ! Safa ! Já dizia o grande Cavaco, também ele achincalhado à entrada daquela monstruosa fábrica de consertar gente.

4 comentários:

  1. Está aqui um bom retrato da miséria das condições de algum atendimento hospitalar.
    E então Faro já é assim desde há mais de quinze anos.
    Uma vergonha, de facto.

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  2. Cuidado, que aquela urgência funciona assim à 20 anos à excepção de algumas obras na zona de espera que foi extendida, assim como quem estica qualquer quintal na Musgueira!
    Em termos humanos melhorou um pouco com os medicos e enfermeiros espanhois!Também , não sei se sabe que o director regional de saude é espanhol!

    O cenário montado pelo LC é quase autêntico mas as causas para aquilo funcionar naquele "filme" tem a haver com a tutela que este ministro está finalmente a por no seu lugar!

    A solução é o controlo de acessos digital! É por isso que a situação das urgências de faro passou para os jornais e lhe chamou a atenção!
    Ninguém quer ser controlado para poderem estar em dois sitios ao mesmo tempo e colocarem horas extras que entenderem.
    Os médicos e enfermeiros tem que começar a receber pelo seu vencimento e não pelas 60 horas extraordinarias por dia que faziam e mais os dias que nem lá punham os pés!
    Eu pago 390 euros/mês para a Segurança Social e precisei de um exame ao colón e paguei 90 euros num consultório privado que também tinha o estilo romeno.
    Enquanto o Estado não acabar com esta mama , nada muda!
    É preciso ser otário para pensar que os problemas na saúde nada têm a ver com os médicos!

    Pergunto eu: 1- Que respeito tem um funcionario administrativo por um médico que coloca 60 horas extrordinarias num dia , que se calhar nem lá compareceu?
    2- Que respeito tem um médico por um funcionario que comissiona tudo o que entra no hospital?

    Acho que está tudo explicado!Venha o control digital dos acessos e presenças e vão ver que têm médicos a mais!

    Quero dizer que nem tudo está mal!
    O Inem está ao mais alto nivel , pelo menos em faro!

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  3. A culpa é dos sulistas elitistas de meia tigela,mais concretamente os lisboetas que gastam tudo o que lá vai parar e nada sobra para o resto do país.

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  4. Experimentem o Garcia da Orta em Almada. Entrei lá com uma infecção nas vias respiratórias às 18h. Depois de várias e várias horas de espera lá fui atendido. Às 02:00 da manhã saí de lá... Os corredores do hospital são pejados de gente idosa, alguma jé meio morta, ali abandonada à sua sorte. Eu arrastava-me por ali e até me ofereci para ajudar os enfermeiros a levar as fichas de doentes de uma sala para a outra, porque apenas para fazer essa simples tarefa demoraram mais de 1 hora!!! Um autentico atraso de vida! Não admira portanto que quem entre pelo seu pé num hospital desses, se arrisque a sair directo para a funerária!

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