O sentido de humor tem muito que ver com a capacidade de nos rirmos de nós próprios:
Intimidades Alcoólicas Tendo pegado de novo no livro preto, curioso, que me lembrei dos muitos livros brancos que por aí se encomendam. Só que o meu livro preto apenas me custou uns míseros cêntimos e os livros brancos que se encomendam neste país vão custando milhões, a propósito de estudos disto e daquilo. E quando as recomendações dos livros não agradam aos que os encomendam, então, também estes se tornam pretos e a solução é mandar passear os técnicos, sejam estes catedráticos, doutores ou “engenheiros”.
O facto de ter recuperado o meu livro preto, não lhe chamando negro, porque é importante dar um significado que não passe do seu sentido estritamente literal, não dando importância a algumas nuvens negras que, ás vezes, por aqui ainda vão pairando.
É que o livro é mesmo preto, por ter as capas desta cor. Já as suas linhas são quadriculadas, apenas porque não estavam disponíveis à venda livros com folhas sem linhas. Do mal, o menos. Mas, o ideal seria mesmo as folhas sem linhas onde a escrita preencha o espaço vazio como se aquelas ali estivessem. A verdade é que não se trata de um mero prático, mas de uma mania. Já que seria mais fácil escrever direito em linhas directas.
Acontece que, para escrever direito, as linhas acabam por atrapalhar. Pior do que isso, saio das linhas. E acabo atravessado nas folhas. Concluindo, assim, pela necessidade de escrever sem linhas que delimitem os espaços das folhas, como o caminho que se desbrava e se descobre sem que este esteja previamente delineado.
Mas, a que propósito vem toda esta conversa, nada parecendo ter com Intimidades Alcoólicas. Engano, porque vem mesmo a propósito.
Um dia, ou melhor, uma noite que estava quase a ser dia, dei comigo parado na minha primeira Citroen Diane. A segunda Diane foi comprada a um tipo que acabara de me dar boleia. Um tipo, contra o qual, momentos antes, me tinha estampado na traseira do seu próprio carro. Bolas, eu que gostava tanto do carrito e, coitado, lá vai que ter que ir para o sucateiro. O tipo, vendo a minha pena pelo carro, além de ser simpático, ou talvez por isso, lá me vendeu a minha segunda Diane. Olhe, se você gosta tanto deste tipo de carro, eu tenho lá um em casa que lho posso vender. E assim se fez o negócio. Sorte a minha que, tendo vendido a primeira Diane às peças, a coisa deu para comprar a segunda. Faltando aqui confessar que o sucateiro era meio amigo e lá fez a coisa de maneira a que o prejuízo não fosse muito. Aliás, se me lembro bem, acho que o prejuízo até acabou por não ser nenhum.
Mas, dizia eu, que vinha na minha Diane, numa noite que era quase dia. Vinha da Gafanha da Nazaré e ali para os lados de Mira perdi a “virgindade”... Calma, que eu já explico.
Percebi, quando me safei de uma fiscalização da GNR, que tinha apanhado a minha “primeira” bebedeira de whisky. Vinha de uma tertúlia, com formatura semanal, onde estava alistada malta fixe, desde médicos, enfermeiros, advogados, empresários, também um ou outro putanheiro e alguns penduras. Não me lembro se estava lá alguma psicóloga. Acho que não porque ali só paravam homens. Pertencendo eu ao grupo dos penduras, porque nunca me deixavam pagar a despesa das boas jantaradas. Era assim como o abade lá do grupo. A propósito, agora me lembro, que também tive uma tertúlia onde havia um padre, que comia e bebia que nem um abade. E era um gajo porreiro.
Ali aprendi a conhecer o bom vinho, o bom whisky e a saborear uma boa aguardente. Bons tempos. Mesmo, muito bons tempos...
Hoje, passados mais de vinte anos, percebo a razão por que não fui preso naquela noite que era quase dia. É que a minha Citroen disfarçou bem a bebedeira do seu condutor. Ou, quem sabe, porque aqueles polícias não tinham o balão onde me mandassem soprar. Se fosse hoje, em que os polícias são uns “copos de leite”, em que os carros patrulha estão equipados com computadores de última geração e as esquadras são modelos onde a mais sofisticada tecnologia é posta ao serviço dos cidadãos. Se fosse hoje, em que as operações policiais se fazem em directo nas televisões, eu tinha sido preso.
E naquela noite que era quase dia. Bem que tinha sido... fodido.
O sentido de humor tem muito que ver com a capacidade de nos rirmos de nós próprios:
ResponderEliminarIntimidades Alcoólicas
Tendo pegado de novo no livro preto, curioso, que me lembrei dos muitos livros brancos que por aí se encomendam.
Só que o meu livro preto apenas me custou uns míseros cêntimos e os livros brancos que se encomendam neste país vão custando milhões, a propósito de estudos disto e daquilo.
E quando as recomendações dos livros não agradam aos que os encomendam, então, também estes se tornam pretos e a solução é mandar passear os técnicos, sejam estes catedráticos, doutores ou “engenheiros”.
O facto de ter recuperado o meu livro preto, não lhe chamando negro, porque é importante dar um significado que não passe do seu sentido estritamente literal, não dando importância a algumas nuvens negras que, ás vezes, por aqui ainda vão pairando.
É que o livro é mesmo preto, por ter as capas desta cor. Já as suas linhas são quadriculadas, apenas porque não estavam disponíveis à venda livros com folhas sem linhas.
Do mal, o menos. Mas, o ideal seria mesmo as folhas sem linhas onde a escrita preencha o espaço vazio como se aquelas ali estivessem.
A verdade é que não se trata de um mero prático, mas de uma mania. Já que seria mais fácil escrever direito em linhas directas.
Acontece que, para escrever direito, as linhas acabam por atrapalhar. Pior do que isso, saio das linhas.
E acabo atravessado nas folhas.
Concluindo, assim, pela necessidade de escrever sem linhas que delimitem os espaços das folhas, como o caminho que se desbrava e se descobre sem que este esteja previamente delineado.
Mas, a que propósito vem toda esta conversa, nada parecendo ter com Intimidades Alcoólicas.
Engano, porque vem mesmo a propósito.
Um dia, ou melhor, uma noite que estava quase a ser dia, dei comigo parado na minha primeira Citroen Diane.
A segunda Diane foi comprada a um tipo que acabara de me dar boleia.
Um tipo, contra o qual, momentos antes, me tinha estampado na traseira do seu próprio carro.
Bolas, eu que gostava tanto do carrito e, coitado, lá vai que ter que ir para o sucateiro.
O tipo, vendo a minha pena pelo carro, além de ser simpático, ou talvez por isso, lá me vendeu a minha segunda Diane.
Olhe, se você gosta tanto deste tipo de carro, eu tenho lá um em casa que lho posso vender.
E assim se fez o negócio.
Sorte a minha que, tendo vendido a primeira Diane às peças, a coisa deu para comprar a segunda.
Faltando aqui confessar que o sucateiro era meio amigo e lá fez a coisa de maneira a que o prejuízo não fosse muito. Aliás, se me lembro bem, acho que o prejuízo até acabou por não ser nenhum.
Mas, dizia eu, que vinha na minha Diane, numa noite que era quase dia.
Vinha da Gafanha da Nazaré e ali para os lados de Mira perdi a “virgindade”... Calma, que eu já explico.
Percebi, quando me safei de uma fiscalização da GNR, que tinha apanhado a minha “primeira” bebedeira de whisky.
Vinha de uma tertúlia, com formatura semanal, onde estava alistada malta fixe, desde médicos, enfermeiros, advogados, empresários, também um ou outro putanheiro e alguns penduras.
Não me lembro se estava lá alguma psicóloga. Acho que não porque ali só paravam homens.
Pertencendo eu ao grupo dos penduras, porque nunca me deixavam pagar a despesa das boas jantaradas.
Era assim como o abade lá do grupo. A propósito, agora me lembro, que também tive uma tertúlia onde havia um padre, que comia e bebia que nem um abade. E era um gajo porreiro.
Ali aprendi a conhecer o bom vinho, o bom whisky e a saborear uma boa aguardente. Bons tempos. Mesmo, muito bons tempos...
Hoje, passados mais de vinte anos, percebo a razão por que não fui preso naquela noite que era quase dia.
É que a minha Citroen disfarçou bem a bebedeira do seu condutor. Ou, quem sabe, porque aqueles polícias não tinham o balão onde me mandassem soprar.
Se fosse hoje, em que os polícias são uns “copos de leite”, em que os carros patrulha estão equipados com computadores de última geração e as esquadras são modelos onde a mais sofisticada tecnologia é posta ao serviço dos cidadãos.
Se fosse hoje, em que as operações policiais se fazem em directo nas televisões, eu tinha sido preso.
E naquela noite que era quase dia.
Bem que tinha sido... fodido.