Parece que foi ontem.
O início da SIC, o entusiasmo que era ver nascer em Portugal uma estação privada de televisão, feita por gente nova, com uma ideia, um arrojo e um experimentalismo como nunca se vira. A RTP era uma instituição velha e cinzenta, institucional, burocrática. Estava a anos luz das televisões estrangeiras de referencia, embora nos seus quadros houvesse gente notável, muitos deles talentos emprateleirados.
Eu fui das pessoas que mais vibrou com o nascimento da SIC. Sempre acalentei o sonho de fazer televisão e pensava que ia ter uma oportunidade para fazer reportagem atrás de uma câmara, fazer em vídeo o que sempre fiz em fotografia. Tinha referencias do que se fazia lá fora, onde muitos fotojornalistas tinham ensaiado com sucesso o caminho do documentarismo e da grande reportagem usando uma linguagem visual, sem estar dependente de redactores.
Por isso fiquei bastante desnorteado quando um dia ao chegar ao 37 da Duque de Palmela, a sede do Expresso, me cruzo com o Emídio Rangel e ele me pega no braço e me diz que vai dizer ao Balsemão que me quer na SIC. Da redacção do Expresso já estavam de saída o Paulo Camacho, o Ricardo Costa, a Sofia Pinto Coelho, havia outros nomes no ar e eu estava indeciso. O fotojornalismo era a minha paixão, tudo o que queria fazer, mas andava muito frustrado com a minha vida a ter de aturar os humores do Rui Ochoa, bastante insuportáveis diga-se. Acabei por falar com o Rangel, ainda no gabinete provisório próximo da redacção do Expresso. A indefinição do que eu poderia fazer realmente na SIC levou a eu optar por ficar no Expresso. Não queria ser cameraman, nem realizador de informação e não havia o lugar de realizador de reportagem.
Mas fiquei sempre com essa ambição. Dentro do Expresso acabava sempre por defender a SIC nas reuniões de editores, o que deixava o José António Saraiva e o José António Lima bastante irritados comigo. Chamavam-me “o amigo do Rangel”.
Anos mais tarde acabei por fazer uma reportagem para a SIC sobre os novos mercados da China em convergência com o Expresso. Foi a minha primeira reportagem para a televisão. O Dr. Balsemão nomeou-me pouco tempo depois coordenador de comunicação editorial, cargo que ainda exerço, para fazer uma melhor ligação entre os dois títulos com o objectivo de haver mais convergência no grupo.
Este aniversário toca-me portanto e, ao ver hoje alguns resumos de muitas das grandes reportagens que a SIC tem feito, reconheço que muito do que eu gostaria de ter feito o foi realizado com uma qualidade de que eu porventura não teria sido capaz. É uma equipa de ouro: Renato Freitas e Cândida Pinto, José Maria Cyrne e Paulo Camacho, Sofia Pinto Coelho, Teresa Conceição e muitos outros são repórteres incontornáveis em qualquer SKY ou BBC.
Claro que os tempos mudaram e o elitismo que ao princípio fez da SIC uma estação avançada e de referencia, com condições de trabalho extraordinárias e com profissionais inquestionáveis, foi cedendo à ditadura dos custos, aos cortes orçamentais. Depois da crise de crescimento e da partida de Rangel, todos sabemos como muita coisa mudou. Hoje a SIC bate-se entre conquistar um público dividido entre o canal do Estado -que arrepiou caminho e tem sabido aproveitar a estabilidade financeira dada pelos governos- e uma TVI que encontrou em José Eduardo Moniz o líder que tem faltado em Carnaxide.
As reportagens perderam fulgor, emoção e empenho. A chama da paixão esmoreceu e isso é mais que notório nas peças que vão para o ar. A imagem perdeu em qualidade, os cameraman de hoje não têm o talento e o profissionalismo dos fundadores, os grandes repórteres têm dado lugar a estagiários sem virtuosismo. O grafismo e a edição parece que valem mais do que o trabalho de campo, a acção deu lugar a efeitos bonitinhos para ilustrarem temas neo-realistas, histórias de coitadinhos e de fazerem chorar as pedras da calçada. Perdeu-se ambição e perderam-se as grandes histórias.
Claro que ainda é uma grande televisão e que a reestruturação anunciada, com grandes investimentos, trará de volta uma nova televisão.
Mas o que jamais se esquecerá é a aventura SIC, o pioneirismo que foram aqueles tempos em que todos trabalhavam 24 sobre 24 horas ao ponto de se terem também apaixonado entre eles, casado, feito filhos, porque era ali a grande casa de todos. Uma grande família.
Parabéns amigos.
e se tivesses sido cameramen (repórter de imagem ) não farias em televisão o que sempre fizeste
ResponderEliminarnos jornais?
Mas compreendo, a tua pouca altura e o peso da betacam assustavam-te !
E realizador de reportagens não era fruta demaias para quem não tinha experiência nenhuma de TV?
Bem o Barata-Feyo também começou a angariara publicidade e acabou como repórter de TV (Grande?)às vezes.
Subscrevo Luiz.
ResponderEliminarParabéns à SIC, que revolucionou o panorama televisivo em Portugal.
Como em tudo na vida, tem altos e baixos. Mas o saldo é francamente positivo.
O meu canal é a SIC Notícias.
"As reportagens perderam fulgor, emoção e empenho. A chama da paixão esmoreceu e isso é mais que notório nas peças que vão para o ar. A imagem perdeu em qualidade, os cameraman de hoje não têm o talento e o profissionalismo dos fundadores, os grandes repórteres têm dado lugar a estagiários sem virtuosismo. O grafismo e a edição parece que valem mais do que o trabalho de campo, a acção deu lugar a efeitos bonitinhos para ilustrarem temas neo-realistas, histórias de coitadinhos e de fazerem chorar as pedras da calçada. Perdeu-se ambição e perderam-se as grandes histórias.!
ResponderEliminarCONCORDO!!!!!
MAS TB MUITOS DOS QUE NASCERAM NAQUELE BERÇO JÁ PERDERAM O VIRTUOSISMO E ISSO AINDA ME DEIXA MAIS TRISTE. E EU QUANDO TRISTE NÃO DOU PARABENS. FAÇO TAL POR NORMA NA MINHA VIDA. ASSIM CERTAMENTE O ANIVERSARIANTE SE VAI INTERROGAR PQ NÃO RECEBEU OS PARABENS!!!
Não sei como se pode chamar televisão ao que passa na sic bem como na tvi, enfim, gostos.
ResponderEliminarA Sic está-se a vender. Procura produto feito. Quem lá investe só quer dinheiro, e as pessoas são números.
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