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terça-feira, agosto 10, 2010

Jornalismo incendiário

A informação televisiva é há muito de uma indigência total. Mas no mês de Agosto abusa. Fazer a análise de um telejornal pelo alinhamento, pelas palavras e pelas imagens dadas a ver é um exercício de grande masoquismo, mas que no final revela bem o estado decadente e inútil a que chegou a televisão. Um meio que só sobrevive porque o maralhal mantém aquilo ligado por rotina e também porque apenas 10 por cento do que é emitido merece a atenção de quem entretanto berra com os filhos, desanca na mulher, bate no cão e tenta estrangular a sogra. Se a internet fosse acessível e já tivesse entrado na rotina, a televisão ficava reduzida ao seu papel de embrulho.

Incêndios em directo com estagiárias armadas em parvas repórteres de guerra, velhinhos às portas da morte a falarem dos malefícios do calor, o ministro da administração interna a contar a área ardida e a dizer que este ano ardeu menos um campo de futebol do que há 5 anos, histórias de desgraças, e mais uns planos gerais de praias cheias...é difícil maior banalidade. O Mundo para as televisões resume-se a faits-divers, banalidades, lugares comuns, estupidez natural.

Ontem havia uma reportagem no Algarve, onde o que se dava a ver eram planos de casas e janelas, chegando a ter sido editada uma imagem de uma persiana, isto para ilustrar o facto de 4 doentes terem sido molestados numa operação às cataratas...no Algarve. Um case-study de como não se deve fazer televisão. E no entanto estas bostas vão para o ar!

Mas o que é preocupante, é a leviandade e a demagogia que os editores (?) utilizam para manterem viva a chama do populismo. Passam em rodapé que este ano há 30 reformados com pensões um pouco acima dos 5 mil euros. "Pensões milionárias", dizem os senhores editores. Se para um jornalista 5 mil euros é um rendimento milionário muito mal pago anda o jornalismo.

Claro que não explicam se são reformas resultantes de uma vida de descontos se de reformas oportunistas baseadas em poucos anos de descontos. Mas esse "pormenor" não interessa nada.

O que interessa é encher chouriços e atirar achas para a fogueira.

Já tínhamos um país de incendiários passámos a ter uma informação televisiva incendiária.

2 comentários:

  1. Luiz ,
    existem jovens colegas seus com alguns anos na actividade jornalistica a recibos e a fingirem que são estagiários... ganham 250 euros por mês para não desaparecerem da vida profissional!!! Claro que não é o seu caso.
    Refoma de 5.000 euros ? É Milionária, é uma super reforma Milionária!


    abraço

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  2. Se a morbidade e a idiotice, acontecessem só nas televisões (todas iguais!), mas não. Mesmo jornais e revistas de 'referência' já pecam pelo mesmo, uns dirigem-se á 'populaça' inculta e outros a 'novos ricos' com muito pouca cultura!

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