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quinta-feira, maio 24, 2007

O circo mediático à volta do caso Madeleine


O circo montado na Praia da Luz para contar ao Mundo as últimas sobre o paradeiro da pequena Madeleine foi por si um caso de estudo.
A polícia portuguesa já dá sinais de fadiga e de impaciência para lidar com as diárias conferências de imprensa e só não parou com esta operação de marketing porque as grandes cadeias de televisão estrangeiras, as agências de notícias e os jornais de referência continuam lá especados em directo.
A Judiciária já começa a querer dizer que a mediatização do caso só atrapalhou as investigações e que os jornalistas, ao atirarem-se como cão a bofe a tudo o que mexe, só atrapalharam os movimentos dos nossos Sherlock Holmes.
Oxalá as provas recolhidas contaminadas, não o tivessem sido pelos jornalistas em vez de um descuido técnico de um qualquer agente, como veio muito bem questionar o ex-inspector Bruto da Costa.

O que aconteceu na Praia da Luz com os jornalistas, foi uma operação normal na imprensa estrangeira sempre que há um grande acontecimento e é preciso montar uma logística para por a funcionar em tempo real uma máquina poderosa de reportagem.

Não estive lá mas os fotógrafos do Expresso que lá estiveram, contaram-me que tudo aquilo estava montado com um profissionalismo invejável. Eles ficaram impressionados com o eficácia dos colegas a trabalharem no terreno.

Foram definidas pools para a imagem, para não haver atropelos, respeitaram-se as regras combinadas para a interpolação dos pais (aliás furada de uma maneira bacoca e muito pouco ética por uma repórter da RTP) e as fotografias não mostraram a privacidade e os momentos de recolhimento dos pais da Madeleine.

As televisões estrangeiras como a SKY, a BBC e a CNN montaram verdadeiros estúdios. Uma cãmera com teleponto veio de Inglaterra para ser colocada na praia para a pivot fazer directos, enquanto os sinais de satélite se mantinham sempre abertos para o caso de ser necessária uma entrada rápida em directo.

Os fotojornalistas enviavam as fotografias para as redacções ao mesmo tempo que fotografavam, equipados com eficazes portáteis e com tecnologia de transmissão sem problemas. Podiam trabalhar as fotos com o computador em cima do capôt do carro, na praia, onde desse.
A logística funcionava e até protector solar foi comprado pelas produtoras para pouparem a pele dos jornalistas que tinham de esperar horas na praia para entrarem em directo, ou pedidas pizas à fartura para as refeições não prejudicarem o trabalho.

A noção de serviço ao leitor e ao espectador é a principal obsessão da imprensa estrangeira e isso é a chave do sucesso, e a única forma de se sobreviver numa época em que tudo mudou, e continua a mudar, a um ritmo que nós jornalistas nos temos absolutamente de adaptar.

Quando a policia portuguesa critica esta eficácia da informação, ao ponto de a responsabilizar pelo fracasso total da investigação, e quando alguns bem pensantes da comunicação (que nunca fizeram uma reportagem na vida) vêm dizer que a cobertura foi excessiva, estão-se também a esquecer que se não tivesse sido este circo mediático o caso da Madeleine tinha caído na indiferença, como infelizmente aconteceu com outros casos semelhantes que foram pura e simplesmente metidos na gaveta.
Claro que isto não é válido para os que lá estavam a encher os habituais chouriços, mas era de jornalismo que eu falava não de salsicharia.

6 comentários:

  1. Pois, pois, Luíz de Carvalho...
    Conversa daquela que serve para encher posts, pedindo a sua licença para uma provocação com afectos.

    Eu não vi em lado nenhum que a polícia portuguesa fizesse alguma crítica à eficácia da informação.
    O que eu vi, de facto, foi muito de encher chouriços.
    Também por culpa dos pais da criança, que nessa estratégia tanto estão ainda a investir.

    E, para quem sabe um pouco como isto funciona ao nível da investigação, não tenha dúvidas que tanto espalhafato da comunicação social, nacional e estrangeira, não ajuda nada, mas mesmo nada, a encontrar a criança.
    Ajuda mais é a encontrá-la... morta.

    E nisto você sabe tanto de investigação bófia como eu sei de bate-chapas... Ou de lagares de azeite.

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  2. Camarada,
    "Nesses" países o profissionalismo vence a inveja.
    "Nesses" países o jornalista é estimado e é a figura central do processo informativo.
    Aqui é mais um leão do circo que pode morder e morrer em directo.

    PS- Quanto à cobertura das tv nacionais:
    RTP está muito mal: histérica, ofegante, a querer ser o que não é.
    SIC no seu melhor: intervenções serenas, com principio, meio e fim.
    TVI nã existe: enviou para lá um repórter que nem ser claro nos directos consegue.

    Abracinhos,
    cosmos

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  3. Numa escala de 0 a 10:
    RTP: cinzenta, quase preta. Pontuação: "menos 10";
    SIC: repetitiva, com uma dinâmica ilusória, mas assim assim. Pontuação: mais 4;
    TVI: meninas lindas e muito folclore, e um Miguel Sousa Tavares, de quem gosto, mas ás vezes estilo "lança-chamas" e um bocado atordoado. Pontuação: menos 5.

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  4. Bonito post por alguém que parece ser inteligente para dizer o que diz e que sabe o que diz.

    No entanto, acho que fez demasiada "promoção" das televisões estrangeiras, e devia ter-se focado a enviar "dicas" de melhoramento ás televisões nacionais.


    Rui

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  5. Não compreendo o circo. É impressão minha ou há mais de uma semana que não há nada de novo para dizer sobre este assunto?
    É aqui que falha o tal serviço ao leitor. Se não há notícia, não há reportagem. Não me parece que a celebração de missas, a viagem do progenitor a casa para ir buscar fotografias(?!?!?), e outras banalidades do género sejam verdadeiras notícias.

    Cumps.

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  6. Realmente o Nuno tem toda a razão.
    Esta história a partir do momento em que foi anunciado o rapto passou a ser não-notícia, porqwue nada aconteceu ainda de relevante (infelizmente/ou felizmente para a criança) que pudesse ser notícia.
    O deslumbramento do Luiz Carvalho pela hiper eficácia dos estrangeiros faz-me lembrar uma citação do inefável VascoPulido que dizia que a veneração dos analfabetos pelos letrados é normal...em analfabetos.E nem se trata disto, porque por exemplo em relação às fotografias a pepineira de uns retratos amadorísticos da Reuters / AFP/ e AP e dos jornais provaram que nada havia para mostrar senão o casal uns "suspeitos" que já nem sequer estavam presentes etc, e a reprodução da fotografia da Maddie no fundo o mais importante para ver se alguém descobre onde ela se encontra. Mas também não acho que a PJ tenha pinga de razão se critica a Imprensa. O tempo da PJ/PIDE já lá vai. A Imprensa hoje em dia é livre quer dizer é um negócio como outro qualquer, e para desempenhar (bem) o seu papel tem as suas escolas os seus peritos estudiosos e profissionais.

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