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quarta-feira, maio 23, 2007

Piada de Charrua ou boca de carroceiro ?

Parece que a anedota de Charrua não era afinal uma anedota: era uma carroçada.
Segundo os tablóides da manhã o ex-deputado do PSD e funcionário público terá chama "filho da...." a Sócrates em alto e bom som, no meio da repartição. O caso muda de figura, se assim foi.
Nem sempre o que parece é.
Porventura poderá ter havido ali alguma alarvidade.
O que também não me espantaria. Deixou de haver regras de conduta em muitas empresas privadas e em organismos públicos. A balda ainda impera em muito lado e é responsável pelo nosso atraso crónico, falta de produtividade e profissionalismo. Anda tudo isto ligado.

O rigor é confundido com autoritarismo, a alegria no trabalho com rebaldaria, o brio com graxa ao chefe. É uma das marcas do 25 de Abril: deixou a ideia que em liberdade tudo se pode fazer, tudo se deve tolerar e ninguém tem de responder perante ninguém. A cultura da irresponsabilidade está instituída.

A diferença entre autoritarismo e autoridade está num fio de navalha, mas verdade seja dita que cada vez temos mais autoritarismo e menos autoridade.

Um funcionário público tem deveres de lealdade e tem de ter uma conduta responsável e digna.
Exemplar.
Ser-se funcionário público não é a mesma coisa que ser-se trabalhador de uma entidade privada. Essa cultura perdeu-se na nossa sociedade e a culpa recai sobre os governos que têm feito tudo para tirar dignidade a quem trabalha no Estado, desde funcionários a agentes da ordem e militares.
A imagem de Margarida Moreira não ajuda nada a confiar nela. Mas tudo isto são opiniões à distância.
Se o dislate de Charrua foi mesmo o insulto baixo deve ser responsabilizado, tenha ou não sido dirigido a Sócrates. Se foi uma piadola era melhor que a directora estivesse quieta. Ela disse que tomou a decisão a frio depois de muito ponderar.

Entretanto o Presidente da República, pressionado por alguns analistas políticos, já veio dizer que era bom que tudo fosse esclarecido.
Acho que Cavaco se precipitou. Se um PR passa a meter-se em processos disciplinares na função pública não vai fazer mais nada. E se se provar que houve mesmo comportamento grave então perdeu uma boa oportunidade para estar calado.

Sócrates esteve bem: respondeu com descontracção e disse que ninguém seria condenado por delito de opinião.
Estou curioso para ver o desfecho do caso. Se houve matéria para castigo e não houver consequências será uma vergonha. Se houve excesso de zelo, outro escândalo.

Daqui a 10 anos saberemos.

7 comentários:

  1. Luiz, que tal uma adenda à sua "posta" com a versão do réu? Pelo que ouvi parece que afinal a tal anedota não fazia referência ao Mr. Engenhocas, e tão pouco às actividades da mãe de quem quer que fosse. Ter-se-à tratado de uma conversa entre dois amigos (amigos há 15 anos) num gabinete fechado que posteriormente terá chegado aos ouvidos da tal senhora que tomou a decisão a frio depois de muito ponderar (sempre pensei que uma decisão a frio tinha muito de/apenas instinto e nada ou quase nada de ponderação/meditação).
    Está-se mesmo a ver que vêm aí uns pózinhos de confusão mediática para ser rapidamente esquecida, uma vez que estamos a falar de uma situação de palavra contra palavra que não deve levar a lado nenhum.
    Sabem qual a conclusão que tiro desta história? Com amigos destes (há 15 anos!!!!), tragam-me mas é os meus inimigos que desses já sei o que hei de esperar.

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  2. O Luís Cravalho diz que Sócrates esteve bem, que respondeu com descontracção dizendo que ninguém seria condenado por delito de opinião. Porém, convém lembrar que isto foi o que se passsou na quarta-feira porque na terça-feira o primeiro-ministro recusou falar do assunto (http://jn.sapo.pt/2007/05/22/primeiro_plano/piada_a_socrates_igual_a_anedota_dem.html). A Tutela também se recusou a prestar esclarecimentos até ao momento em que os partidos da oposição levantaram a questão no Parlamento e o Provedor de Justiça veio pedir explicações à DREN (http://jn.sapo.pt/2007/05/23/nacional/provedor_justica_pede_explicacoes_a_.html). Porém, na quarta-feira tudo mudou: a DREN emitiu um comunicado, a Tutela remeteu a questão para a DREN (http://jn.sapo.pt/2007/05/23/ultimas/Professor_suspenso_diz_que_s_p.html), o primeiro-ministro falou e até Jorge Coelho, na "Quadratura do Círculo", veio a insurgir-se contra a atitude da DREN. Cá para mim, os spin doctors do governo acharam que o balão já estava a encher demasiado e que convinha avançar com umas declarações públicas para esvaziar mais uma polémica com repercussões negativas na imagem do poder socialista.

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  3. Já vendo sendo hábito algumas bacoradas de alguns ministros e que eu saiba o primeiro-ministro não despachou para processo disciplinar, nem podia, obviamente, sendo esta minha observação meramente retórica.
    E, afinal, quando calha, todos nós mandamos bacoradas, umas mais foleiras que outras, umas com piada e outras sem piada nenhuma.
    Não sendo nós, por isso, muito diferentes dos ministros, apenas somos incógnitos, estando aqui a diferença das nossas bacoradas não terem dimensão mediática.
    E a bacorada do professor que foi despachado para processo disciplinar por uma directora regional de um ministério, só está a ter direito de antena, não por ter sido proferida por um incógnito professor, nem por se tratar de uma comissária política, mas porque o visado é um engenheiro social, que é, nem mais nem menos, o nosso actual primeiro-ministro.
    E esta piada, não pela graça que possa ter ou não ter, não interessa nada ao nosso primeiro-ministro, porque, tomara ele, que o assunto seja esquecido.
    Mas a comissária política em causa não só faz um disparate, porque o processo vai inevitavelmente ser arquivado, mas sobretudo porque veio trazer a licenciatura independente de novo para a chicana política.
    E lá vem a oposição pedir a presença da ministra no Parlamento...
    Como se não tivéssemos todos mais que fazer, ao contrário dos políticos que vivem destas querelas.
    Não é que o assunto não tenha dimensão política, porque até acho que tem, por estar em causa o direito a gozar do direito ao humor.
    E por cada vez mais se sentir uma atitude de bufaria, correndo o risco desta postura ser premiada nas promoções na administração pública, quando a capacidade de quem compete avaliar pode estar em causa, quer seja por incompetência ou pelo mais vil facciosismo.
    Acho, portanto, que a melhor solução é democratizar as bacoradas, venham elas dos ministros ou dos mais incógnitos cidadãos... Ou das mais bufas directoras deste ou daquele organismo.

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  4. "Comissária Política". O meu comentário fica por esta citação do comentário acima.

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  5. Só por muito fervor socrático é que se pode escrever uma tirada destas.
    Já valia quase tudo e agora? Já vale tudo?
    Ainda me lembro quando o chefe perguntava se tinham falado dele.

    - Saiba V. Exa que de V. Exa não ouvi nada, mas a sua mãezinha foi muito falada.

    No fim do ano passado, o governo anunciou com pompa e circunstância um aumento das pensões.
    Quando recebi a minha, fiz as contas e acreditei ingenuamente que tinha havido algum engano.
    Reclamei e a funcionária, solicita, explicou-me que tinha realmente sido aumentado os tais 2 ou 3 por cento, mas como o imposto também tinha aumentado...

    Não falei das mãezinhas de ninguém, até porque não digo palavrões, mas lá que pensei...confesso que pensei muito e durante muito tempo.

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  6. Olhe Luiz Carvalho acho que tem de haver mais cuidado com a ortografia aqui do seu blog, que a passarada ataca a um ritmo hitchckokiano. Refiro-me às gralhas. É que se você dá o exemplo empregando o c de cedilha (ç) antes do e do carroceiro, não
    venha depois queixar-se da qualidade dos comments...
    e por aqui me fico.

    abraço afectuoso.

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  7. É curioso como o sr. Luiz já sabe o que o sr. Charrua disse. Já enviou este link ao seu amiguinho Engenhocas ?
    Que falta de rigor impressionante.
    Já agora, devia cuidar mais da ortografia das suas graxas, para um professor fica particularmente mal.

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