Páginas

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Cavaco fala à Nação em cenário pavoroso


Os olhos também comem e o ambiente acaba por se tornar em mensagem ideológica. O cenário por detrás do Presidente Cavaco na sua homilia de Ano Novo era de uma piroseira inenarrável e até lesiva dos interesses da Pátria. Repare-se: um Presidente fala à Nação com as costas para um corredor que está engalanado com uns reposteiros desgraçados. A iluminação é triste. O enquadramento frouxo, a focal da objectiva escolhida demasiado angular. O teleponto numa posição pouco acessível. A expressão do Presidente estava tensa. E para espanto: havia afinal um segundo plano, onde aparecia a bandeira e umas rosas e que obrigava o Presidente a mudar de olhar. Ora, quando um Presidente fala tem de o fazer de frente, para uma câmara que é o ponto de vista do público. Não pode haver dois pontos de vista. Era como se a minha mãe me estivesse a dar um raspanete na sala e depois virasse o olhar e continuasse a fazê-lo para a minha irmã.

O que é lamentável é que os realizadores desapareceram das nossas televisões, tirando aquelas produções do prime-time. Deixou de haver regras para fazer televisão e até a transmissão da mensagem do PR foi feita por um curioso que não percebe nada de televisão nem da sua linguagem. Acho sinceramente que este tipo de trabalhos põem em causa a credibilidade da mensagem. E sabendo, como sei, que há gente muito competente no staff do Presidente, de bom gosto e saber profissional, fico admirado com este resultado.

Quanto à mensagem acho que foi completamente desinteressante. Depois dos casos dos últimos dias era evidente que o PR não iria pôr mais petróleo no lume. Cavaco gosta de introduzir sempre nos seus discursos trechos de aulas de economia, muito certas, mas desgarradas da política. O que sempre fez falta a Portugal, desde os memoráveis governos do cavaquismo, foi desígnio, objectivos, ideologia que pudesse transformar a política num modelo de sociedade. Nunca o conseguimos. Navegámos ao sabor do dinheiro fácil, do consumismo, do imediato, do alcatrão e do betão, das obras públicas (muitas inúteis) e desprezámos a educação, a cultura, a ética. O novo-riquismo foi a ideologia, agora é sobreviver.
As críticas de Cavaco ao últimos 8 anos podem ser muito oportunas mas antes já trazíamos o cavaquismo às costas, esse período longo e de muito dinheiro onde perdemos a nossa oportunidade histórica para sermos um país estruturalmente moderno, sem as palhaçadas de Sócrates a brincar às máquinas de calcular.

Bom ano Mr. President !!!

1 comentário:

  1. Estava preocupado, porque, de facto, me pareceu que o PR estava um pouco vesgo.
    Está explicado, com a questão a focal da objectiva.
    Obrigado Luís, vou dormir mais sossegado.

    Ah...
    Então, acha que o PR ia pôr lume na fogueira?
    Claro que não, o "bloco central" lê os mesmos livros, e os protagonistas são excelentes actores, mesmo com o teleponto no sítio errado.

    JJ

    ResponderEliminar