Páginas

sexta-feira, setembro 28, 2007

Acabou o jornal que me fez repórter

O Tal & Qual morreu hoje. Foi um fenómeno na imprensa portuguesa nos anos 80 depois da equipa do programa da RTP com o mesmo nome ter sido corrida pela administração de Proença de Carvalho e Maria Elisa. Os fundadores foram Joaquim Letria ( o pivot na RTP), Hernâni Santos, José Rocha Vieira e Ramon Font ( correspondente da TVE em Lisboa).

Aproveitando o sucesso que o programa tinha na RTP, e o escândalo que foi a sua suspensão, assim como a célebre Informação2, os jornalistas quiseram fazer um jornal muito barato, com uma equipa reduzida e que tinha como objectivo editorial dar uma informação irreverente, que fosse alternativa ao institucional Expresso e à esquerda MFA de O Jornal.

O jornal saía ao Sábado e foi um sucesso de vendas. Chegou a vender 130 mil exemplares. Era o semanário mais vendido em Portugal. Os textos eram curtos, sintéticos, os títulos apelativos, as fotos impactantes.

Em 1982 eu entrei para o Tal & Qual depois de ter vendido como free-lancer uma reportagem inédita sobre a chegada das Doce durante a escandaleira com o jogador Reinaldo. O jornal fez manchete com " Laura Diogo volta para o seu herói!" e via-se o namorado (parecido com o Reinaldo) a empurrar-lhe o carrinho das malas e a beijá-la na boca. A reportagem foi muito bem paga e no mês seguinte eu era o único fotógrafo do jornal. Durante 3 anos eu acumulava o meu emprego de arquitecto com o de fotojornalista do Tal & Qual.

Era também o editor de três páginas de espectáculos e cultura. Tinha uma vida louca mas muito divertida. Andava sempre a fotografar com a minha BMW e passado pouco tempo de entrar para o jornal comprava um MGB-GT o carro que me acompanhou durante 14 anos.

No tal& Qual fiz das melhore reportagens da minha vida. Jornalismo puro e duro. Descobri a mãe da Linda de Suza, que ela desancava numa entrevista à TV Guide, e a família a viver pobremente na zona da Amadora. Fui eu que falei e fotografei pela primeira vez a Dona Branca, uma velhinha que emprestava dinheiro e pagava uma percentagem louca aos depositantes.
Aprendi a ser rápido, astuto, esperto e a não ter desculpas para não fazer uma foto. Não eram aceites negas e ensaiámos um estilo fotográfico muito inglês. Fotos de corpo inteiro em movimento, retratos assumidamente posados, produções fotográficos de ilustração, fotos à socapa, disparar primeiro perguntar depois, fotos ao longe com grande teleobjectiva, muito do que hoje é banal na altura era fresco. Foi uma rotura com as fotografias chatas e estereotipadas dos jornais da altura. Mesmo o Expresso ainda não tinha dado o arranque a sério com a Revista dirigida pelo Vicente Jorge Silva e que tinha o Rui Ochoa como fotógrafo depois de ter sido dispensado pelo Hernâni Santos que não aceitou ele fotografar para o jornal sendo o fotógrafo da candidatura de Soares Carneiro.

Foi uma escola para mim e muito do que hoje tenho de repórter devo-a a essa recruta com o Hernâni Santos, um tipo talentoso, brilhante jornalista, com toda a escola da BBC, mas um biltre como pessoa. E que tinha a mania que era fotógrafo como todo o diletante que se preza. A minha saída do jornal foi muito infeliz. Depois de ter comunicado que ia fundar a Grande Reportagem ( 1985) o Hernâni decidiu não me pagar uns subsídios em atraso e correu comigo ao murro da redacção.
Para grande regozijo meu estava há duas semanas no Expresso quando me ligou o Ferreira Pinto a convidar-me a regressar. O Santos tinha dado em agricultor no Bombarral, foi pastar vacas e acabou sem glória uma carreira que podia ter sido notável.

O fim do Tal & Qual estava anunciado há muito. O jornal de hoje nada tinha a ver com os primeiros anos. Envergonhava mesmo dizer que se tinha trabalhado naquele pasquim. Por lá passaram nomes como Ferreira Fernandes, José Júdice, Ferreira Pinto ( um príncipe da escrita), o Jorge Morais ( um talento ímpar do jornalismo), o Luis Marques ( hoje administrador da RTP), o Henrique Monteiro ( muito pouco tempo mas ainda passou), o João Garcia, o Alcides Vieira( hoje director da SIC), o Vítor Bandarra, o Mário Zambujal, a Zaida Tristão... só por estes nomes dá para ter uma ideia da importância e da qualidade do jornal.
O fotógrafo fundador foi o Carlos Gil que fez a Maria do Salazar e as primeiras fotos em público da Snu e do Sá Carneiro, depois esteve o Ochoa e depois eu. Diga-se que eu fui o fotógrafo a estar mais tempo no início e só o Acácio Franco que me sucedeu esteve mais tempo. o António Pedro Ferreira ainda colaborou nas minhas férias.

O Tal & Qual foi um grande projecto e uma grande escola.
O segredo para o sucessodo era simples: criatividade, dedicação, estrutura simples e pensar sempre no leitor. Tornou-se indispensável aos sábados e isso é a chave.
Temo que esses tempos de entrega, de fervor pela reportagem, nunca mais voltem a ter essa militância. Vivíamos para o jornal e a nossa vida era excitante. Encontrávamos histórias em todo o lado. Aproveitávamos bocas dos amigos, cheirávamos histórias como o meu cão cheira a rua.
Éramos respeitados, temidos e muito bem pagos. Era uma forma de estar na profissão que não se compadecia com fretes a fontes, amiguismos. Havia rigor na escrita e exigência nas fotografias. Posso dizer que era um jornalismo independente e sério. Nos três anos que lá estive o jornal nunca teve nenhum processo e foram bem escaldantes alguns dos temas publicados.
O único foi um casal de nudistas que processou o jornal por ter aparecido de costas na capa.

Quem matou o Tal & Qual ?


17 comentários:

  1. eu lia sempre o tal&qual, teve o seu tempo ,cumpriu a sua missão. Ninguém o matou, morreu de velhice!
    Achei piada foi o MG. Aquilo era um carrito para o engate, não era?
    Esse carrito deve ter muitas historias giras para contar ,não terá?

    ResponderEliminar
  2. Oh Carlos, acalme-se pf. Os carros não são objectos de engate são objectos de desejo.

    ResponderEliminar
  3. olhe lá oh luiz agradeça aqui a je que lhe paguei uma das rodas do mgb...lollll e vc que nunca me levou a dar uma volta... seu ganda maroto.
    sim que eu comprava sempre o tal e qual só de saber que vc queria muito um mgb...lollllll eu tb mas pronto deixei pa si. dou umas voltas de morgan que tb é uma delicia.
    quanto ao bandarra e ao alcides e ao luis marques vai me desculpar mas... esses não eram nem são propriamente o exemplo de jornalistas de qualidade!
    independentemente do lugar que ocupam hoje! eu chamo mais trapezistas! mas isto sou eu que até sei do circo!
    tb o luis f menezes hoje é pr do psd e não vale um chavo! ora a porra.

    deixei de comprar no dia em que morreu mario castrim!

    ResponderEliminar
  4. quando um jornal acaba, é uma voz do povo e da liberdade que se cala.

    é só o que tenho a dizer.

    o último que me doeu (bastante !) foi A CAPITAL.

    ResponderEliminar
  5. O que é feito do Acacio franco?

    ResponderEliminar
  6. concordo consigo pezinhos.
    mas que fazer? o país é pequeno e além de tb ter falta de massa critica para fazer este tipo de edição. tem ainda o contra do uso do chavão de que se deve fazer um jornalismo que agrade ao povo como se o povo não fosse ele a verdadeira massa critica. o BOM POVO paga sempre as culpas do facilistismo com que os media nos presenteiam cada dia mais! não esquercer que os midias são uma classe assim a tirar para o arrogante intelectual que se está bem a c.... para o povo tal como os politicos ! usam e abusam do seu bom nome (povo)para apenas chegarem ao fim dos seus desejos economicos! eu queria era ve-los na birmania!!!!

    ResponderEliminar
  7. SIM PIS GABAS TE MUITO

    ResponderEliminar
  8. J.C

    Se o Tal e Qual foi para si uma escola, dir-lhe-ía para tentar aprender mais qualquer coisita com os artigos sobre fotografia que vão sendo editados na revista "Actual". Deixe lá a politica para quem sabe do assunto...

    ResponderEliminar
  9. refere-se à minha entrevista e da Ana Soromenho ao Jean Fracois Leroy no Actual ? LC

    ResponderEliminar
  10. O Acácio Franco está óptimo no Algarve a jogar golfe

    ResponderEliminar
  11. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  12. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  13. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  14. O que é se passa?!

    ResponderEliminar
  15. Querem ver que estas "remoções" tinham a ver com alguém que conhece os detalhes da passagem do bloguista pelo Tal e Qual? Será possível?

    ResponderEliminar
  16. Caro Luiz nunca trabalhei directamente consigo mas conheço o seus trabalhos. Foi pena essa do Tal & Qual ter acabado... não há nada que nunca acabe... e só a morte é certa!
    Tambem tive pena de Grande Reportagem... essa é que era uma grande revista!
    Eu estive 10 anos na Capital... agora ando aos biscates... a vida tá dificil... Gostei de saber do Acácio... esse conhecia-o bem. Abraço e continuação de bom trabalho!
    CM

    ResponderEliminar
  17. alguem sabe o email do Acácio Franco?

    obrigado e abraço a todos

    Jorge C.Pereira

    ResponderEliminar