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quarta-feira, novembro 15, 2006

Cozido à portuguesa entre mim e Eduardo Gageiro

Eduardo Gageiro hoje no STOP em campo de Ourique depois de um cozido divinal

Eu tinha 16-17 anos apareci no Século e o Eduardo Gageiro recebeu-me e viu a minha caixa de fotos a preto-e-branco. Fiquei-lhe sempre muito agradecido pelo gesto. Eu apreciava muito o trabalho dele que via publicado no Século Ilustrado e mais tarde no àlbum Gente. Ele foi a minha primeira referência no fotojornalismo. Sempre o vi como um mestre. Admirava o seu estilo de fotografar, máquina na mão, apontar e disparar, o circular no terreno discreto, como um gato, certeiro. As suas fotografias sempre conjugaram o rigor do enquadramento, com o apuro técnico e com a narrativa visual jornalística. As suas fotos têm emoção, instante e muita sensibilidade. São as melhores fotografias de Portugal nas décadas de 60-80. Naõ quer dizer que as mais recentes não sejam boas. Mas naqueles anos as suas fotos marcaram e testemunharam a realidade portuguesa.
No inícios dos anos 80 o Eduardo Gageiro- que não prima pelo bom feitio- zangou-se comigo por causa de eu ter sido testemunha num processo contra ele, apesar de eu ter sempre declarado que nada me movia contra ele.
O ano passado o António Pedro Ferreira proporcionou as pazes entre nós numa exposição onde participavam o Alfredo Cunha e ele APF.
Foi um gesto simpático e proporcionou-me arrumar esta contenda estúpida na minha vida. Sempre respeitei e elogiei o trabalho do Gageiro.
Hoje entre uma grande almoçarada no STOP de Campo de Ourique, um divinal cozido bem regado a tintol tranquilizante e o môno do novo livro do Eduardo foram momentos de grande comoção.
Isto vai caír mal em amigos meus. O Gageiro tem muitos anti-corpos, alguns fotógrafos preferem não lhe falar, mas eu acho que a sua obra é superior a episódios mais ou menos mesquinhos.
Ele é das poucas pessoas que conheço que ama a fotografia e que esteabeleçe uma relação única com o acto de fotografar.

Este seu livro sobre as religiões vai ser de arrasar. As fotografias são sublimes, muitas feitas nos últimos anos e inéditas, muito bem impresso com uma lógica de edição coerente e comunicativa.

Voltarei ao livro e a outras conversas com Gageiro.

1 comentário:

  1. Tenho a felicidade de possuir o livro/álbum "GENTE" nº 264, assinado pelo Eduardo Gageiro. Soberbas, as fotografias, mais as palavras desse outro grande Senhor, José Cardoso Pires.
    Uma nota para a lição que Eduardo Gageiro nos dá ao permitir que saibamos o tipo de 'crop' que efectuou em cada fotografia, bem como o modelo de máquina utilizado, aberturas, velocidades, filmes e papel fotográfico.

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