Nunca um boneco de plástico serviu tantos colos: por outras palavras, cansei-me. Acabou o tempo de jogo limpo e vamos ao resto das armas. Como diz o Poeta do Sorrobeco, é chegada a hora de dizer "Não". Os meus piores pensamentos vêm-me pela noite, quando todos regressam a casa, e o fundo de cada rua, como dizia o meu ilustre antepassado, se "assemelha a uma veneza de tédios". Hoje, pensei que estava na Europa, onde os referendos são convocados, quando se verificou uma tal clivagem na sociedade, e os jogos de bastidores partidários tão inoperantes que é necessário chamar a Democracia Directa, ou seja, o cidadão, em desespero de causa do equilíbrio de forças, sobrepõe-se aos seus representantes eleitos, e é obrigado a tomar uma posição individual, sobre um tema pantanoso e indeciso. Em Portugal, onde as coisas funcionam todas ao contrário, o ser vil e cobarde que nos governa resolveu lançar a público um referendo que, pelo contrário, veio clivar, fracturar e tornar ainda mais não-dialogante toda a traumatizada sociedade portuguesa. Já há muito que não lhe desculpo uma, tenho sido coerente na minha linhagem discursiva sobre a criatura, todos sabem que lutei contra o Cavaco, por já saber que ele ia ser um dócil "pequinnois" deste abjecto estado de coisas, todos sabem que tudo farei para que Sócrates caia, como o Muro de Berlim, como o Thomaz, naquele dia de festa, como a estátua de Saddam, em Bagdad, como em tantos outros momentos da euforia dos povos contra a vileza dos seus governantes. Hoje, defronte de muitos fundos de ruas de venezas de tédios, escrevi-lhe uma carta mental, uma coisa simples, que lhe dizia que necessitávamos, neste momento, em Portugal, de uma bateria de referendos, o referendo sobre a idade da reforma, o referendo sobre o Portugal das regiões, o refrendo sobre termos acesso a 20 anos de canais de desvio de fundos comunitários, o referendo de sabermos os nomes de quem nos lançou para a Cauda da Europa, o referendo sobre o salários dos presidentes dos conselhos de adminstração das empresas públicas, o referendo sobre a incompatibilidade de transição entre cargos políticos e conselhos de administração privados, e vice-versa, o referendo sobre a Ota, o referendo sobre a impunidade judicial de certas figuras, o referendo (retroactivo) sobre a aplicabilidade de fundos em coisas como estádios de euros-2004, o referendo sobre ter sido Carlos Cruz a decidir dissipar dinheiros públicos para trazer para Portugal monstros, ele próprio, monstro, incluído, o referendo sobre os poderes do cidadão para impedir a prescrição de certos processos, o referendo sobre o Segredo de Justiça, o referendo sobre o dia a dia que ele, constantemente, nos corrói. Do lado de lá, só o silêncio, e cada rua era uma veneza de tédios, a dizer-me, mas ele vai-te dar um primeiro referendo, e que vem já aí, no dia 11 de Fevereiro, e eu, dialogando com cada fundo de rua uma veneza de tédios, disse, pois eu quero os outros primeiro, e, quando me devolverem o meu dever democrático de pronunciamento directo, também falarei sobre o Aborto, mas só depois. Não vai haver nenhum referendo sobre nada, e a minha posição final -- com exclusão de alguma imprevisível hecatombe -- passou a ser a seguinte: posto que um governo dotado de Ignomínia Absoluta, em nada, nem em nenhum dos seus actos, consultou os cidadãos portugueses sobre dezenas de matérias sensibilíssimas para o seu bem-estar, o seu viver presente, e o seu futuro, e agora decide usar, sem apelo nem agravo, o ventre feminino como campo de batalha, compete-me, como cidadão europeu, e, por azar, português, pronunciar-me contra a realização de um tal referendo, o que farei, por todos os meus cívicos postos ao meu dispor. É chegada a hora de dizer "Não", de dizer "Não", a todos os discursos do fantoche; é chegada a hora de dizer "Não" a cada uma das suas aparições públicas, de apagar a televisão, de cada vez que surge, é chegada a hora de congregar do mesmo lado desta trincheira, todas as forças políticas, todos os movimentos, todas as iniciativas populares que se oponham à sobrevivência política da criatura. No dia 11 de Fevereiro, em abstracto, vamos ter uma intervenção cívica, de democracia directa, onde, independentemente do tema -- e é lastimável, ó, como eu lastimo que o tema seja aquele, e que a canalhice e a falta de vergonha do verme o tenham escolhido!... -- é tempo de dizermos ao Boneco de Plasticina, "Não!...", Sr. Sócrates, "Não!...", Sr. "Eng.", "não", à sua cobardia política, "Não", à sua impiedade, "Não", a este permanente coarctar dos nossos direitos cívicos e humanos; "Não", a qualquer iniciativa política que saia do seu antro, "Não" puro e simples, ao seu Referendo do Aborto. Quero que esse "Não" seja sentido, por si, como uma expressão de nojo de uma população inteira sobre tudo o que você representa e defende. Votar "NÃO" é também votar contra esta Abjecção que nos governa. E agora comam-me vivo: estou às vossas ordens. Muito boa noite.
Obviamente, Sim Excelente debate, de facto, o dos Prós e Contras desta noite.
Porque despenalizar não é liberalizar.
Obviamente, que liberalizar não significa dar o direito da mulher de chegar ao médico e exigir que lhe faça um aborto.
Obviamente, que se o Sim vencer, tal implica que a lei a criar preveja, já fora do contexto criminal, as condições em que o aborto pode ser feito, para além das condições que já estão explícitas na pergunta.
Porque o feto, ou o embrião, ou o que lhe queiram chamar, apesar de tudo, é uma vida.
E aqui entra o papel de mediação do médico, que, naturalmente, irá decidir se dos contextos sociais, familiares e clínicos em que o aborto é pedido, este deve ou não ser feito.
Isto não precisa de estar na pergunta, está implícito.
O Sim traz a mulher para a possibilidade de poder ser convencida em não abortar.
O Não afasta a mulher dessa possibilidade, porque quem colabora no aborto clandestino tem, seguramente, ou, pelo menos pode ter, uma lógica, comercial.
A Noite de Cristal
ResponderEliminarNunca um boneco de plástico serviu tantos colos: por outras palavras, cansei-me. Acabou o tempo de jogo limpo e vamos ao resto das armas. Como diz o Poeta do Sorrobeco, é chegada a hora de dizer "Não".
Os meus piores pensamentos vêm-me pela noite, quando todos regressam a casa, e o fundo de cada rua, como dizia o meu ilustre antepassado, se "assemelha a uma veneza de tédios".
Hoje, pensei que estava na Europa, onde os referendos são convocados, quando se verificou uma tal clivagem na sociedade, e os jogos de bastidores partidários tão inoperantes que é necessário chamar a Democracia Directa, ou seja, o cidadão, em desespero de causa do equilíbrio de forças, sobrepõe-se aos seus representantes eleitos, e é obrigado a tomar uma posição individual, sobre um tema pantanoso e indeciso.
Em Portugal, onde as coisas funcionam todas ao contrário, o ser vil e cobarde que nos governa resolveu lançar a público um referendo que, pelo contrário, veio clivar, fracturar e tornar ainda mais não-dialogante toda a traumatizada sociedade portuguesa. Já há muito que não lhe desculpo uma, tenho sido coerente na minha linhagem discursiva sobre a criatura, todos sabem que lutei contra o Cavaco, por já saber que ele ia ser um dócil "pequinnois" deste abjecto estado de coisas, todos sabem que tudo farei para que Sócrates caia, como o Muro de Berlim, como o Thomaz, naquele dia de festa, como a estátua de Saddam, em Bagdad, como em tantos outros momentos da euforia dos povos contra a vileza dos seus governantes. Hoje, defronte de muitos fundos de ruas de venezas de tédios, escrevi-lhe uma carta mental, uma coisa simples, que lhe dizia que necessitávamos, neste momento, em Portugal, de uma bateria de referendos, o referendo sobre a idade da reforma, o referendo sobre o Portugal das regiões, o refrendo sobre termos acesso a 20 anos de canais de desvio de fundos comunitários, o referendo de sabermos os nomes de quem nos lançou para a Cauda da Europa, o referendo sobre o salários dos presidentes dos conselhos de adminstração das empresas públicas, o referendo sobre a incompatibilidade de transição entre cargos políticos e conselhos de administração privados, e vice-versa, o referendo sobre a Ota, o referendo sobre a impunidade judicial de certas figuras, o referendo (retroactivo) sobre a aplicabilidade de fundos em coisas como estádios de euros-2004, o referendo sobre ter sido Carlos Cruz a decidir dissipar dinheiros públicos para trazer para Portugal monstros, ele próprio, monstro, incluído, o referendo sobre os poderes do cidadão para impedir a prescrição de certos processos, o referendo sobre o Segredo de Justiça, o referendo sobre o dia a dia que ele, constantemente, nos corrói.
Do lado de lá, só o silêncio, e cada rua era uma veneza de tédios, a dizer-me, mas ele vai-te dar um primeiro referendo, e que vem já aí, no dia 11 de Fevereiro, e eu, dialogando com cada fundo de rua uma veneza de tédios, disse, pois eu quero os outros primeiro, e, quando me devolverem o meu dever democrático de pronunciamento directo, também falarei sobre o Aborto, mas só depois.
Não vai haver nenhum referendo sobre nada, e a minha posição final -- com exclusão de alguma imprevisível hecatombe -- passou a ser a seguinte: posto que um governo dotado de Ignomínia Absoluta, em nada, nem em nenhum dos seus actos, consultou os cidadãos portugueses sobre dezenas de matérias sensibilíssimas para o seu bem-estar, o seu viver presente, e o seu futuro, e agora decide usar, sem apelo nem agravo, o ventre feminino como campo de batalha, compete-me, como cidadão europeu, e, por azar, português, pronunciar-me contra a realização de um tal referendo, o que farei, por todos os meus cívicos postos ao meu dispor. É chegada a hora de dizer "Não", de dizer "Não", a todos os discursos do fantoche; é chegada a hora de dizer "Não" a cada uma das suas aparições públicas, de apagar a televisão, de cada vez que surge, é chegada a hora de congregar do mesmo lado desta trincheira, todas as forças políticas, todos os movimentos, todas as iniciativas populares que se oponham à sobrevivência política da criatura. No dia 11 de Fevereiro, em abstracto, vamos ter uma intervenção cívica, de democracia directa, onde, independentemente do tema -- e é lastimável, ó, como eu lastimo que o tema seja aquele, e que a canalhice e a falta de vergonha do verme o tenham escolhido!... -- é tempo de dizermos ao Boneco de Plasticina, "Não!...", Sr. Sócrates, "Não!...", Sr. "Eng.", "não", à sua cobardia política, "Não", à sua impiedade, "Não", a este permanente coarctar dos nossos direitos cívicos e humanos; "Não", a qualquer iniciativa política que saia do seu antro, "Não" puro e simples, ao seu Referendo do Aborto. Quero que esse "Não" seja sentido, por si, como uma expressão de nojo de uma população inteira sobre tudo o que você representa e defende.
Votar "NÃO" é também votar contra esta Abjecção que nos governa.
E agora comam-me vivo: estou às vossas ordens.
Muito boa noite.
Obviamente, Sim
ResponderEliminarExcelente debate, de facto, o dos Prós e Contras desta noite.
Porque despenalizar não é liberalizar.
Obviamente, que liberalizar não significa dar o direito da mulher de chegar ao médico e exigir que lhe faça um aborto.
Obviamente, que se o Sim vencer, tal implica que a lei a criar preveja, já fora do contexto criminal, as condições em que o aborto pode ser feito, para além das condições que já estão explícitas na pergunta.
Porque o feto, ou o embrião, ou o que lhe queiram chamar, apesar de tudo, é uma vida.
E aqui entra o papel de mediação do médico, que, naturalmente, irá decidir se dos contextos sociais, familiares e clínicos em que o aborto é pedido, este deve ou não ser feito.
Isto não precisa de estar na pergunta, está implícito.
O Sim traz a mulher para a possibilidade de poder ser convencida em não abortar.
O Não afasta a mulher dessa possibilidade, porque quem colabora no aborto clandestino tem, seguramente, ou, pelo menos pode ter, uma lógica, comercial.