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domingo, setembro 09, 2007

O fim da festa com champagne magnum


Abraços e alegrias no fim do festival. Fotos Luiz Carvalho
Foi bonita a festa pá, mas acabou. Para o ano são os vinte anos do Festival Visa Pour L`Image, uma bonita idade e um orgulho para Jean François Leroy ,o papa militante do fotojornalismo.

Neste rescaldo, e atendendo ao adiantado da hora, gostava de deixar para já um resumo do que para mim foi este festival e onde estive pela primeira vez
( lamentável meus caros!).

Aspectos positivos: a grande mobilização das agências, grandes e minúsculas, a presença de editores dos principais jornais e revistas de todo o Mundo, a peregrinação dos jovens a tentarem a sorte, de poderem mostrar os seus portfolios aos mestres. Muitos sonham com a frase mágica do mestre:" Levanta-te e fotografa" ou na pior das hipóteses:" vai ver se chove que isto da fotografia não é para ti!".

É um festival que dá prémios atribuídos com raro rigor, incentiva à produção de novas reportagens, debate questões éticas do jornalismo e deixa a fotografia de imprensa funcionar no registo exacto: no contar histórias, denunciar situações, homenagear a vida.

O Festival cria competição, emoção e é também um imensa feira de vaidades, o que não é de estranhar sendo os fotógrafos uns praticantes do super-ego, o que só lhes fica bem atendendo ao talento emergente. ( Quando há talento um pouco de ego não faz mal e quando não há disfarça!).

O pior do festival é o matraquear constante nos temas desgraçados da actualidade, o Afeganistão, o Darfur, as prisões no Mundo, o Iraque, os imigrantes...tudo isto em várias versões, formatos e doses, o que deixa o espectador extenuado. Hoje a sessão da noite era só miséria, desgraça, grande angular, preto e branco, fotos quadradas, tremidas, paradas, outras agressivas e de olhar para o lado pela violência mostrada.

Voltarei a este tema com menos sono. Na verdade, os clássicos que por aqui passaram revelaram um pudor, uma educação, uma estética e um respeito pelos temas que muitos fotógrafos jovens não mostram. Esta é a discussão também: como fotografar a desgraça alheia, se é legitimo receber por tais trabalhos chorudos prémios e depois ir festejá-los noite dentro com champagne magnum e engate.

Também em www.expresso.pt ( Luiz Carvalho enviado do Expresso a Perpignan)

5 comentários:

  1. ora ai está!
    "champanhe magnum e engate" depois de ganhar dinheiro!
    Compreende-se,assim, que o dinheiro tenha a fama de potente afrodiziaco que tem. Tá certo!

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  2. Os clássicos viviam num outro mundo que já acabou, sabemos lá se eles estivessem hoje a começar não fariam o mesmo tipo de fotografias ? Claro que há sempre a aproximação à reportagem ao estilo do "jornal do crime", mas uma foto pode ser agressiva e boa ao mesmo tempo. Eu percebo a parte do denunciar a desgraça, mas se esses trabalhos só aparecerem nos festivais porque nenhum meio pegou neles, então será caso para perguntar o porquê.
    Talvez seja porque o ocidente e a sua população se estão nas tintas para toda a desgraça enquanto esta não lhe bater à porta. Os tempos do frade Savonarola já passaram também, por isso cada um festeja como quiser, com champagne, dinheiro e engate ou de outra forma menos ostensiva.

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  3. rapidamente deixo só uma pequena nota de que fiquei deprimido com a festa. no entanto, sei que quem lá estava não é a maioria (ou será?).

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  4. ó luiz que pergunta !

    então os fotojornalistas não poderão gastar o dinheiro que ganham, naquilo que muito bem quizerem ?

    e o risco que esses profissionais por vezes correm para obter certas fotos ? não conta ? não terá um preço ? às vezes, o preço da pp vida, não ?

    adorei acompanhar a sua viagem a perpignan.
    "quase" que estive lá ...:-)))))

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  5. Gostei de ler, neste espaço, esta frase: "... e deixa a fotografia de imprensa funcionar no registo exacto: no contar histórias, denunciar situações, homenagear a vida."
    Pena é que a imprensa - e os demais meios de comunicação - não alinhem por este diapasão!

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