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sábado, abril 05, 2008

Fotojornalismo em debate hoje em Lisboa

Pelos comentários postos por aqui sobre o Visão percebe-se que houve ressaca e amargos de boca. O ego dos fotógrafos é grande - ainda bem- e os prémios poucos para tantos. Duzentos e tal fotógrafos não é tanto como os advogados mas para lá caminhamos.
Quem achar que o mérito de um profissional se mede pelos prémios vai no mau caminho. Conheço fotógrafos premiados, apaparicados pela crítica, que na hora de resolverem em tempo útil um trabalho, vacilam e acabam por entregar verdadeiras bostas. É bom entender que um prémio é sempre fruto de um somatório de factores vindos de um grupo de pessoas que assim elegem o seu prémio. Outro júri escolheria outras fotos. E todos com legitimidade.
A fotografia é de uma subjectividade enorme. E há fotógrafos que se transformaram nuns verdadeiros papa-prémios. Até já sabem que tipo de fotografia devem mandar em função do perfil do júri.
O júri do Visão é peculiar. O Jean Francois-Leroy é um " soissante-huitards" que quer mudar o Mundo com a fotografia e que nunca elege fotografias que passem ao lado das misérias, da guerra. O festival de Perpignan, de que ele é o director há 20 anos, é uma "overdose" de excelentes fotografias mas no segundo dia já não se aguenta tanto Iraque, tanta miséria, tanta prisão, tanta violação, tanta doença, tanta África. E quando no ano passado numa das soirées passou uma homenagem a um magazine de cinema aquilo foi uma lufada de charme e ar fresco.

O fotojornalismo não é só miséria, guerra, choro e tragédia. E o World Press Photo afina também por este diapasão. E se há um cinismo enorme na imprensa de hoje em só querer mostrar vedetas e coisas bonitas, há do outro lado uma obsessão pela tragédia retratada com grande angular, preto e branco e desgraça.

8 comentários:

  1. Este júri não é nada inocente na escolha das fotos. Basta irem ao site da Kameraphoto, para saberem de quem são as fotografias que estão a concorrer. Aliás a Kameraphoto costuma estar presente no Visa pour l'Image, em Pérpignan - afinal, todos se conhecem!

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  2. Haja alguém que alinhe por este diapasão e que afirme, sem receio de ser ostracisado, que a fotografia no todo e o fotojornalismo em particular não se resume a tragédias. E que o WPP, pese embora a qualidade das imagens apresentadas, mais não é que um catálogo de sofrimento, com algumas, poucas, excepções pelo caminho.

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  3. «mas também é verdade que é a forma mais primária de fotografar»

    Bom post, Luís...
    E mesmo para quem não percebe nada de fotografia, como eu, também tive a ideia que acima isolei do que escreveu.
    Tendo mesmo a sensação que, até eu, faria o mesmo, usando o meu excelente telemóvel e que, por acaso, integra, uma razoável máquina fotográfica.

    João José Fernandes Simões

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  4. Em relação à fotografia do Augusto Brázio, a primeira coisa que veio à cabeça foi já ter visto algo parecido. Se consultar o world press photo de 2001 percebe o que quero dizer. É uma foto interessante mas creio que o que está por trás é mais importante. Três filhos aos 19 anos revela um problema social que não é notícia agora, porque não se dá atenção ao planeamento familiar nas classes mais pobres em Portugal.

    O filho do ex-ministro é bom fotógrafo mas não se livra desse estigma. Pode-se perguntar de que forma teve autorização para acompanhar os americanos no Afeganistão, ou acompanhar o nosso PM (esta percebe-se de caras), mas o que me causa confusão é premiarem uma reportagem que não acrescenta nada ao que se fez nesse local

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  5. CMM...a escolha este ano foi para incentivar a juventude (muito bem!..digo eu...) e a banalidade como forma demonstrativa do caminho que o fotojornalismo está a dirigir-se;para a mera ilustração. Este júri (e pela cara do Leroy foi óbvio) foi paternalista e observou os trabalhos não como "entre-pares" mas mais com o olhar "professoral" de quem vê redacções do ensino básico. Então optou pelos trabalhos mais "kridos" cujo conteúdo fotográfico necessita de "anchorage" para ser entendível. Um abraço

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  6. Como concorrente ao Prémio Visão não me sinto muito á vontade para opinar sobre as decisões do Júri, mas depois de visionar com cuidado as fotos premiadas não posso deixar de afirmar que, para mim, as fotos distinguidas com Mensão Honrosa são na generalidade bem melhores que as premiadas, (então a foto vencedora...) confrangedor! quero acreditar que o jovem Brázio terá enviado melhores imagens que esta, até porque li que andou durante muito tempo a acompanhar o INEM, acredito por isso que o Júri tenha tido um dia mau, acontece aos melhores. Também me custa a entender como é que a EXCELENTE FOTO do Alfredo Cunha não vai além das Mensões Honrosas... enfim critérios.
    Agora mázinha mázinha, foi a "ideia peregrina" da Visão de ligar a todos os participantes para lhe perguntar se iam estar presentes...(risos) devem se ter fartado de rir, sim porque só pode ter sido no GOZO.
    Gaspar de Jesus

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  7. O júri foi uma vergonha...

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  8. Estão habituados a fazer fotos FÁCEIS no Iraque e noutos sitios onde haja conflitos, onde o fotojornalista deixa caír a camera e faz um boneco do outro mundo (se possivel tremida ou desfocada).Só assim se compreende a escolha deste júri.Quanto ao filho do ex ministro há alguém no júri que até o elogiou antes de o júri escolher as fotos vencedoras.Porque será?

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