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domingo, agosto 06, 2006

Enviados de guerra a hóteis de 5 estrelas

Há uma coisa que as televisões em Portugal não compreendem, ou não podem compreender: pôr um enviado a um cenário de guerra a falar em directo, a um preço exorbitante de satélite, para fazer comentários e dizer banalidades, é caro, ridículo e pior: não presta nenhum serviço aos espectadores.
É jornalismo espectáculo com a agravante de ter menos recursos do que as séries juvenis da moda.
As televisões sentem necessidade, por uma questão de audiência, em mostrar que estão na frente da guerra, mas na realidade estão muitas vezes a falar de um confortável e seguro hotel de 5 estrelas, longe dos acontecimentos dramáticos. Fazem-no porque não o sabem fazer de outro modo e mesmo que o quisessem, diga-se em abono da verdade, não teriam os meios das grandes televisões mundiais.

Lembro-me de na primeira Guerra do Golfo, estava eu com o Paulo Camacho, então no Expresso, e vários jornalistas portugueses e estrangeiros num hotel de Amã, à espera de poder chegar à fronteira com o Iraque, quando reparo no José Manuel barata Feyo, então enviado da RTP, a falar junto a uma parede branca ( como se compreenderá um fundo interessantíssimo para o tema !) com voz excitada como se estivesse na frente de batalha. Este tom exaltado
daria naquela degenerência chamada Aldraban.
Mais tarde, ao ver uma reportagem sua feita na mesma estrada que eu e o Paulo fizéramos ao Iraque, embora com controles onde bastava mostrar a credencial de jornalista para passar, o Barata Feyo transformara essa viagem relativamente tranquila, numa grande aventura televisiva.
Estas encenações resultam em televisão e os espectadores sentem que estão a sintonizar um canal de heróis. Gostam. O Orelhas conseguiu muito do seu sucesso à custa destes exageros para não dizer verdadeiras palhaçadas.

Ver os envios de cadeias como a Sky, BBC ou CNN, num estilo sóbrio e rigoroso, e ver depois estas reportagens já imbuídas de tiques narrativos à la Morangos Com Açúcar é de fugir e pôr a mão na carteira. É que no caso da RTP quem paga a factura do satélite somos nós e ainda por cima no recibo da EDP, uma subtileza política e jurídica inventada há anos por Almeida Santos, outro espertalhão mas da pantalha política.

6 comentários:

  1. O Luíz parece que anda zangado... Mas, aporra toda é que voc~e tem razão.

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  2. Alfonso Rojo

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  3. Estilo sobrio, el de Henrique Cymerman, también........

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  4. Não ando zangado, pelo contrário. Agora irritam-me os diletantes.
    Claro que nada do que escrevi se aplica a nomes como a Cândida Pinto, ou o Camacho, ou Cyrne ou Renato. Para não falar no Henrique Cymerman. Falava mesmo dos cromos.

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  5. Olá Luiz. Independentemente daquilo que aqui diz, não acho correcto chamar-lhes cromos. Verdade é, apesar de nunca ter estado numa frente e de ainda continuar a sonhar ser repórter de guerra, que muitos deles fazem precisamente aquilo que o Luiz disse: encenam todo um teatro que é tudo menos o de guerra. Infelizmente é o que, por cá, se vê. Conquanto não saibamos se esta é uma opção totalmente sua ou se é algo que vem "de cima".

    Uma coisa lhe digo: mal acabe o meu curso - já vou pro último ano - o meu objectivo irá começar, para isso lutarei, a ganhar forma. Eu sou daqueles que gosta do jornalismo "puro e duro" sendo, simultaneamente, sóbrio e directo. Como dizia um dos jornalistas que fez o curso com o exército para repórteres de guerra:"Espero que a minha namorada não me esteja a ver, mas é deste jornalismo que eu gosto!"

    Faço, na íntegra, minhas as suas palavras.

    Já agora, Susan Sontag, uma conhecida repórter e escritora criticava esses repórteres de guerra que, como a própria dizia, escrevem sobre a guerra sem lá terem estado. Escrevem das suas casas de campo sentados em cadeiras de madeira confortáveis.

    Como em tudo na vida, há aqueles repórteres que servem de exemplo a muitos outros que por vezes com mais e melhores meios não fazem um trabalho digno de um repórter de guerra, que se supõe ser qualificado.

    Um abraço Luiz. E, já agora, obrigado por ter puxado este tema dos repórteres de guerra!

    Hugo Monteiro

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