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segunda-feira, setembro 29, 2008

Remédio contra a depressão

Há um antídoto para a amargura: não ver telejornais nem ouvir rádio. Tem-me acontecido nas últimas semanas. Cá em casa só Panda e no carro... música cá pelo DJ. Ouvir os noticiários do prime-time em que a palavra crise aparece em todos os canais a todos os minutos, entremeada com declarações de pobrezinhos, aleijados, enganados e candidatos à máquina da verdade é mais que deprimente. Nos intervalos vem o Sócrates com os magalhães e a propaganda do centrão. Pior ainda é levarmos com o António Costa, com aquele ar sisudo de quem vai salvar Lisboa acabando com o trânsito, aumentando o IMI ou reduzindo os limites de velocidade nos túneis para 20 à hora. E dando umas casotas aos mais necessitados.
Numa terra onde ninguém quer ter memória e onde todos procuram queimar os últimos cartuchos com alegria, os telejornais com pivots de pé, a andarem na redacção como se estivessem a apresentar a gala da Caras, vestidos como se fossem para uma festa, ou com directos que têm como fim empatar tempo para a hora da novela, tudo não passa do estado lamentável a que chegou a informação televisiva.
Enquanto anteriormente, antes da moda da informação-espectáculo, o editor tinha como papel eliminar o que não se devia dar como notícia, agora o papel do editor é mostrar todo o entulho para dar a ideia que há muito para contar.
Não parece que seja esse o rumo da informação de referência que vem lá de fora, mas nós somos sempre pioneiros nos piores exemplos. Vejam o Magalhães.

o iPhone preferido dos tugas

domingo, setembro 28, 2008

PORTUGAL NO SEU MELHOR

Arraiolos. Foto de Luiz Carvalho

Nikon D90 aquece quando filma

A notícia vem na TIME e chamaram-me a atenção para ela. Afinal a Nikon D90, que seguindo as performances da 5D Mark II também filma enquanto fotografa, padece já de uma enfermidade crónica: quando ultrapassa 4 minutos de filmagem começa a aquecer. Provavelmente o fotógrafo terá de abrir o capôt, deitar água no radiador e esperar na berma que o aquecimento baixe !!! Eheheh! A Nikon não consegue acertar uma, mas há quem compre e mais: quem goste.

Aliás os mitos relativamente a certas marcas de que não são compatíveis e que não fazem o que as outras fazem é incrível. Ontem, alguém me dizia que afinal o iPhone não fazia as mesmas coisas que os outros telemóveis e que não era...compatível! Uma colega minha ao pedir-me um conselho sobre que computador deveria comprar, ao responder-lhe:" obviamente Mac!!", ela acrescentou assustada:" E é compatível ?". Incompatível é esse sistema da treta copiado mal pelo Gates ao Jobs! Quem não tem diz mal, quem não percebe diz mal. Depois de ter feito uma demonstração das potencialidades do iPhone quem tinha dúvidas não acreditava no que via. Calou-se logo e só não disse que ia comprar um...porque ficou embatocada!

sexta-feira, setembro 26, 2008

Mais de 3 mil mamaram casinhas em Lisboa

Casario de Lisboa, fotografia de Luiz Carvalho
Hoje parado à conversa com Rui Zink na Rua do Conde Redondo, depois de uma série de retratos, o Rui dizia-me: "repara só aqui nesta minha rua: ali à esquina há um banco, depois um cabeleireiro brasileiro, depois uma casa de strip-tease, depois uma leitaria típica de bairro, depois outro banco, do outro lado da rua há lojas por alugar há anos...". Lisboa é isto: abandono, tristeza, negócios fracos e bancos à espera dos últimos otários.

Quando a noite cai as ruas ficam entregues ao putedo, aos malandros, e a alguns resistentes da memória alfacinha, caso do Rui.

Mas meus caros amigos a cidade capital da Pátria está a ser oferecida.

Não a quem lá trabalha, não a quem gostaria mesmo muito de a habitar, mas a um punhado de burocratas, carreiristas, agentes partidários, engraxadores do sistema, esquerdalhos rendidos às mordomias do Poder, intelectuais sabujos ou a simples oportunistas.

A semana foi um fartar de notícias sobre casas oferecidas a todo o tipo de parasitas de todos os quadrantes partidários. Parece que a tramóia contra Santana querendo fazer crer que tinha sido ele o único a dar casotas aos cães acabou por se virar contra os socialistas que montaram uma cabala para denegrir e impossibilitar a candidatura de Santana a Lisboa. Tiro pela culatra.

Afinal o PS deu muitas casas aos amigos e acólitos. Batista-Bastos e a fotógrafa Adriana Freire figuram na lista dos contemplados. (Eu também sou fotógrafo, também quero!!!).

Mas há mais três mil sortudos que vivem à grande- nem sequer são casas sociais, são altas casas!) à custa do contribuinte. Por isso percebemos a sanha contra os contribuintes e as retenções de milhares de devoluções de IRS à classe média dos escalões mais altos.
Estamos todos a pagar para os barões camarários.
Mas como o povo é sábio nas próximas vai voltar nos Costas e Santanas deste Mundo para que Lisboa morra de vez ao camartelo como o fizeram com os azulejos da Maria Keil.
A barbárie chegou ao Poder e a democracia legitima-a. Uma tragédia.

Leite contra Sócrates-espectáculo

A líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, acusou, esta quinta-feira, em Braga, o líder socialista de ter feito uma «lamentável ostentação de riqueza», numa região cheia de problemas de desemprego, ao fazer um comício «à americana» em Guimarães.

«É quase uma afronta que o primeiro-ministro tenha feito um espectáculo de opulência numa região cheia de problemas sociais e de pobreza», afirmou, citada pela agência Lusa, acusando ainda o governante de fingir que não lia o discurso quando o fazia através de um power-point».

A dirigente social-democrata falava aos jornalistas no final de uma reunião com militantes do Distrito de Braga que ocorreu num hotel da cidade.

Manuela Ferreira Leite disse que o «espectáculo de riqueza e opulência» que o PS levou a Guimarães e o fingimento na leitura do discurso no palco são precisamente o tipo de espectáculo que, frisou, «nunca fará»/PORTUGAL DIÁRIO

Portanto vamos ter uma campanha PSD com palcos sobre tabuados, altifalantes do tempo da AD de Sá Carneiro, Leite a ler discursos em guardanapos de papel, teremos uma líder sem maquilhagem como se fosse uma daquelas operárias de mármore. Leite andará de Renault 4L, ou mesmo de comboio a carvão, não usará vídeos mas filmes super 8 riscados nas suas promos e os militantes aparecerão vestidos com calças à boca de sino. O ambiente será pulverizado a sovaco por depilar.

Oh doutora Leite por amor do Santíssimo! Então agora o uso de tecnologias multimédia é uma afronta ao povo? E o carro do seu partido no valor de 70 mil euros (ou mais) é o quê? Um bolo aos pobrezinhos?



quinta-feira, setembro 25, 2008

PS e PSD namoram gays


Há muito que se diz que a Internacional Rosa tem poderes ocultos e uma influência na vida social tão grande como a sua discrição. Nos últimos anos a comunidade gay ganhou força política, eleitoral e mais: tornou-se numa elite da sociedade com grande poder de compra e de influência cultural. Por vezes é mais difícil perceber que estamos perante um gay do que à frente de um maçon. Também não será importante a não ser que esse poder oculto esteja em marcha.
Não vou fazer por aqui fazer nenhuma declaração de voto, mas é evidente que tenho todo o respeito e consideração por quem quer que seja, desde que o mereça, independentemente da sua tendência sexual. Tenho amigos e amigas homossexuais e estou-me bem nas tintas para isso.
Só que...o parlamento português, através de uma proposta da juventude socialista, vai discutir a questão fracturante (diz-se assim?) do casamento entre homossexuais.
Discutir o casamento já de si é uma chatice. O casamento é daquelas instituições que não se discutem. Ou se praticam ou não. O casamento é uma prática católica, tradicional, conservadora, reaccionária. Tudo isso lhe dá carácter e graça e tudo isso o torna aberrante e anacrónico. Ou se pratica ou não. E o casamento é na sua essência um pacto entre seres de sexos opostos. Querer mudar isso é como querer fazer de um comuna um patrão bom ou de um criminoso um malvado de bons sentimentos.
Sempre detestei comunas católicos e gente afim que não é capaz de assumir as suas opções mesmo quando são estapafúrdias.
Querer casar homossexuais é patético. Se os homossexuais querem viver juntos e irem casar a Las Vegas que o façam. Poupem-nos a folclores e não brinquem com a pilinha do menino Jesus.

Ora, o PSD com medo de perder os votos da comunidade gay (e sabemos como ela é determinante por exemplo nos votos em Lisboa, eles já não são mais que as mães, são mais que as velhotas queridas que passam as santas tardes nas janelas de Alfama) já veio liberalizar o voto para chatear Sócrates que quer disciplina de voto no NÃO e para agradar aos putativos noivos.

A Dona Leite que já disse entender o casamento como um contrato tipo leasing para procriar ainda não saiu do seu silence para repetir que o casamento entre homossexuais só seria tolerado pelo PSD se fosse para procriar. Estamos, portanto, perante um imbróglio.

PS: Se a lei do casamento entre homossexuais for aprovada António Costa irá criar os gays de Santo António?

quarta-feira, setembro 24, 2008

O FILME DE LAFORET FEITO COM A CANON 5D MARKII

clique aqui e entre na nova dimensão da fotografia

O Making-off da 5D a fazer vídeo por Vincent Laforet

Não dá para acreditar. O filme de Vincent Laforet (FOTÓGRAFO) feito com a Canon 5D MarkII.
Clik na foto e vejam. O irritante é que a representação da Canon em Portugal não merece esta promoção.

terça-feira, setembro 23, 2008

Magalhães para que te quero ?


A praga de Magalhães que Sócrates anda a dar ao maralhal vai ter um futuro incerto. Soube-se hoje que afinal a ligação à internet móvel de banda larga vai ser uma opção para os jovens utilizadores. Ora é aqui que o projecto poderá falhar. Um computador sem acesso independente à net não passa de uma máquina de escrever. E como o que é dado acaba por não ter valor é muito natural que muitos Magalhães passem a breve prazo para as prateleiras. Até porque os alunos carenciados não têm nas famílias possibilidades de pagarem uma net cara, inacessível, graças aos preços disparatados praticados pelas operadoras. Mas que interessa isso? O show-off do governo está feito e vai servir de excelente arma de propaganda para as eleições que se adivinham.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Paulo Pedroso paga 2500 euros a Balbino

O deputado socialista Paulo Pedroso e o seu irmão, o advogado João Pedroso, perderam o recurso interposto no Tribunal da Relação de Lisboa, após serem condenados a pagar uma indemnização de 2500 euros, numa primeira instância, ao autor do blogue Do Portugal Profundo, António Balbino Caldeira.

José Maria Martins, advogado do bloguer, confirmou ao PortugalDiário ter sido notificado, esta segunda-feira, do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, que nega o recurso à família Pedroso. Os juízes desembargadores consideraram que «tinha havido um boa decisão», explica Maria Martins. «Ao ser reconhecida negligência, ela implica obrigatoriamente responsabilidade civil», conclui.

Houve engano na queixa apresentada

Recorde-se que Paulo Pedroso apresentou em Abril de 2005 uma queixa no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa (DIAP) devido a textos inseridos no blogue Grande Loja do Queijo Limiano. Os posts referiam-se, essencialmente, à sua ligação ao processo Casa Pia. No entanto, no final do requerimento ao Ministério Público foi pedido, por engano, que «se identificasse o autor do blogue, Do Portugal Profundo, e que esse blogue fosse eliminado da Internet.

Um ano depois, em Maio de 2006, António Caldeira foi chamado ao Ministério Público (MP) de Alcobaça. Foi constituído arguido, com termo de identidade e residência. No mês seguinte, Junho de 2006, o MP assumiu o erro quando ordenou a abertura de inquérito ao bloguista António Caldeira e mandou arquivar o processo /PORTUGAL DIÁRIO

O fim do neo-liberalismo?

O furacão financeiro amainou mas trouxe consigo a verdade há muito evitada: o neo-liberalismo e a economia de casino acabariam, mais cedo ou mais tarde, por embater contra o muro. E foi, por ironia, um presidente republicano americano a ter de fazer aquilo que seria impensável: pôr o Estado a regular aquilo que os neo-liberais sempre defenderam que deveria ser o mercado a fazê-lo.
O protagonismo do Estado Social e as consequências que isso tinha em custos ( impostos) para a classe média, assim como o parasitismo que isso acarretava levou muita gente a ver nas teorias neo-liberais a solução para o socialismo. Muita gente acreditou, mesmo de esquerda, que o papel do Estado deveria ser diminuto em tudo: nas reformas sociais, no ensino, na economia, na informação. Que assistimos hoje depois do Estado se ter demitido dos sectores estruturantes da sociedade ? Vejamos em Portugal: o ensino privado tornou-se num negócio, sem que tenha dado garantias de qualidade e seriedade académica aos portugueses. As empresas que saíram das áreas estatais como a Galp, a Brisa os as comunicações acabaram por constituírem-se em monopólios sem que os consumidores tenham alternativa. Na informação muitos que achavam ignóbil o Estado ter televisão ou rádio, constatam hoje que o último reduto contra a informação tablóide ou contra o divertimento sórdido, está na televisão do Estado. Os exemplos podiam ser muitos mais.
Sem o Estado Social a regular a sociedade está visto que há perda de segurança. O segredo está em o Estado poder controlar e saber intervir com justiça com controle dos partidos e das instituições. É isso a democracia.

domingo, setembro 21, 2008

Santana Lopes a ver lingerie

Santana Lopes foi ao Ritz ver uma passagem de moda de lingerie numa sessão privada para a imprensa e vips. Para quem quer (ao que parece)passar uma imagem pública de homem novo e credível não parece que seja este o melhor caminho das pedras. Se a Dona Leite sabe ainda desiste de pôr a hipótese de ter o Pedro em Lisboa a concorrer contra Costa. Ou talvez não.

Ela fará como Cavaco: deu-lhe a secretaria de estado da cultura (e jamais, jamais, um ministério!) para o entreter e distrair com artistas e não desafiar por fora o governo. Leite dar-lhe-à, se puder e os lisboetas deixarem, uma câmara para ele a não desafiar no seu silêncio.

Por outro lado, isto vem provar que Santana é frontal, não tem medo e gosta de desafios. Mesmo quando se trata de poder ser visto com o olhar onde um político cara de pau menos deve. Desafiador. O seu lado mais simpático sem dúvida, e muito raro nos políticos de hoje. Não está, no entanto, provado se é é mesmo coragem se tendência para o abismo político.
Portanto caro Santana: veja lingerie em desfile e desafie o cinzentão Costa. Traga mais túneis (com velocidade não limitada aos 50) e sobretudo: ressuscite o projecto de Ghéry para o Parque Mayer. Mas sem coristas,please!

Humilhados e falidos em momento de verdade

Há alguns anos Teresa Guilherme disse uma frase que acabou por ficar célebre:" quem tem ética passa fome!". Hoje percebemos melhor o alcance da grande tirada, depois de vermos o concurso mais sórdido de sempre da televisão " O Momento da verdade"- acho que é assim que se chama.
Esta semana ao ter passado pelo programa num dos já habituais desesperantes zappings de nada conseguir ver na TV deparei com o triste espectáculo: um pai de família, acompanhado pela mulher e pelos dois filhos adolescentes e pela mãe (uma senhora que mostrou uma postura de grande dignidade) dispunha-se a tudo para poder levar para casa uns vinte mil euros. E era ele próprio que assumia que as suas verdades mais íntimas tinham preço e que a sua dignidade era vendável por 25o mil euros. "Eh pá, é muita massa, muita massa".


A tragédia consumar-se-ia a meio caminho do trágico trajecto da vida quando acabou por mentir ao ter dito que não tinha guardado ressentimentos por causa do filho lhe ter destruído um carro novo, que ele tratava, pelos vistos, melhor do que à família. Aí a desilusão marcou a cara do filho, o mal estar em toda a família não podia ter sido mais dramática.

Em diferido (em directo teria sido o inferno ao vivo)estava destruída a honra de uma vida, a ilusão de uma felicidade possível, tudo para aqueles filhos, mãe e mulher, desabava tudo. Ainda por cima aqueles trouxas terão voltado a casa no seu carrito cinzento metalizado (imagino claro!) a discutirem uns com os outros e sem um tostão no bolso. Essa fase teria dado uma excelente reportagem agora para "Toda a Verdade".

Humilhados e falidos.Uma vergonha para uns milhões verem, partilharem, coscuvilharem e rirem da desgraça alheia. O pior que se pode dar a uma audiência faminta estava ali.

No dia seguinte começariam a chegar os abutres da imprensa rosa para completarem a festança.

É um caminho sem regresso.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Impressões de um fotógrafo-viajante

Paisagem transmontana, hoje. Um Portugal místico.(Foto LC)

Vale do Côa: a pérola que Cavaco em 1995 queria transformar em barragem (foto LC)
Ando numa espécie de volta a Portugal numa semana e se tivesse tempo tinha gostado de fazer um diário com impressões da viagem. Infelizmente chego cansado ao hotel, sempre encontrado de improviso e ao cair da noite, e acabo por estar demasiado ocupado a ver o trabalho feito durante o dia, depois já não tenho tempo para confissões.
Mas hoje, aqui no coração de Tomar (escapei à bomba que ontem por aqui explodiu num apartamento de uma brasileira..)numa noite de verão, gostava de escrever que Portugal mudou demasiado, principalmente a Norte. E que se encontram coisas admiráveis, como a recuperação da aldeia de Marialva, a preservação das gravuras do Côa graças ao empenho de Guterres e de Manuel Maria Carrilho (um facto!) e a uma equipa que no terreno ama aquilo que faz, ou algum desenvolvimento feito com a coragem de muitos privados, ou até os melhoramentos que as câmaras municipais têm feito com o nosso dinheiro, é certo, mas também com uma evidente vontade de melhorar, e muito, o conforto dos cidadãos locais- bem poucos a usufruírem de estruturas bestiais. O caso de Sernancelhe, uma vila deserta, com centro cultural, auditório, lar de idosos, estradas novas, ou o caso de Penedono com uma piscina maravilhosa, hoje de manhã completamente às moscas. Mas há crescimento e isso é bom para o país.
O que se nota com mais abandono é muita coisa que depende do governo central: estradas nacionais em ruínas, falta de verbas para o papel higiénico (no caso do centro paleolítico de Foz Côa, adivinho!) e principalmente uma total desarticulação com as necessidades locais.

O que mais me amargurou nesta minha viagem que passou pelo Douro Vinhateiro, foi constatar que uma zona que é Património da Humanidade, que tem um potencial turístico arrasador, que é uma pérola e que devia ser um ex-libris de Portugal, está degradada,com casas em ruínas, estradas por sinalizar, sem protecções das ribanceiras, sem indicações de locais de interesse, sem parques para estacionar e observar a paisagem, sem nada. Uma vergonha o estado do litoral do Rio Douro. Até os comboios, de que tanto se fala, têm estações nojentas(o caso de Peso da Régua) numa total anarquia. Régua e Pinhão foram transformadas em subúrbios, com construção horrenda dos anos 70 e muito do que depois foi feito.
Se o Douro fosse americano seria bem melhor do que o Big Sur, mas nós nunca sabemos promover o que é nosso e que é na verdade de grande excelência. Só que investimentos: zero. Fizemos excelentes auto-estradas mas quando chegamos aos destinos ainda deparamos com um Portugal decadente, velho, abandonado, ao lado de obras camarárias de mentalidade novo-rico.

O que mais me marcou hoje de mau: ter entrado na minha aldeia na Beira-Alta (perto de Foz Côa) e ter logo visto dois velhotes a trabalharem na terra, a puxarem uma carroça com burro. Conheço-os há 50 anos e eles continuam todos os dias a trabalharem a terra, como uma rotina, um destino, uma sina.

O que me marcou de bom: a aldeia recuperada de Marialva, a excelente A 28, Tomar.
Viva Portugal.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Acordei e fiquei com as máquinas fora de moda !

Nunca me aconteceu: acordar e ter três das minhas câmaras compradas há meses ultrapassadas por novos modelos. Abri um comentário do Gonçalo e levei na cara que afinal a 5D, a G9 e a M8 tinham sucessão. Ainda para cúmulo tinha escrito ontem à noite um post para o meu blogue no Expresso a falar sobre a qualidade e acessibilidade das novas câmeras, nomeadamente a Panasonic Lumix Lx3.
É verdadeiramente destruidor !!! No tempo do filme uma máquina durava 20 anos, agora dura menos de 1 ano.
Nos carros resolvi esta questão: como só gosto de carros bons e não tenho dinheiro para novos, e mesmo se o tivesse achava um bocado novo-rico comprar carrinhos reluzentes, opto por comprar usados. Quando sai um modelo novo, os meus não ficam mais velhos, isso já eles são, ficam é mais clássicos !! Apesar de se sentir uma coisa semelhante com a M8: temos sempre a sensação que comprámos uma máquina permanentemente ultrapassada, com a agravante de ser cara e a preço de novo. Mesmo assim aquele preto lacado da M8-2 é de cair para o lado. Sempre quis ter uma Leica lacada. Em 1982 tive a oportunidade de comprar uma M4 lacada mas como não tinha dinheiro acabou por ser o António Pedro Ferreira a comprá-la. Em má hora: roubaram-lha passados meses num cinema no Quartier Latin. Acabou por ser o Alfredo Cunha a fazer umas trocas e a passar-lhe uma M3 preta lacada. Foi um negócio justo.
Portanto, desterrado que estou em Penedono, ponho já à venda a minha M8 por um preço simpático ( vou pôr aqui numa rotunda a M8 com o nº de telefone colado ao visor), a 5D é do jornal, e a G9 vai ter que aguentar.
Vou pagar para ver os fotógrafos que têm medo do vídeo a compraram uma híbrida e a filmarem a famelga. Ou até talvez venham a filmar mesmo a sério.
Coragem rapazes, o mundo está em movimento!!!

terça-feira, setembro 16, 2008

Hibrídas, pequenas, fiéis e trabalhadoras



No filme "Reporters" do fotojornalista Raymond Depardon, rodado há 28 anos com uma câmara ao ombro e som directo, o então Maire de Paris Jacques Chirac contava entusiasmado a Benoit de Gysenberg, então um jovem fotógrafo do Paris-Match, que o primeiro ministro japonês lhe tinha oferecido uma máquina fotográfica que fazia tudo sozinha. Bastava ter paciência a enquadrar o sujeito, esperar que ela focasse e depois...clique."Qualquer dia nem de filme precisam!"- brincava Chirac.

Ora, hoje passados todos estes anos, Chirac adivinhou: as novas câmaras digitais não precisam de filme, mais: oferecem tudo o que um fotógrafo precisa: baixos custos de aquisição, qualidade, fiabilidade e uma ergonomia traduzida num design inteligente e sensorial, amigo do utilizador.A fotografia digital que ao princípio era uma aberração, porque era cara, de imagem medíocre e de utilização complicada nos computadores com sistema windows de há 10 anos, tornou-se numa actividade democrática, popular, porventura a forma de expressão que mais adeptos ganhou em todo o Mundo.

As máquinas fotográficas de hoje estão a ser concebidas para serem usadas por todos, tal como os automóveis. E nem falo de máquinas amadoras, porque a barreira entre modelos pro e para todos quase se desvaneceu. Tal como na indústria automóvel, não há carros mesmo maus, já não há câmaras más, apesar de haver algumas francamente superiores à maioria, sem que isso se reflicta obrigatoriamente no preço.

Esta semana duas grandes novidades foram anunciadas. Uma pequena câmara da Panasonic, a Lumix Lx3, que pela primeira vez contempla um zoom 24-60 com uma abertura 2 e 2,8. Traduzindo: traz uma super- grande angular com uma abertura igual à das melhores objectivas profissionais que permite fotografar em más condições de luz e uma pequena teleobjectiva também muito luminosa. A pequena câmara de 400 euros tem um visor óptico como as Leicas e o construtor assegura baixo ruído em alta sensibilidade. É de pôr doido qualquer fotógrafo. Escusado será dizer que há já uma corrida à máquina. Pequena, fiel e trabalhadora.

Outra grande novidade foi o anúncio pela Nikon de uma máquina fotográfica reflex, a D90, que também pode fazer vídeo. É a hora das hibrídas depois dos hibrídos! Esta possibilidade mista já estava implantada nas máquinas de amador há algum tempo mas agora essa função é possível numa máquina profissional. Se pensarmos que o sensor de uma máquina reflex é muito maior do que o de uma máquina de filmar pro, imagine-se a qualidade de imagem que vai ser possível !

Entretanto a Canon vai anunciar, provavelmente esta semana, também uma fotográfica pro que filma.

(também em Flagrante deleite: www.expresso.pt)

domingo, setembro 14, 2008

UMA FOTO POR DIA

clique na foto e entre na onda

Pedro Duarte Jorge é um fotógrafo de boas surfadas, um dos melhores nesse difícil género fotográfico. Saiu da onda e encontrou à borda de água outros motivos estimulantes. A foto (há mais no seu Flickr) faz parte de uma bela série. Falta só a sua Harley para completar o romantismo.

Ronaldo humilha adeptos na Madeira


Ronaldo em acção, longe dos fãs para os quais parece não ter pachorra

É na hora da fama e na hora da desgraça que melhor se constata do carácter das pessoas. Quem se deixa levar pela glória efémera e quem se dispõe a tudo para safar a vidinha na hora da desgraça é porque não presta.
Esta ladaínha vem a propósito da inqualificável atitude de Ronaldo ao ter desprezado um punhado de admiradores, mulheres, velhos e crianças na sua ida à Madeira para receber o prémio do melhor da bola. Tinha por Ronaldo uma ternura especial. Não por ter sido visto em fotografias vestido com roupa interior de puta mas porque tem posto no acto de jogar aquela atitude de que os fotógrafos, de quem sou fã, põem no acto de fotografar: concentração total, fibra, emoção, um empenho que move o Mundo. Há nos gestos e no olhar do Ronaldo o retrato do Good Boy, do rapazinho que brinca com sonho e acaba por concretizar o orgasmo final da bola:o golo.
Na Madeira que é a sua terra natal, o berço da sua pobreza e onde a grandeza ganhou asas, ele pura e simplesmente "cagou" nos primos que o bajulavam com amizade canina para se remeter à tranquilidade do hotel.
É verdade que há sempre uma entourage de assessores à volta destes ídolos que os transformam em animais acossados e que filtram tudo o que não dê para lucro imediato. Mas Ronaldo tinha lá a mãe que entrou pela porta da frente e que decerto lhe disse que havia gente que o adora à espera de um simples aceno. Não. O craque preferiu entrar por trás e sair por trás. Começamos a perceber o gosto dele pelas traseiras.

PS: por lapso escrevi " os meus fãs fotógrafos" em vez de "fotógrafos de quem sou fã". Aliás no seguimento da frase percebia-se o engano. Dislexia, portanto::)) Claro que há logo na matilha raivosa um frustrado a morder as canelas. Ladrem que eu passo.

sábado, setembro 13, 2008

Madonna 50 no 54

A Madonna faz 50 eu 54. Um vídeo com cereja para bolo de aniversário !

DEPOIS DOS CARROS HIBRÍDOS, AS MÁQUINAS FOTOGRÁFICAS

Instante em dois tempos

foto de Bruno Fire: André Carvalho fotografando em acção dentro de água
foto de André Carvalho no instante anterior em que Bruno Fire disparou

Não me lembro de ter visto um instante fotográfico assim fotografado de fora, em dois ângulos. A fotografia do André Carvalho é espectacular e o testemunho que o Bruno Fire fez do instante
oportuno. Uma alegria de fotos.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Canon pro de fotografar vai também filmar

Acalmem-se: já não há dois jornalistas num só, os tais multimédia. As câmaras também já o são. Depois da Nikon ter metido vídeo numa reflex, chegou a vez da Canon anunciar para a semana uma nova 5D com 24 mégapixels, full-frame e....VÍDEO. A Canon já tinha a tecnologia muito avançada e experimentada na G9 e parece que foi só o tempo de ter adaptado o conceito e a técnica a uma máquina profissional, ou semi se quiserem.
Estas ferramentas provam que o jornalismo visual e a fotografia estão a mudar e que as plataformas digitais onde são editadas e divulgadas as imagens já não contemplam só a fotografia parada.
O mercado dos jornais on-line, blogues, sites e apresentações públicas exigem pensar em novas dimensões da fotografia.
Considero que é muito importante serem os fotógrafos a tomarem as rédeas deste processo e não o deixarem entregue à gente do vídeo, "repórteres de imagem" (buauaauau), canalizadores e bate-chapas.
Voltarei ao tema.

PS: parece que acrescentei uns megapixels que já retirei ::)))

Homejacking ao Procurador Pinto Monteiro

Porto de Velha, a aldeia de Pinto Monteiro com ladrões à solta
A ladroagem foi ontem à casa de férias na terra do Procurador Pinto Monteiro, ali para os lados da Guarda. Não se sabe se os ladrões tiveram azar, se estavam bem informados ou se foram de uma total incompetência pois nada roubaram, ao que consta.
Depois do porta-voz do PS ter visto o seu escritório de advogado roubado é a hora do mais alto responsável pela vigilância no país ser assaltado.
É verdade que só não é roubado quem nada tem. Há anos em Espanha o juiz Baltazar Garzon também viu a sua casa violada e encontrou uma cena repugnante que os assaltantes lhe deixaram em cima da sua cama. Então era provocação política. Na casa de Pinto Monteiro terá sido gamanço no sentido mais lato. A não ser...que tivessem andado a instalar microfones para vigiarem os dias tranquilos do Procurador.

VISA POUR L´IMAGE 2008


fotografias de Luiz Carvalho

quinta-feira, setembro 11, 2008

Uma oposicionista a gasóleo, um Alegre Sócrates bi-turbo

Alegre veio hoje aplaudir Roseta por esta se ter juntado a Costa na Câmara de Lisboa. Portanto: a família socialista está a tocar a reunir a um ano de eleições. E ontem o mi-nis-tro da administração interna veio meter-se com Cavaco dando a entender que aqueles polícias gordos e tolhidos pelo uso da BIC ainda não andavam na rua atrás da ladroagem porque o PR não tinha aprovado a lei de não-sei-quê. A Presidência respondeu à letra ao ministro. E a clivagem entre Sócrates e Cavaco aí está, já com o empurrão dado pela lei do divórcio.
O Presidente falou nervoso, em contra-luz, no meio de uma confusão, aconselhando os portugueses a irem ao site da Presidência, para verem que afinal ele não tem nenhuma ideia conservadora sobre o casamento. Tem lá agora...

A distância entre os dois vai-se afirmando e vai haver um tempo para haver uma demarcação clara entre o que pensam aquelas duas cabeças sobre o futuro da Nação. Sócrates vai querer ganhar a nova maioria, já se viu que Leite não arranca (vai dar uma lição de economia no debate do orçamento, mas técnica não é política!!!) e que nem aqueles carros a gasóleo de há 20 anos atrás demoravam assim tanto tempo a pegar.
Leite é uma oposicionista a gasóleo e Sócrates já é bi-turbo.
Com a entrada de Alegre nas palmas está visto que vai ser ele o candidato socialista a PR. Sócrates em S. Bento, Alegre em Belém. Faz sentido. Aquele estádio da Luz que permitiu a Cavaco ganhar à primeira vai-se esvaziar e pode ser que volte a haver política em Portugal.

Censura prévia no Instante Fatal


Na verdade tenho andado demasiado ocupado e o Fatal ressente-se. Prometo retomar o speed a que tenho habituado os meus leitores.
Entretanto vi-me obrigado a tomar uma decisão com a qual não concordo mas cujas evidências assim me obrigaram. Falo de ter passado a filtrar os comentários. Há na blogosfera um lado muito irritante que são os anónimos. Já aqui o disse. Eu dou a cara e o meu nome e há uns tipos que armados em espertalhaços, e provocadores, usam o anonimato para achincalharem quem bem entendem. Os últimos comentários irritaram-me muito. Não por se meterem comigo ou por discordarem de mim. Isso é que tem piada. Tenho sentido de humor suficiente e aguento bem criticas. Aliás sendo eu um critico para toda a obra seria estúpido não encarar as criticas pessoais com naturalidade. O que estava a acontecer é que o espaço dos comentários já estava a ser usado para diálogos que ficam melhor no Messenger do que num espaço que pretende trocar ideias. Portanto, lamento mas vai ser assim.
Prometo continuar a publicar todos os comentários desde que não sejam chocarreiros (como diria o meu amigo Padre Cândido de Sernancelhe).
Torna-se desgastante estar aqui a ter constantemente piadas alarves. Portanto lei da rolha. E viva a censura prévia ! E se não gostam vão buscar um chaimite e estacionem-mo aqui à porta de casa e cantem o Avante Camarada!!!...

sábado, setembro 06, 2008

Chuva acaba com Festival de fotojornalismo


A chuva raramente cai por aqui mas hoje caiu, e bem, A sessão ao ar livre nocturna foi cancelada. Os fotógrafos e afins raparam frio, e a chuva afastou muita gente no último dia. A festa contínua, no entanto, noite dentro, mas devo ficar por aqui no meu motel. Amanhã regresso à Pátria.
Depois de tanta fotografia vou ter que deixar assentar os pixels para digerir toda esta overdose visual. Correndo o risco de me repetir, pelo que disse sobre o ano passado, o Visa tem do melhor que se faz em fotojornalismo, embora muito do que se vê por aqui não seja representativo da realidade da fotografia de imprensa no Mundo.
O Jean Francois-Leroy é um "soissante-huitard" radical e o seu estilo e gosto acabam sempre por o levar a escolher certos fotógrafos e agências, em detrimento de outros e outras. Ele próprio o confessou ontem. Ele quer é os amigos. O que por um lado pode ser criticado, por outro revela bem que o festival tem um rumo, um conceito, um critério, um estilo. Para mim isso é bom pois só acredito em direcções fortes, embora fiquem de fora outras visões.
A agência NOOR (criada aqui no ano passado) é das mais expostas e este ano assistiu-se ao desaparecimento da Magnum (nem tinha pavilhão) que no entanto esteve indirectamente representada por alguns membros como foi o caso de Paulo Fusco.
Não se percebe a ausência da Magnum, muito comentada pelas esplanadas, mas não assumida por Leroy. Talvez o facto de a sua mudança de rumo editorial (para o qual contribui muito a infeliz entrada de Martin Parr, sempre rejeitado pelo Cartier-Bresson, e com que razão!) estar a ser mais virada para vertentes subjectivas da reportagem. Embora o seu site inMotion seja de uma qualidade mais que avançada.
O festival mostrou até à exaustão as zonas mais desgraçadas do Mundo, e onde é mais fácil trabalhar do ponto de vista das facilidades legais, mas a Europa, o Japão,o chamado mundo industrial fica completamente esquecido. Só há injustiças no Oriente, em África, na América Latina, o resto não existe. Parece ser este o erro do festival, ou então a prova de que os fotojornalistas só estão obcecados com a pobreza e o grau zero da dignidade humana.
Este tendência pelo miserabilismo, embora hajam por aqui reportagens punjentes e de um humanismo transcendente, é a mesma que temos sentido no Prémio Visão de fotojornalismo, onde o júri é Leroy, e os amigos que ele tem arregimentado para julgar os fotógrafos portugueses.
Claro que isto é um pouco de provocação mas não deixa de ser verdade.
O pior erro pessoal que um fotógrafo pode cometer depois de sair daqui é julgar que isto é um exemplo da imprensa internacional e que em Portugal os jornais são todos de uma total insensibilidade a este tipo de temas e imagens. É possível e verdade que o sejam,mas também é verdade que a grande maioria destas reportagens não conseguem espaço na imprensa para serem publicadas. Mesmo fotógrafos como Eugene Richards não conseguem pura e simplesmente vender temas duros sobre os lados mais escondidos da sociedade.
O melhor que um fotógrafo pode levar daqui é que só é possível fazer reportagens de qualidade com empenho e muito trabalho, dedicação exclusiva, para no final não ter retorno em dinheiro mas apenas e só em total realização profissional. É tão duro como optar em ir viver para a Cartuxa em Évora.

PS: Consta que Leroy apesar de ter anulado a festa final (0nde há sempre champagne para os convidados) acabou por se reunir à porta fechada com um grupo restrito de amigos e de fazer a festa só com eles. Não há génios sem senão. E Leroy parece que está com o Visa a bater-lhe na cabeça bem forte !

Um fotojornalista a sério, a mota de Marie e DDD



fotos de Luiz Carvalho
O dia foi longo em Perpignan. E a noite apoteótica quando os amigos de Jean Francois-Leroy o surpreenderam no final da projecção noturna com um portfolio de muitos fotógrafos, com as fotos assinadas, uma prenda especial para quem há 20 anos anda a divulgar o melhor que há em fotografia de imprensa.
Mas o que mais me marcou foi a sessão de autógrafos de David Douglas Duncan. DDD assina cada autógrafo como se se tratasse de uma obra gráfica, muito inspirada no seu amigo Picasso e em Matisse. A bicha engrossava para todos terem a assinatura do mestre.
Para me ir deitar deixo aqui três imagens. Uma do grande DDD, outra de Sipahioglu embevecido a ver a fotógrafa Marie Dorigny a montar na sua mota, uma lindíssima Enfield 500.
Por fim a terceira imagem: um fotojornalista da Getty (de que não fixei o nome) no Iraque, em campo de guerra, a fotografar com uma Canon Eos1 D MarkIII e com uma câmara de vídeo Canon (claro, queriam que fosse uma Nikon de bimbos?) da última geração, mínima e que consegue superar a qualidade das topo de gama actuais. Um fotojornalista multimédia. Tomem lá e embrulhem !! Eheheheh!!!...

sexta-feira, setembro 05, 2008

Afinal o fotojornalismo está na moda

Sipagliou hoje à noite na sessão de projecção de fotoreportagens. (foto LC)
O que leva empresas de informação como o Paris-Match, Time, Elle, ou marcas como Apple, Canon ou Citroen a apoiarem um festival de fotojornalismo como o Visa Pour L`Image ? Estarão fora de moda, deram em perdulários ou têm administrações que gostam de fotografia nas horas vagas ?
E aqueles 4 mil espectadores de todas as idades, muitos jovens, vão todas as noites para um anfiteatro ao ar livre para verem apresentações multimédia de fotoreportagens porquê? Não têm mais nada que fazer, não há telenovelas em França, ou descobriram que ver fotografias num écran gigante é melhor do que ir ao cinema?
A verdade é que enquanto em Portugal parece estar a pegar uma estranha moda na imprensa de que a fotografia de reportagem já não interessa e que a infografia vai salvar a imprensa escrita ou de que a bonecada vende mais, por aqui os grandes jornais (como o Le Monde!) apostam muito na fotografia para contarem histórias de vida, testemunhos de uma época, olhares indiscretos e outros discretos, sobre uma sociedade em ebulição. Nós no nosso cantinho sem rasgo nem ambição preferimos o modismo em tudo. Estamos sempre à frente mas com uma retaguarda desguarnecida, escancarada aos ventos do oportunismo e da incompetência.
O volume de negócios feitos aqui neste festival de fotojornalismo, onde há uma espécie de FIL para a representação de agências grandes e pequenas, fazem-se contratos e vendem-se fotografias, reportagens e histórias.
O jornalismo é um negócio e o fotojornalismo tem um valor acrescentado enorme: qualquer director de jornal ou revista sabe que só chegará ao público se puder apresentar fotografias que possam contaminar com curiosidade e surpresa gráfica os leitores.
Mas se o fotojornalismo é um negócio também é cultura. E antes de ser negócio é na verdade uma cultura com História,mestres, escolas e referências. O património da Humanidade seria bem mais pobre sem esses testemunhos feitos ao longo dos últimos 150 anos.
Hoje ao cumprimentar Sipagliou o meu antigo "patrão" que fez SIPA e que hoje aos 83 anos entrou numa merecida reforma não pude deixar de me emocionar. Este homem chegou a Paris nos anos sessenta, fotografou o Maio de 68 (tem aqui uma excelente exposição sobre o tema), fez uma agência de renome, promoveu fotógrafos e manteve sempre uma humildade exemplar. Aos 25 anos telefonei para a SIPA e ele passadas horas recebeu-me e quando viu o meu portfolio sobre uma reunião da Internacional Socialista em Lisboa onde estavam o Comandante Zero, o Willy Brandt, o Gonzalez e muitos outros, decidiu convidar-me para ser correspondente da sua SIPA em Lisboa, onde o fui durante os anos de brasa da revolução. Tinha-lhe de lhe falar hoje. Tenho por ele uma eterna gratidão.

Gente do Visa Pour L`Image

João Carvalho Pina, fotógrafo da Kamera Photo, teve hoje à noite a honra de ver passadas duas fotografias suas sobre a Colombia na sessão ao ar livre. A viver em Buenos Aires voou aos saltos entre aeroportos para chegar ao Visa Pour L`Image. Numa das praças mais frequentadas por fotógrafos estava ele depois da consagração (!) a fumar cachimbo. A Kamera Photo tem o seu Burt Glinn!

quinta-feira, setembro 04, 2008

A morte de Fifi e os 20 anos do Visa Pour L`Image



Viveu a fotografar a morte dos outros, o sofrimento, as injustiças. Morreu hoje. Chamava-se Francoise Demulder e foi uma das fotojornalistas mais marcantes desde a Guerra do Vietname aos nossos dias. Fifi era assim que os amigos a tratavam e o "petit nom" nada tem de coquette pois a fotógrafa sempre se afirmou de uma coragem fisíca e determinação jornalística no campo de batalha de grande força.
Foi a primeira mulher a ganhar o World Press Photo, em 1976, com a fotografia em anexo, uma cena em que mostra as milicias falangistas em acção no Líbano e que acabou por ter um significado político muto relevante na época.
Francoise morreu na miséria num hospital de Paris onde estava internada desde Outubro passado.
Aqui em Perpignan, onde me encontro no Festival Visa Pour L`Image, que este ano faz 20 anos sempre com a direcção de Jean Francois-Leroy, já bem conhecido dos portugueses pela sua participação habitual no júri do Concurso Visão, houve um momento solene durante a sessão da noite em homenagem à fotojornalista. Passaram no grande écran, ao ar livre, algumas das suas fotografias mais célebres e foi referida a coragem e envolvimento nos conflitos onde fotografou. No Médio Oriente acabaria por se tornar amiga e confidente de Arafat.

O Festival revelou também hoje ao público aqui presente, mais de quatro mil visitantes entre fotógrafos profissionais, amadores e público fiel, a obra do Moçambicano Ricardo Rangel, um fotógrafo que entre os anos sessenta e setenta e cinco documentou com grande talento a sociedade moçambicana urbana no tempo do colonialismo português. Uma obra que já era conhecida, dispersa por várias publicações, e que hoje aqui foi dada a ver com grande pujança.

Até domingo Perpignan deve ser o lugar do Mundo com mais fotorepórteres por metro quadrado. E se as fotografias duras de carácter social são as mais vistas, por vezes até à exaustão, os fotojornalistas aqui presentes não parecem muito preocupados em fotografar nas ruas de Perpignan. Um suicida lançou-se de uma torre histórica para a praça onde os fotógrafos se reunem para conversar, e beber copos, e só dois deles entre centenas pegaram na câmara e foram fazer uma foto do acidente. E mesmo esses fizeram-no ao longe com algum recato.
Entre os fotógrafos mais conhecidos de sempre está David Douglas Duncan (DDD) o mítico fotógrafo da LIFE e amigo de Picasso a quem tirou algumas das fotos mais emblemáticas do pintor.

( também em WWW.expresso.pt)

terça-feira, setembro 02, 2008

Paulo Pedroso: a primeira vitória do Processo Casa Pia

José Sócrates que manteve um silêncio de Leite sobre as últimas semanas de violência em Portugal e que o justificou por ter falado quem devia ( e não ele!) não hesitou hoje em comentar o facto do seu camarada Paulo Pedroso ir ser indemnizado pelo Estado por ter estado em prisão preventiva, de forma irregular- segundo o Tribunal Cível.

Podia ter dado apenas uma resposta formal tipo " não me meto em decisões de juízes" (como deu) mas Sócrates (o Primeiro- Ministro) não resistiu a acrescentar que "imaginam como recebi a notícia", mesmo correndo o risco, como aconteceu algumas horas depois, o Ministério Público ter anunciado que vai contestar a decisão do Cível.
Para quem achava que não havia Justiça em Portugal a prova contrária aí está. Paulo Pedroso tem de certeza toda a razão do Mundo, na mesma medida em que temos de acreditar na Justiça (temos alternativa?) e pode sentir-se hoje um cidadão de primeira. Mesmo antes das vítimas da Casa Pia terem sido justiçadas, antes dos acusados no Processo terem sido julgados, Pedroso vê o Estado dar-lhe razão.
Não podemos ficar revoltados porque o Estado cumpriu. Hélas!! Mas podemos pensar no que sentirão aqueles cidadãos que andaram uma vida a pedir justiça contra o Estado e nunca tiveram uma palavra de conforto, um tostão de misericórdia. As vítimas da hemodiálise de Évora, as vítimas do sangue contaminado no reinado de Leonor Beleza, os espoliados da Caixa Económica Faelense, os pais das crianças mortas no Aquaparque, os contribuintes penhorados sem razão pelas finanças, as vítimas da estrada que o foram por má sinalização, falta de socorro...acho que o rol de cidadãos humilhados e ignorados pela justiça e pelo Estado não tem fim.

O cidadão Paulo Pedroso é pois um sortudo. E se hoje aparece na pele do cidadão exemplar, na vítima da justiça e da imprensa, no passado acabou por utilizar a Assembleia da República para se apresentar ao país, em directo pela TV, depois de ter sido libertado da cela da Penitenciária. Ninguém de boa memória poderá esquecer esse fim de tarde de circo. Se Pedroso fosse um funcionário público, um quadro de empresa, um vulgar cidadão, não teria usado o local de trabalho para fazer um regresso apoteótico. Portanto: Pedroso não é um cidadão qualquer e por muito cínicos que queiramos ser a verdade é que a justiça não é assim tão célere para todos.

Prevemos que se os arguidos do Processo Casa Pia ganharem vão também eles pedir uma choruda indemnização ao Estado. Está na cara. Com um bocado de azar, ou sorte, ainda metem atrás das grades os putos queixinhas que andaram a espalhar a mentira, a calúnia e a desgraça em cidadãos de bem. E nem o novo código penal, que se estivesse em vigor quando Pedroso foi preso este nunca o teria sido, poderá salvar a pele desses miúdos malcriados.