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segunda-feira, novembro 10, 2008

Gageiro na Mãe de Água



fotos de Luiz Carvalho (Panasonic LX3)
As fotografias do Eduardo Gageiro dispensam palavras. Porque falam por si e são boas em qualquer parte do Mundo. Ele marcou a fotografia portuguesa na década de 60-70 e sem as suas fotos Portugal era mais desconhecido, a nossa memória colectiva muito, mas mesmo muito, mais débil.
Eu sou fã das suas fotos desde os meus 16 anos. Influenciou-me imenso. Aprendi com ele a perspicácia no terreno, o atrevimento, a audácia, o nervo, a intuição amestrada. Gosto da força das suas fotos, do expressionismo, da mensagem directa. Do instante. Gosto do apuro técnico, da técnica fotográfica pura e do prazer pelo enquadramento. Claro que tudo isto é em Gageiro por vezes apenas e só instinto e intuição. Ele é uma espécie de batedor da floresta, alguém em quem se pode confiar para desbravar mato e apanhar a presa a qualquer momento.
Ele faz parte de uma geração de repórteres que estavam sempre no sítio onde os bate-chapas não estavam, à coca, a cheirar o imprevisível. Gageiro fotografava contra as regras, por vezes contra tudo e contra todos. Quando todos usavam flash ele "puxava" os filmes, quando os outros fotografavam o país sentado ele esperava que ele se levantasse. Quando os rotineiros iam jantar ele esperava que o caixão com o Salazar fosse destapado. Ainda muitos usavam a Rollei no umbigo ele já a punha rente ao chão para apanhar a alma dos peregrinos de Fátima. Ainda os outros não tinham descoberto a grande angular já ele a usava para estar perto da acção (e não conhecia de certeza a frase de Capa!).
O Gageiro é a nossa Amália da fotografia. Para o melhor, e para o pior só se for num certo salonismo que ele herdou dos tempos em que as tarde com o António Paixão no laboratório da Filmarte eram tertúlias de fotógrafos artistas.
Esta exposição que ele agora mostra na Mãe de Água confirma tudo isto mas também não acrescenta nada de novo. Que pode um fotógrafo acrescentar ao fim de 50 anos de carreira? São fotografias que revisitamos sempre com gosto. Mas desta vez a opção por provas digitais não foi a melhor. O papel e as impressoras Canon estão muito longe da excelência da EPSON e o resultado comparado com as impressões analógicas da exposição do Museu da Electricidade, feita há anos, é muito inferior. Mesmo a opção por um sépia que virou vermelho não foi a melhor. A mesma critica aplicaria ao livro.
Mesmo com estes percalços são as fotos do Gageiro. Eternas.

2 comentários:

  1. Curioso no minimo, o que aqui contas sobre esta nova exposição de Eduardo Gageiro.
    E não o seria tanto se não fosse usual ouvir-mos todos o Mestre Gageiro apregoar aos quatro ventos que é radicalmente contra as novas tecnologias...!!!
    Vou procurar o Livro para conferir e comprar, pois gosto de possuir o que de melhor se faz em Fotografia no nosso País, mas essa das provas digitais...
    Obrigado pela informação.
    Gaspar de Jesus

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  2. Já não há quem imprima fotos em prata? Eu faço isso, tenho uma porrada de ampliadores em casa.

    Viva Gageiro, o seu atrevimento, a sua audácia.

    Cumprimentos,
    Rui Silva

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