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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

A verdade inconveniente de Alberto João Jardim


Podemos achar a postura do Dr. Alberto João Jardim menos elegante e fora de moda. Insuportável mesmo. Troglodita mesmo.
Mas não há dúvida que ele deu à Madeira um bem estar invejável a nível nacional.
Hoje a Madeira tem o nível médio da Europa ( 98 por cento mais exactamente) ao lado da área de Lisboa que está nos 100 por cento, enquanto o país se fica pelo setenta e pouco.

A Madeira teve todo o tipo de apoios comunitários para ajudar o seu desenvolvimento e obteve grandes facilidades do governo central. A obra está lá: a Madeira é desenvolvida, com estrutura económica estável, um turismo exemplar.
Este progresso foi feito à custa de uma certa rédea curta, da domesticação da comunicação social, do pagamento de favores a primos, enteados e lacaios.
Jardim conseguiu criar uma côrte de apaniguados, um anel de protecção que permitiu este desenvolvimento e algum obscurantismo.
Contudo a Madeira é hoje uma região ao nível europeu, cosmopolita, onde dá gosto ir e viver. Não conheço nenhum madeirense que não goste da sua terra, de lá viver e de ter orgulho nisso, talvez tirando o padre do Bloco e alguns radicais e outros inimigos ferozes do Jardim. Mas isso é aceitável e natural.

Sem funfuns nem gaitinhas Jardim conseguiu o que os políticos portugueses não conseguiram em trinta e tal anos de regime democrático: liderança contínua, um projecto, uma fim, uma obra. Com atropelos aqui e ali à democracia ? Claro. Com unanimismo em torno do chefe ? Evidente. Com disciplina e trabalho? Também.
Foi caro mas a obra está lá. E se muitos falam em corrupção a verdade é que até agora ninguém conseguiu acusar Jardim de ser um vigarista ou que a ilha se tornou num jardim dourado. A Jardim não se conheçe riqueza pessoal nem exibições de novo-riquismo.

Há dois anos durante a campanha eleitoral regional fui à Madeira com duas colegas do Expresso para entrevistarmos Alberto João. Recebeu-nos com franqueza e respondeu com clarividência. Deixou-me viajar consigo durante um dia no seu Mercedes a fazer campanha. Inaugurava obra aqui e ali. Sempre com bandas de música à chegada, petiscos para todos e obra para ver.
Um mapa de inaugurações, em papel cenário de metros de largura colado à parede do escritório no Palácio do Governador, continha toda a agenda de obras a cortar fita.

" Dou bens às pessoas não dou dinheiro para esbanjarem em porcarias!" - dizia-me ele. E na verdade aquelas obras eram de cariz social e beneficiavam directamente os mais pobres.

Jardim confessava-me no carro que nunca gostara do cavaquismo. Mostrava simpatia por Fidel Castro e achava Chavez um ditador pesasse embora o seu lado católico.
A franqueza e frontalidade de Jardim não deixaram de me agradar. Ele corta a direito e constrói. Claro que aquele estilo está ultrapassado e aquela forma de fazer política também. A falta de educação já não é estilo aceitável.
Mas se isso tudo isso é verdade, não é menos verdade que não estamos habituados a vermos um político conseguir tão bons resultados para os eleitores. Há um empenho em Jardim que não se vê na maioria dos nossos políticos. Ele está sintonizado com os eleitores e fala-lhes directamente. Quem o faz nos dias de hoje ? Qual é o deputado que dialoga e está receptivo a falar com aqueles que o elegeram?

Vejam-se os Açores. Custam o mesmo, ou mais, do que a Madeira ao erário público e têm-se revelado um fracasso político. Não há progresso que se veja e o que desponta traz a marca da especulação imobiliária e da degradação da paisagem.

Jardim é a verdade política inconveniente.

Luiz Carvalho

4 comentários:

  1. Convenhamos, os feitos do sr. Jardim foram conseguidos graças às transferências milionárias para a Madeira.

    Está gira a foto-montagem :-)

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  2. Tretas...
    O alberto joão, usando o estilo do próprio, quando se refere ao senhor santos ou ao senhor silva, a única coisa a favor que lhe conheço é, de facto, não se constar que seja corrupto ou coisa parecida.
    Quanto à obra feita, esta tem sido conseguida à custa do populismo e da chantagem dos votos dos deputados da madeira, truque que lhe tem garantido em troca muito dinheiro.
    Não passa de um político arrogante, embora, segundo consta, honesto.
    Só que já chega dos sonsos do continente andarem a pagar para os madeirenses terem um nível de vida próximo da média europeia.
    Para viver bem com o dinheiro dos outros não é preciso ser muito inteligente.
    Basta umas bebedeiras com o povo, vestir a pele de palhaço e uns insultos aos "filhos da puta".
    E o povo da Madeira gosta.
    A "democracia" da madeira é o que existe de mais retrógrado.
    E eu até nem gosto particularmente de silvas e de santos.
    Mas gosto menos de falta de educação.
    E ainda menos de ser passado por parvo.

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  3. mas já ninguém se lembra do que o homem escrevia antes do 25 de Abril !!???
    sobre as universidades do ˜contnente˜ ? ou sobre os ˜perigosos elementos subversivos˜que eram ˜contra a guerra no ultramar˜ !|?
    Nem do programa na RTP1 já depois mas ainda nos anos 70, em que ameaçou um jornalista madeirense que não concordava com ele !!?
    Pois é...se houvesse memória, nada do que se passou de então para cá surpreenderia.


    Maria A. Morais

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  4. No blogue Kontratempos:
    "MADEIRA. Alberto João Jardim demitiu-se para garantir mais algum tempo na gestão da sua transição política, o que inclui tudo o que é negócio obscuro e moços de cavalariças. Nas duas ou três banalidades possíveis de reter da sua comunicação, Jardim trata os madeirenses -- e todos os portugueses, claro -- como imbecis. Ao «colocar-se nas mãos do povo», Jardim conta accionar o sistema concentracionário que criou ao longo das últimas décadas para concretizar o seu golpe palaciano e tardar o mais possível a perda da maioria absoluta, isto é, a queda da promiscuidade alimentada durante anos em toda a esfera pública local. Porque o problema de Alberto João Jardim, contrariamente ao que muitas vezes se diz no continente, não é (só) o seu estilo mentecapto: é a prática política limitadora das liberdades democráticas, a asfixia cívica e as teias de sinecuras. Até quando?

    escrito por Tiago Barbosa Ribeiro em 21.2.07"

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