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terça-feira, março 04, 2008

O silêncio dos inocentes de Castelo de Paiva

Há sete anos um autocarro caía com os destroços de uma ponte mal tratada para o Douro levando consigo sessenta idosos que regressavam de uma singela viagem de fim-de-semana. O país caiu numa profunda depressão que dura até hoje. Foi uma tragédia que se transformou num ícone da nossa triste sina, num fado, num início de ciclo de crise de que não vislumbramos final.

Era também o afundar do guterrismo cuja demissão na noite em directo pela TV do ministro Jorge Coelho marcou outra reviravolta política. O povo de Entre-os-rios caiu numa profunda tristeza com familiares para sempre desaparecidos, outros resgatados nas condições mais adversas. As televisões transformaram o acontecimento em reality-show e essa overdose levou a mudar estratégias de informação. O uso e abuso dos directos abrandou nas nossas televisões mas também abrandou a febre de informar em real time, abrandou a emoção da notícia. As televisões estão mais preguiçosas, mais apostadas em peças editadas no bonito do que na coragem da televisão pura e dura.

O Estado foi o que se portou pior nesta tragédia. Quando as vítimas precisavam de apoio surgiu o oportunismo político, quando a justiça devia ter sido feita para lavar a honra do Estado, veio a burocracia da justiça, o cinismo, o fatalismo: nunca há culpados, a incompetência, a incúria, nunca têm rostos neste país enlutado.

Os familiares das vítimas fizeram bem em desistir da justiça. Justiça ? Onde está ?

Luiz Carvalho

4 comentários:

  1. Entretanto, em situações como as centenas de mortes no ex IP5 derivadas a acidentes de viação, por exemplo, quando faleceu um familiar de uma pessoa conhecida da cultura portuguesa, ai passou a A 25 sem antes as medidas de segurança serem muito apertadas. Mas quantas familias ficaram destrocadas sem qualquer recompensa ? O caso de enre os rios só nos torna cada vez mais pequenos e igoistas para quem sofre a perda de alguem que faz parte da nossa vida. Não vamos longe.

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  2. Justiça... Bah, grande anedota! Mesmo que houvesse culpados eram condenados a 1 ano de pena suspensa e nunca sentiriam qualquer punição. Tenho pena de não ter jeito para o crime porque teria um grande futuro neste país.

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  3. A Justiça está sempre no mesmo sítio... Quase sempre, do mesmo lado!

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  4. Lembro-me dessa noite.... Coelho demitiu-se para que "a culpa não morra solteira". Bah, grande treta!
    Os familiares ficaram sem os seus entes queridos, sem as devidas indmenizações e com a vida destruída.
    Jorge Coelho nunca se deveria ter demitido. Era sua obrigação encontrar os responsáveis pela queda da ponte dentro do seu ministério. O que não fez; fugiu!
    E assim, deixou que a culpa morresse solteira...
    Será que era isso que queria?

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