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terça-feira, fevereiro 10, 2009

Salazar, meu pinga-amor



A série da SIC sobre os amores de Salazar quer mostrar uma nova faceta do ditador: o pinga-amor que haveria nele.

O homem que arruma as botas e entra mar dentro, o charmoso que faz sofrer senhoras delicadas e apaixonadas, um tirano do coração. Eis o outro Salazar.Se no concurso "O Melhor português de sempre" ele já tinha transpirado humanismo, agora sua erotismo.

Claro que a imaginação é livre e o guionista da série (não sei se foi a Felícia Cabrita) tem todo o direito de extravasar a figura. Como não se trata de uma série histórica os exageros são tolerados, embora uma falta de realismo trespasse toda a narrativa.

Salazar era uma figura tímida, de sentimentos acalentados, sublimados, pela sua condição de homem de Estado, de guardião da Pátria, um papel que impôs a si próprio como uma missão. E jogou esse papel até ao fim da vida. Fernando Dacosta retrata-o de uma forma exemplar no seu livro "As máscaras de Salazar", uma narrativa sublime sobre o carácter e a personalidade do homem de Santa Comba.

Se houve alguma altura da sua vida em que o amor lhe bateu ao ferrolho foi quando Cristine Garnier, uma jornalista francesa, charmosa, chique e casada, acabou por ficar encantada com esta figura solitária que a Europa ignorava e o Portugal dos pequeninos temia. É ainda Dacosta que conta como este contacto que acabou em paixão ia destruindo o âmago de Salazar. Ele terá estado quase a abandonar o Poder para a seguir mas depois desistiu, virou costas, deixando a francesa triste e sempre entregue ao marido.

Este lado contido de Salazar é muito interessante. Conheci homens semelhantes: funcionários públicos cumpridores, católicos, conservadores, com um casamento tradicional, tudo na maior das perfeições e que a dada altura da vida surpreenderam tudo e todos, abandonando mulher e filhos para se juntarem a uma paixoneta. Rasgaram uma longa folha de bons serviços, trocaram a legítima por outra menos formosa, porventura menos dedicada. Fizeram-no apenas pelo desejo de mudança.

A série é bem produzida, mas tem um ritmo demolidor para televisão. Arrasta-se, os planos são longos, não têm ritmo, as personagens são pouco credíveis. As botas de Salazar, colocadas no areal enquanto o homem entra mar dentro, é completamente irrealista e pouco ou nada traduz do que era sua personalidade.

Salazar vai ainda fazer correr muita intriga sobre o seu coração contido.

Depois do ditador, a dita dura.

2 comentários:

  1. Eu gostava de saber quem é que escolheu o diogo morgado para salazar. É quem o escolheu deve tê-lo escolhido com a mesma lucidez que teria depois de ter levado com um tijolo na cabeça, largado de um 10º andar. E já agora, aquela caracterização, ai ai...
    Chiça, queriam fazer algo sobre o salazar, ao menos fizessem-no como deve ser.

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  2. Retratar Salazar é um desafio.Dois traços são relevantes na sua personalidade.O primeiro como Estadista, acomodou-se ao Poder.Como Homem optou pelo celibáto.

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