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sexta-feira, setembro 29, 2006

Fotos que mexem connosco

A foto vencedora deste ano do World Press Photo

Eu tinha quinze anos e estava naquela idade do armário, sem saber muito bem o que queria ser quando fosse grande.

Na época a droga ainda não era um risco mas as probabilidades de um jovem ser desviado para o seminário, um coro de igreja, a bufa ( vulgo Mocidade Portuguesa) eram iminentes.
Estive à beira do abismo mas salvei-me: podia ter dado em cançonetista ( o Festival da Canção apelava aos jovens inspirados), abraçado a carreira de actor ( tinha declamado numa sessão do liceu com o Carlos Avilez a assistir) ou seguido outro caminho mais atinado: fui para arquitectura então um curso difícil, onde entrei pondo-me a salvo de tendências maneiristas.

Estava ainda indeciso mas sabia que tinha de ter uma profissão que fosse criativa e virada para a intervenção social. Finalmente quando por acaso vi a exposição The Family of Man, a grande retrospectiva organizada por Edward Steichen, que estava então para o que hoje é o World Press Photo, não hesitei: que se dane, quero ser fotojornalista!

A multidão que enche o Centro Cultural de Belém, no momento em que escrevo este post, e que acorre aos milhares para ver o que de melhor se faz em fotojornalismo no Mundo, tem razões fortes para adorar fotografias.
Nas paredes do CCB vão figurar histórias de heróis e mártires, vedetas e gente da rua, rostos felizes e irremediavelmente chorosos.

Ao correr dos olhos vão passar cenas únicas da aventura humana, das que glorificam a raça e muitas que nos remetem para os primórdios da barbárie. Como poderíamos viver sem aquelas fotografias?

O que seria da sociedade moderna sem fotógrafos com a disponibilidade e o talento para pintarem de forma tão eficaz, dura e pura o que nos rodeia?
O que seria a História sem esta memória colectiva que vai permitir aos vindouros saberem tanto de nós, e aos do nosso tempo entenderem melhor o que somos, o que aqui fazemos?

A fotografia na sua vertente informativa, o fotojornalismo, ganhou uma dimensão notável no saber e mesmo no conhecimento.

Nós que somos jornalistas da câmera não nos apercebemos por vezes, do papel que desempenhamos, da importância de estarmos muitas vezes no lugar certo, no momento certo e de podermos dar um sentido à História, às histórias, com a nossa intuição, saber, sensibilidade e alguma técnica.

Mais que fotógrafos, artistas, ou voyeurs, somos repórteres, cronistas visuais, agentes da História. Este papel para o qual não estávamos a contar porque começámos por paixão à imagem e depois viemos a perceber como as nossas fotografias podiam( e de que maneira!) mudar o Mundo.

Foi na Guerra Civil de Espanha ( Robert Capa), no Vietname ( Eddie Adams, Larry Burrous e outros), no Biafra ( Don McCullin), quando o horror não se tinha vulgarizado e a desgraça alheia, que é também nossa, não passava impune aos olhares indiferentes de leitores gulosos de glamour ou de vidas virtuais à la carte.

Não sei se algum puto ao ver este World Press Photo abandonará a ideia de vir a ser actor de novela, futebolista ou de escolher outra profissão de sucesso.
Se algum deles fixar uma que seja daquelas imagens para toda a vida, o fotojornalismo está vivo. E recomenda-se.

2 comentários:

  1. Essa foto, é, de facto, UMA FOTO, uma verdadeira foto, "forever and ever"... :-|

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  2. ainda ben que tristezas não pagam dívidas

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